Lucas 18.9-14

Lucas 18.9-14

PRÉDICA PARA O 20º DOMINGO APÓS PENTECOSTES | 23 de outubro de 2022 | Lucas 18.9-14 | Antonio Carlos de Oliveira |

Texto bíblico: Lucas 18.9-14

Jesus nos ensina a orar com humildade

Antonio Carlos Oliveira e

Gabriel Henrique de Oliveira Pinto

 Graça e paz da parte de Deus a todos e todas nós que ouvimos e anunciamos a sua palavra que é luz para as nossas vidas. Amém

Querida comunidade! O texto bíblico previsto para a pregação deste 20º domingo após pentecostes, que encontramos em Lucas 18.9-14, oferece uma reflexão importante a respeito da prática da oração com humildade. Estamos na proximidade da celebração dos 505 anos da Reforma Luterana. Vale destacar que o tema da humildade, no que se refere à relação da pessoa humana com Deus, é assunto central na doutrina luterana. Como lemos no comentário de Lutero ao magnificat “… Deus é aquele que está no mais alto e nada existe acima dele, ele não pode olhar para além de si. Também não pode olhar para os lados, porque ninguém é igual a ele. Por isso precisa olhar fatalmente para si mesmo e para baixo. Quanto mais baixo alguém está, tanto melhor Deus o enxerga.” (O louvor de Maria. Editora Sinodal, 1999, p.13).

 Na parábola Jesus fala que dois homens de diferentes segmentos da sociedade se dirigem até o templo para orar. O fariseu que do ponto de vista religioso e social é bem visto por suas obras, não vai para casa justificado. Por sua vez, o publicano, cobrador de impostos, que é mau visto pela sociedade e também pela religião, vai embora justificado. Os fatores que a sociedade, a religião e os próprios personagens usam como critério de superioridade religiosa ou espiritual não reflete nos critérios que Deus usa para a justificação.

As orações do fariseu e do publicano expressam como eles se sentem e como se julgam em relação a Deus. O fariseu agradece a Deus por não ser como as outras pessoas, por se considerar melhor que elas. Para ele as outras pessoas são ladras, injustas e adúlteras, entre as “piores pessoas” ele menciona o publicano com desprezo. Ao seu modo de ver a justificação, o fariseu acredita fielmente que suas boas obras e ações religiosas lhe garantem méritos com Deus, ele inclusive pontua as práticas exteriores e espirituais em sua oração. Por isso, chega a apontar para as outras pessoas, se julgando espiritualmente superior, mesmo que tenha pecados encobertos no interior, pela prática externa da religião. O fariseu confiava em si mesmo e até orava de si para si mesmo, evidenciando, que ele não se mostrava confiante na graça e na justificação de Deus, mas nos seus próprios méritos (v.11). No extremo oposto, o publicano orou reconhecendo seus erros, de uma forma tão profunda e com tamanha demonstração de arrependimento, que sequer levantava os olhos ao céu, batendo no peito (tristeza extrema) e clamando por seus pecados, ou seja, demonstrava isso também fisicamente. Provavelmente, se sentia inferior às outras pessoas na religião e na vivência de sua espiritualidade (orava de longe) das demais pessoas no templo. Seu único pedido é como uma súplica pela misericórdia de Deus, como demonstra sua oração (v. 13).

A conclusão da parábola é que o publicano foi para sua casa justificado por Deus e o fariseu não (v. 14a). O motivo dado é de que todo aquele que se exalta (o fariseu que confiou sua justificação em si mesmo, e não demonstrou nenhuma necessidade de Deus) será humilhado; mas o que se humilha (o publicano, ao reconhecer seus pecados perante Deus em oração e demonstrar que confia sua justificação na misericórdia de Deus) será exaltado (v. 14b). Na carta aos Filipenses, o apóstolo Paulo, se descreve nas duas situações. Como fariseu, quanto à justiça que há na lei, era irrepreensível (Filipenses 3.5-6). Mas, para ser achado em Cristo, ele admite não ter mais justiça própria que proceda da lei, senão a justiça que procede de Deus, baseada na fé (Filipenses 3.7-9). Portanto, a passagem de Lucas está muito próxima ao pensamento paulino da justificação por graça e fé.

A temática da oração recebe de Jesus uma atenção especial, sendo refletida e recomendada em muitas passagens dos Evangelhos. De modo especial Lucas se dedica ao tema da oração dando grande importância a uma comunicação efetiva e afetiva com Deus. O próprio Jesus é apresentado como uma pessoa orante e que estimula seus seguidores e suas seguidoras a ter na oração uma de suas atividades principais. Pois algo fundamental para o seguimento de Jesus é a prática constante da comunicação com Deus.

Lucas nos leva a compreender que o ato da oração é uma forma de comunicação onde o mais importante é falar com sinceridade e humildade, expressar os sentimentos como confiança e fé, ou seja, abrir o coração para Deus na certeza de que Ele ouve e acolhe. No entendimento judeu o coração é o centro da vida, local das opções fundamentais e das decisões (Lucas 6.45). Portanto, uma oração para ser verdadeira precisa vir do coração, do concreto da vida, tratar do que é importante e impactante, daquilo que mobiliza nossos pensamentos e ações. A oração verdadeira deve nos levar ao coração da vida, nos fazer ouvir do que o coração está cheio.

