Nada nos pertence

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Nada nos pertence

PRÉDICA PARA O 24º DOMINGO APÓS PENTECOSTES – 15 de novembro de 2020 | Texto bíblico: Mateus 25.14-30 | Danilo Kammers |

Nada nos pertence

Querida Comunidade, amigos e amigas, irmãs e irmãos que leem esta mensagem, o Espírito Santo não está em “lockdown”, porque não há restrições para a sua ação.

Oramos pedindo que a presença de Jesus entre nós nos oriente no meditar da sua Palavra. Amém.

Talvez você conheça alguém curioso que já se aventurou no mercado financeiro. Alguém que tinha uns trocados e resolveu aplicar em algum fundo de investimento ou apenas buscou informações sobre o assunto. É indiferente onde cada pessoa aplica seu dinheiro, todas buscam por rendimento/lucro, porque querem ter mais, nunca estarão totalmente satisfeitas.

Há quem por insegurança, por possíveis crises financeiras, ainda esconde dinheiro embaixo do colchão. E ainda, quem busca burlar a lei e esconde dinheiro de origem duvidosa dentro da própria cueca.

A ganância humana pode ser simultaneamente invejável e vergonhosa.

A Palavra de Deus vem de encontro a ti e a mim no dia de hoje para nos falar de maneira bastante particular sobre a ousadia humana.

[Leitura do texto Mateus 25.14-30]

O texto que lemos é uma Parábola contada por Jesus. Por conhecer os anseios do coração humano Jesus falava, sobre a vontade e o Reino de Deus, por meio de histórias repletas de imagens e símbolos do cotidiano das pessoas. Desta forma o Reino era um pouco mais compreensível aos seus ouvintes. Esta é uma primeira recordação que podemos ter aos lermos este texto: o Reino é muito mais do que podemos imaginar, esperar ou compreender.

Mesmo sendo mais do poderíamos imaginar, nos contentamos com o que nos é revelado na Parábola que ouvimos/lemos.

O texto de Mateus 25.14-30 não quer nos ensinar sobre investimentos financeiros, aplicações ousadas e rentáveis. Também não nos responde se uma herança deve ser guardada ou investida. Mas então, sobre o que nos fala a Parábola dos Talentos?

A história contata por Jesus fala sobre o Reino de Deus.

Vejamos alguns detalhes desta história:

  1. Ninguém tinha nada: o texto nos fala de três empregados que receberam do seu patrão algum recurso que não lhes pertencia, mas lhes foi confiado (v.14). Monetariamente traduzindo, cada talento (unidade monetária grega) representava 6 mil denários e 1 denário era o mesmo que um dia de trabalho. Tendo em vista o salário mínimo brasileiro, 8 talentos corresponderiam a pouco mais de 1 milhão e 600 mil reais, distribuídos entre três pessoas em proporções diferentes, conforme a capacidade de cada um (v.15). Toda essa fortuna pertencia a alguém.

E nós? O que nós recebemos de nosso “patrão” celeste?

Os talentos confiados por Deus a cada um de nós não são tão provisórios quanto 1 milhão de reais, um bilhete premiado de loteria.

Você e eu podemos cantar juntos “nada nos pertence tudo Deus que dar” (HPD 166/ LCI 564)! Declararmos  que nosso Senhor nos confia muitas coisas diariamente, “tesouros” que não conquistamos por nossa própria capacidade ou força (Dt 8.17), mas nos foram dados como dádivas de Deus: a vida; a Salvação e a Criação. Nada disso pode ser negociado, comprado ou vendido!

  1. Todos receberam: o patrão se despede e confia seus bens aos seus empregados (v.14-18). A despedida não é para sempre, o padrão voltará! Na sua ausência dá grandes responsabilidades aos seus empregados. Ele os conhece, sabe de suas capacidades.

O que fazemos com tudo o que recebemos de Deus?

A mensagem de Vida Eterna e Ressurreição que foi confiada aos discípulos de Jesus Cristo (Mt 28. 18-20) como um precioso tesouro, não é para ficar escondida ou sepultada em nossas consciências e corações.

Nada, absolutamente nada, do que recebemos de Deus nos foi confiado para a nossa própria e mesquinha satisfação. Nossa falta de generosidade nos denuncia quanto a isso!

