Mateus 21.1-11

Mateus 21.1-11

PRÉDICA PARA O DOMINGO DE RAMOS | 2 DE ABRIL DE 2023 | Texto bíblico: Mateus 21.1-11 | Nilo Christmann |

         Estimados irmãos e estimadas irmãs!

         Que a graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus, o Pai, e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos nós.

         “Saiu melhor que a encomenda!” Esse é um ditado bastante conhecido. É usado em situações em que algo saiu bem melhor do que a gente poderia imaginar: uma pessoa colocada em posição de liderança na comunidade surpreendeu positivamente; um produto que compramos mostrou-se bem acima da expectativa; e por aí vai. De alguma forma, o ditado também se aplica ao texto previsto para a pregação neste Domingo de Ramos.

         Jerusalém se preparava para a os festejos da Páscoa judaica. Tratava-se da celebração comemorativa da libertação do povo de Israel da escravidão no Egito. Esse é o momento que Jesus escolhe para entrar na cidade que era o centro político, administrativo e religioso. Ali estava o templo imponente. Ali residia o sumo-sacerdote Caifás, maior autoridade religiosa da época. Ali era a sede do governador do Império Romano, Pôncio Pilatos.

         Os dias que antecediam a Páscoa eram marcados pela afluência de romeiros vindos de todos os lados. Podemos imaginar o agito e o movimento que se estabelecia. A entrada de Jesus ocorre quando faltava uma semana para o grande dia da Páscoa. Jesus está acompanhado por uma multidão. Em boa medida, a entrada é digna de um rei: muita gente em volta da pessoa mais importante, capas e galhos de árvore colocados no percurso, cânticos e a aclamação: “Hosana ao Filho de Davi; bendito aquele que vem em nome do Senhor” (v. 9). A expectativa poderia ser comparada em nosso tempo àquela pessoa importante que esperamos que venho num carro preto, a ser recebida no tapete vermelho, ao agito de bandeirolas e lenços. “Lá vem homem”, se diria. Já os mais entusiasmados diriam: “Esse é o cara”!

         Contudo, olhando mais detalhadamente para o texto já vai ficando claro que naquela entrada, por vezes chamada de triunfal, há algo diferente. Não faz muito sentido que um pretendente a rei venha montado num jumento emprestado. O equivalente ao carro preto seria no mínimo um belo cavalo, símbolo de força. Além disso, onde estão a espada e o armamento? No lugar da pompa, a simplicidade. É como se em nosso tempo a pessoa importante que se espera viesse com uma bicicleta velha, roupas básicas e, talvez, calçando um tênis batido e empoeirado.

         Mesmo assim, diante dos problemas de toda ordem que as pessoas enfrentavam, nesse Jesus depositavam a sua esperança. Muitos tinham visto os sinais e milagres ou deles tinham ouvido falar. Outros, que apenas se aglomeram junto à multidão, perguntavam curiosos: “Quem é ele?”. A resposta denotava convicção: “É o profeta Jesus, de Nazaré,  da Galileia”.

         Mas, afinal, o que as pessoas que ali estavam esperavam de um rei? Ainda que houvesse variação nas expectativas, predominava a esperança por um líder, um enviado por Deus, que à semelhança de Davi derrotasse os inimigos (os romanos!) e trouxesse um tempo de paz e prosperidade para o povo de Israel.

         Estimado leitor e estimada leitora!

         Estamos iniciando a Semana da Paixão. Hoje todos sabemos onde o rei que montava um jumentinho foi parar nos dias seguintes. E, mesmo assim ou justamente por isso, podemos afirmar que esse rei “saiu melhor do que a encomenda”. Por que?

  1. Porque, à semelhança do que ocorre em nosso tempo, as pessoas daquela época ansiavam por alguém que resolvesse os seus problemas mais imediatos. No entanto, veio um Rei para resolver os problemas em definitivo. Nas palavras dele próprio: “Eu vim para que tenham vida, e vida em abundância” (Jo 10.10).
  2. Porque as pessoas esperavam um rei que pelo uso da força derrotasse os inimigos. Já o Rei Jesus veio para vencer o maior inimigo, a morte. Veio para levar o amor ao extremo, conjugando-o com o perdão e a paz. Nas palavras dele próprio, dirigidas aos seus algozes: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc 23.34).
  3. Porque as pessoas esperavam por alguém amasse os que o apoiavam e destruísse os demais. Esse Rei, no entanto, veio para confirmar a vontade do Pai quer que todas as pessoas sejam salvas e cheguem ao pleno conhecimento da verdade (1 Tm 2.4).

Sim, o Rei Jesus, o Profeta Jesus, de Nazaré da Galileia, saiu melhor que a encomenda. E, nós, o que esperamos do Rei Jesus? Talvez também gostaríamos que os nossos problemas mais imediatos fossem resolvidos: a cura de alguma doença, a prosperidade no lugar do desemprego e das dívidas, o fim das mazelas sociais… O alento que do Rei Jesus é mais realista e profundo: “No mundo passais por aflições, mas tenham bom ânimo, eu venci o mundo” (Jo 16.33).

Aquele que entrou em Jerusalém montado num jumentinho é o mesmo que nasceu na estrebaria de Belém e o mesmo que, conforme lembraremos nesta semana, será morto na cruz. É o Filho de Deus que escandaliza pela humildade, pela obediência e pelo servir levado às últimas consequências. É um Rei que sofreu em nosso lugar, que compreende as nossas dores, que ama todas as pessoas por igual. É um Rei que fez e faz por nós muito mais do que poderíamos esperar. É um Rei que nos chama para o convívio, o perdão, a justiça e a paz.

Esse é o Rei que somos convidados a aclamar: “Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor!”. A ele sejam toda a honra e toda a glória.

Amém.

 Nilo Orlando Christmann

Blumenau – Santa Catarina (Brasilien)

niloch@uol.com.br

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