Na sociedade em que vivemos se valoriza os méritos. Ou seja, se considera uma pessoa melhor ou mais importante devido ao cargo que ela ocupa, sua profissão, formação, títulos acadêmicos, conta bancária e as suas propriedades. Tudo isso, que uma pessoa ostenta a leva a ser considerada pelas demais pessoas como uma pessoa importante, bem sucedida. Em outras palavras, “abençoada por Deus”. Esse era também o caso do fariseu que, como demonstra sua fala arrogante,  se considerava melhor que as outras pessoas.

Mas, na visão de Jesus, esse comportamento não tem sentido algum. Não importa quem é a pessoa, seus status ou o lugar que ela ocupa na sociedade. Deus não liga para aparências, títulos ou posses. Deus busca apenas corações sinceros, arrependimento e a mudança de atitudes erradas. Conforme Hebreus 10.22 “aproximemo-nos com um coração sincero, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência e o corpo lavado com água pura”.

Jesus ensina que, diante de Deus, ao orarmos, é preciso ter sinceridade e humildade. Se colocar humildemente diante de Deus, sem auto elogios ou se comparando a outras pessoas. Na relação com Deus, seremos sempre “pobres”, pessoas necessitadas de seu perdão. Pois, nada que tenhamos ou façamos é capaz de comprar as benesses e as misericórdias de Deus. Sendo humildes somos o que realmente somos, estaremos em nosso lugar e Deus estará no lugar dele.

Ao destacar a atitude do publicano Jesus aponta para a correta relação com Deus. Na “justificação por graça e fé” entendemos que, diante de Deus, não somos pessoas justificadas por méritos ou boas obras, mas unicamente recebemos a justificação pela infinita graça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo. O publicano não exige ser justificado, ele apenas expressa o profundo arrependimento que sente em seu coração, batendo no peito, entregando suas incoerências ao único que pode lhe perdoar. Talvez existam na vida desse publicano aspectos positivos, que poderiam ser lembrados por ele, mas isso não vem ao caso. Diante de Deus ele é apenas um humilde pecador. O texto seguinte, Lucas 18.15-17, exemplifica essa relação com Deus. No v. 17 lemos: “… Quem não receber o Reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma entrará nele.” Uma criança não pode ressaltar seus méritos ou se auto justificar com suas boas ações. Ela é totalmente dependente daquele que a pode cuidar, abençoar e salvar.

“Você sabe com quem você está falando?” Essa expressão é usada quando alguém quer dar um “carteiraço” e mostrar que se trata de alguém importante, não se tratando de uma pessoa qualquer. Assim na base do “carteiraço” às vezes se consegue o que se quer, passar na frente, receber primeiro, se livrar de um multa. O fariseu, no texto citado, quer dar um “carteiraço” em Deus. Ele enumera para Deus seus méritos e boas ações para provar que é muito melhor que as outras pessoas, inclusive, que aquele publicano ao seu lado. Não se sabe exatamente o que esse fariseu quer, pois sua oração é apenas auto engrandecimento diante de Deus. Talvez esse seja justamente seu problema, sua arrogância pode camuflar sua baixa auto estima e o fato dele sentir em seu íntimo justamente o oposto, sua insignificância. Ele não pede nada, mas precisa que Deus o considere mais importante que as outras pessoas.

Também podemos entender que nós somos uma mistura de fariseu e publicano. Nossos comportamentos diante de Deus contém, muitas vezes, entre esses dois lados, sendo uma falsa humildade. Isso porque, ao reconhecer a culpa e pedir perdão a Deus já nos consideramos melhor que outros infiéis que não buscam a misericórdia divina. Ao orar agradecemos por tudo de bom que recebemos de Deus e com isso rebaixamos as outras pessoas que não receberam o mesmo. Ao contribuir com a igreja pensamos em outras pessoas que poderiam ajudar e não o fazem.

Portanto, orar de maneira humildade, significa primeiramente, abrir o coração e desnudar-se de suas aparências diante de Deus. É preciso ser igual a uma criança que estende os braços e confia, que aninha-se no colo de Jesus para ser abençoada, que chora quando sente vontade, que fala com sinceridade onde dói, onde pesa a consciência, onde não consegue melhorar. Dentro da palavra coração está a palavra oração (mostre um cartaz com a palavra coração). Isso significa que Deus acolhe a oração que vem do coração. Deus em seu amor e sua misericórdia perdoa a quem com sinceridade e coração arrependido lhe confessa seus e pecados. Deus também dá forças para que possamos corrigir nossos erros e reparar o mal que praticamos. Assim, para as pessoas que “abrem seu coração para Deus”, por ordem de Jesus Cristo, recebem de Deus o perdão.

Que Deus nos ajude a orar com humildade e que nosso coração receba a bênção de Deus, sua misericórdia e sua graça. Que Deus em seu amor nos guarde hoje e sempre. Amém!

Antonio Carlos de Oliveira

São Leopoldo – Rio Grande do Sul (Brasilien

antonio.ieclb@gmail.com

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