  1. O Senhor voltou: “depois de muito tempo o senhor voltou” (v.19). A volta do patrão era esperada, mas não estava marcada. Sua ausência era temporária, por isso aparece e convoca a todos para uma “prestação de contas”.

O nosso Senhor Jesus Cristo voltará! O Advento do seu Reino é vivido e esperado desde já, mas infelizmente não de maneira completa. Não é advento de um bebê que nasce no Natal, mas de um Salvador que subiu aos céus e voltará para “julgar vivos e mortos” (2Tm 4.1).

Quando eu era criança, tinha algumas responsabilidades para cumprir na ausência de meus pais. Lavar a louça era uma delas. Eu sabia que minha mãe voltava às 16:30, e por saber disso desligava a TV e corria para a pia às 16:27. Entretanto, nem sempre eu conseguia cumprir com o esperado em 3 minutos, e quando conseguia deixava a desejar.

Jesus Cristo não marcou hora, mas nos deu responsabilidades! Que o encontro com Ele seja de alegria para todas as pessoas que o servem.

  1. Quem ousou foi reconhecido: a prestação de contas encheu o patrão de orgulho, porque realmente conhecia a capacidade daqueles aos quais confiou mais bens. Estes foram ousados e duplicaram tudo o que haviam recebido. Aparentemente o padrão não pede os bens de volta, apenas quer saber o que cada um fez na sua ausência. Até mesmo porque o padrão não precisa pedir de volta, afinal nada nunca deixou de ser dele.

Este texto não nos fala de investimentos financeiros ou ousadia no mercado de ações. Não é sobre “bens materiais”, motivo de divergência entre famílias, casais ou amigos. É sobre confiança!

O relatório positivo dado por cada empregado é recompensado pela alegria de estar na presença do seu senhor (v.21; v.23).

  1. O medo paralisa: um dos empregados não ousou, porque teve grande medo do seu patrão. Talvez temeu algum castigo, e por isso, enterrou o que recebeu. O empregado/servo sabia que seu senhor era exigente, não admitiria erros, sabia que seu “padrão de qualidade” era elevado e que não gostaria de uma coisa feita de qualquer jeito. Isso ocupou tanto a sua mente que o paralisou, não fez nada com o que lhe foi confiado.

As pernas tremem quando estamos diante de algo que consideramos grandioso demais. A relação entre servo e senhor é uma relação de exigências e expectativas. O terceiro homem desta parábola foi o que menos recebeu, porque já era conhecido pelo seu senhor. Não se poderia confiar muito a ele e estar a mercê de sua insegurança e medo.

Se esta história contada por Jesus fala sobre o Reino de Deus, o que ela fala para nós?

– de que o Reino não é nosso, o Reino é de Deus.

– de que tudo o que temos e somos é dado por Deus.

– de que Jesus Cristo é o Senhor que voltará para nos encontrar, mas não marcou dia ou hora para este encontro. Portanto, que tu e eu tenhamos uma agenda disponível para Ele.

– de que não somos menos amados por Deus por sermos “servos inúteis” ou mais amados por sermos “bons”. Somos amados e por isso somos chamados servos. A “inutilidade” está na possível apatia diante daquilo que Deus nos confia. Não faz sentido ser um servo que não serve!

Você e eu não somos apenas os “servos bons” que merecem recompensa por serem o que o Deus espera de nós. Nós também não somos apenas os “medrosos” e “inseguros” que enterram os seus talentos, guardando para si o que deveriam multiplicar. O que nos distingue em muitos momentos entre um e outro é a profunda confiança que temos no Senhor, Dono de nossa vida. Confiança que nos faz multiplicar, confiança que nos faz pedir perdão pela negligência no serviço, confiança em sua graça, amor e perdão. Confiança em sua presença que nos torna de pessoas medrosas em “servos bons e úteis” para servirmos uns aos outros (1Pe 4.10) e fazermos circular a mensagem do Seu Reino.

Sirva ousadamente ao Senhor com tudo o que tens e és!

“Pelos dons que deste: Graças, ó Senhor!
Pois os recebemos por teu grande amor.

Nada nos pertence; tudo Deus quer dar:
Quer por nós em Cristo o mundo abençoar”.

Amém

 

P. Danilo Kammers

Pomerode – Santa Catarina, Brasilien

danilokammers@hotmail.com

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