Lucas 16

Lucas 16

Em nome de Jesus. Amém.

Vidas incompletas! Quanta gente vive uma vida incompleta, mutilada,
destituída de um significado pleno e de plena realização.
Assim era o homem rico, de que Jesus fala no texto de Lucas 16.
Apesar da fina vestimenta, da comida de primeira qualidade e dos
muitos “amigos” que certamente o cercavam, faltava-lhe
algo que pudesse tornar sua vida plena. Se nos seus dias de vida
isso não lhe ficou evidente, graças a sua cegueira
natural, a morte lhe revelou que nem tudo ia bem. Estava no inferno,
lugar de sofrimento, de dor, de remorso.
Também a vida de Lázaro era incompleta. Na verdade,
aos olhos humanos, quem sabe “vida” nem seria o melhor
termo para designar uma tal triste existência. Miséria,
doença, abandono! Uma vida incompleta! Mas que, diferentemente
do homem rico da história, tinha em si já o germe
da plenitude de vida. O que seguiu-se ao seu fim terreno – a bendita
vida no paraíso – demonstrou que era passageira sua imperfeição.
Algo havia em comum naqueles dois homens, por mais diferentes que
tenham sido suas vidas neste mundo. Eram vidas incompletas. Porque
eram vidas que não traziam em si o que fora planejado no
princípio pelo Senhor da vida. O pecado trouxe conseqüências
terríveis para nossa vida. Não me refiro ao pecado
tão somente como o ato cometido por alguém, que lhe
traz conseqüências danosas imediatas (como o dirigir
embriagado, por exemplo, que leva alguém a um acidente fatal).
O pecado como situação na qual o ser humano está
por natureza coloca-nos a todos – “ricos” e “Lázaros”
– sob a situação de uma vida que carece da plenitude
do que Deus planejou.
A história do rico e de Lázaro mostra de maneira muito
evidente que o fim define o todo da vida! Em última análise,
Lázaro recebe a plenitude da vida, o que vem a demonstrar
que mesmo sua vida terrena, tão coberta de tristeza, tinha
uma perspectiva de plenitude. O homem rico, de vida aparentemente
abundante de alegrias, se revela vazia, pelo fim que veio a ter.
Mas o que é que fez toda a diferença para aqueles
dois homens? Seria resposta por demais simplista, e sem fundamentação
bíblica, aludir à riqueza de um e à pobreza
do outro. A postura pessoal em relação aos bens materiais,
sim, tem algo a dizer. E, por sua vez, tal postura está calcada
sobre uma visão de mundo e uma escala de valores.
Neste ponto é importante que lembremos o contexto em que
Lucas nos relata o episódio do rico e Lázaro. Pouco
antes, Jesus fora ridicularizado pelos fariseus que, observa Lucas,
“eram avarentos” (16.14). A história dos dois
homens, por isso, é um alerta contra uma visão de
mundo que supervaloriza os bens e ignora o bem maior. Mas a mesma
história traz consigo uma palavra de chamamento a repensar
o caminho e a arrepender-se.
O rico chegou a sugerir uma maneira de livrar seus irmãos
daquele lugar terrível. Se um morto ressuscitasse – o próprio
Lázaro – eles certamente teriam de repensar suas vidas. Ao
que Abraão responde: Não, mesmo que um morto ressuscite,
eles não crerão, pois o caminho é outro. A
propósito, quando um outro Lázaro veio a ser ressuscitado
por Jesus, conforme nos relata João, nem mesmo este ato impressionante
fez com que os adversários de Cristo repensassem seus conceitos.
Na verdade, aquela situação levou-os a planejar com
mais detalhe como o matariam (Jo 11.47ss).
Mas há uma palavra de esperança: eles têm Moisés
e os profetas, diz Abraão. Trata-se do Antigo Testamento,
a palavra revelada de Deus. Ali Ele manifesta sua vontade, seu propósito
e o caminho para que as pessoas cheguem à vida plena.
O nosso tempo traz um quadro que não difere em muito daquele
visto no tempo de Jesus, particularmente na história do rico
e Lázaro. Ainda hoje, as aparências enganam. Há
muitas vidas esfaceladas, incompletas, mas que se escondem por detrás
de sucesso e riqueza. Um dia as máscaras cairão. O
fim de todas as coisas demonstrará a fragmentação
em que se encontram as vidas de muita gente. O fim revelará
que viver distante do Deus de amor, perdão e vida é
viver na morte. Por outro lado, o fim trará consigo surpresas,
como foi com o caso de Lázaro. E o fim, como dissemos, trará
a mais completa avaliação sobre o todo da vida.
Poderíamos perguntar, então, se é o fim – na
morte e no julgamento – que dirá se há algo de realmente
bom na vida presente, como pode alguém ter alguma esperança?
Há como saber o fim, antes que ele ocorra? A resposta é
que o Deus que ressuscita mortos já fez o fim ser antecipado!
Em Jesus o juízo que ainda virá manifestou-se antes
do tempo. Por um lado, como um juízo aterrador, para o próprio
Jesus, que sofreu as dores que o rico agora sofria. Sendo desamparado
pelo Pai na cruz (Mt 27.46), suportou as dores do inferno, da condenação
ao pecado de toda a humanidade, que Ele estava carregando sobre
si. Mas este julgamento antecipado significa redenção
para a humanidade e esperança para o futuro. Pois Deus, em
Cristo, estava reconciliando consigo mesmo o mundo inteiro. Para
os que estão em Cristo, portanto, o fim é conhecido!
Em Jesus, a graça de Deus se manifestou salvadora para todas
as pessoas. Por isso, como mostra o apóstolo, podemos viver
de maneira a renegar as paixões mundanas e aguardar com alegria
a manifestação final de Cristo (Tt 2.11-14). É
esta graça de Deus que veio a trazer esperança a Lázaro,
através de “Moisés e os profetas”.
Você e eu vivemos vidas ainda incompletas. Não há
como negar: temos necessidades materiais, emotivas, espirituais.
Ainda vemos e conhecemos as coisas “em parte” (1 Co
13.12). Mas sobre nós também brilha a graça
de Deus, em Cristo, de maneira salvadora e plena de sentido. Por
meio da sua doce palavra da salvação recebemos o conforto
de que nossas vidas estão reservadas para uma herança
que não se corrompe e que somos guardados pelo poder do próprio
Deus para aquilo que já nos está preparado (1 Pe 1.3-5).

Talvez até que gostaríamos que um morto ressuscitasse
para nos contar como é estar com Deus, na plenitude da bênção.
Mas esperar tal coisa é andar na contramão do que
Deus nos promete. Convém ouvir o que Abraão, que lá
está, já nos diz: Vocês têm Moisés
e os profetas, os evangelistas e os apóstolos – sim, vocês
têm a palavra revelada de Deus. Ouçam o que ela diz!
É por aí que vidas ainda marcadas pela imperfeição
recebem a esperança da plenitude. Sobre esta palavra vale
a pena viver e depositar toda a esperança. Amém.

 

Gerson Luis Linden
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
São Leopoldo, RS
linden@ulbranet.com.br

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