Isaías 56.1,6-8

Isaías 56.1,6-8

PRÉDICA PARA O 12º DOMINGO APÓS PENTECOSTES | 20 DE AGOSTO DE 2023 | Isaías 56. 1, 6-8 | Harald Malschitzky |

Irmãs e irmãos em Cristo.

O ser humano é gregário, isto é, ele quer e precisa viver em companhia de outros, seja na família, na vizinhança, no lugar onde mora, na igreja. Ao mesmo tempo ele tem dificuldade de aceitar o outro. Temos pais que tentam prescrever o perfil de quem vai casar com seus filhos, principalmente  com suas filhas, nem sempre as relações com vizinhos são as melhores, evitamos nos envolver com o que acontece onde moramos, e o relacionamento na igreja e em comunidades está muito distante do amor e da solidariedade que se prega e proclama. Nessa caminhada são criados muros imaginários e verdadeiros, em forma de leis e preceitos, que quase sempre são feitos para rejeitar o outro. Podem ser leis de pureza, de linhagem, de nacionalidade, de religião, de idioma… Um exemplo bem doméstico e pessoal: Minha mãe (setenta anos atrás) achava que esposa de pastor tinha que OBRIGATORIAMENTE falar alemão. E o filho dela, futuro pastor, foi se encantar e casar com  uma moça que não falava – e não fala – alemão! De onde ela tirou essa conclusão? Criada na roça onde a “língua oficial” em casa era alemão, trabalhou alguns anos em casa de uma família pastoral alemã! O problema não é esse, mas sim o fato de ela querer passar a receita para os filhos, uma receita excludente! A nossa Igreja Luterana inicialmente só podia viver à margem aqui no Brasil – não ter templos, não ter reconhecidos os casamentos que celebrava, não poder usar  os cemitérios públicos, ter problemas com a língua. Com o advento da república as coisas mudariam e muitas comunidades aplicaram preceitos de exclusão: Cultos e celebrações só em alemão, o critério velado da descendência alemã, enormes preconceitos em relação a outras etnias que já estavam aqui muito antes da imigração alemã, mormente contra indígenas, cemitérios exclusivamente para “sócios” – até hoje em muitos lugares é assim! A lista de exemplos é interminável.

O povo de Israel já era cioso de sua descendência e de suas raízes como povo de Deus.  Mas no seu meio existiam grupos ou escolas que não morriam de simpatia uns pelos outros. O texto bíblico proposto para a reflexão de hoje parece que vai derrubando os muros, as exclusões, os preconceitos. Ouçamos texto de Isaías 56. 1, 6-8, passagem escrita mais ou menos 600 anos antes de Cristo. Ele começa sublinhando que o Senhor fala ao seu povo e critério é seguir a justiça e fazer o que é direito, leia-se, da vontade de Deus. Equiparados, porém, estão os estrangeiros, os outros, desde que obedeçam às leis e fiquem fieis à aliança com Deus; eles também serão reunidos no monte santo, em torno do templo de Jerusalém.

Jesus em todas as suas falas e críticas, seguirá essa máxima. Aliás, no evangelho de hoje sobre a mulher samaritana até parece que ele mesmo precisa ser convencido de que uma estrangeira tem o mesmo lugar das do rebanho restrito. Em suas andanças, Jesus foi desmascarando os muros de exclusão principalmente dos fariseus. Quanto à lei da pureza ele diz que mais importante do que o que entra pela boa, são as palavras que dela saem; ele desfaz o argumento da filiação qualificada de Deus, dizendo que Deus – se quiser filhos – poderá gerá-los das pedras; não se reconhece o crente autêntico pela repetição de palavras sagradas, mas pela realização da vontade de Deus. Jesus curava doentes excluídos da sociedade e os devolvia ao convívio social; ele conversa com uma  samaritana junto ao poço, coisa abominada pela “ortodoxia” judaica; ele aceita o gesto de uma mulher que o unge com perfume, o que gerou críticas na hora e ainda gera dúvidas na cabeça de cristãos fundamentalistas.

São exemplos colhidos no cenário do dia-a-dia da vida  concreta, dessa vida que tantas vezes é aprisionada nos muros de nossos preconceitos e leituras unilaterais. O norte, o fio condutor é o amor e a fidelidade imensuráveis de Deus para com seu povo e sua criação e a consequente vida pautada por sua vontade que se expressa no dia-a-dia no mundo em que vivemos. É fácil? Nem sempre; é mais fácil caminhar com a massa do senso comum. O senso comum, entretanto, facilmente contradiz a vontade de Deus que quer dignidade e vida digna para todos. Trecho de um poema de Dietrich Bonhoeffer o expressa assim:

Deus busca todas as pessoas na sua necessidade, satisfaz e corpo e a alma com seu pão, sofre por cristãos e pagãos a morte na cruz e a ambos concede perdão.

Deixemo-nos guiar pelo amor sem fronteiras de Deus. Sigamos Jesus derrubando fronteiras discriminatórias; peçamos pela força do Espírito de Deus para tornar concreto o seu propósito. Amém

P.em. Harald Malschitzky

São Leopoldo – Rio Grande do Sul (Brasilien)

harald.malschitzky@gmail.com

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