Mateus 22.15-22

Mateus 22.15-22

PRÉDICA PARA O 21º DOMINGO APÓS PENTECOSTES | 22 de outubro de 2023 | Mateus 22.15-22 | João Artur Müller da Silva |

Estimadas irmãs e irmãos da comunidade de Jesus Cristo, nosso Senhor!

Quem não precisa de dinheiro? Essa pergunta mexe com todos nós. Afinal, quem não precisa de dinheiro para as despesas cotidianas? Para pagar água, luz, gás e o pãozinho de cada dia?

Mas se pararmos para pensar, vamos perceber que a busca por dinheiro pode nos colocar diante de armadilhas, de atitudes desonestas e de má aplicação do dinheiro tanto na vida privada, pessoal, como na vida pública!

Assim como existem armadilhas preparadas pela economia de cada dia, assim como pessoas inescrupulosas preparam ciladas para nos enganar e para sacar nosso dinheiro, assim é a situação narrada pelo evangelista Mateus e que ouvimos minutos atrás.

Os fariseus orientaram seus discípulos e combinaram com os herodianos um plano para comprometer Jesus. O plano foi bem armado, foi uma armadilha, como outras preparadas para pegar Jesus em contradição ou para acusá-lo de alguma blasfêmia. Fazia parte desta cilada a dissimulação e a hipocrisia dos autores! Ao abordarem Jesus, tecem elogios e reconhecem que ele é “verdadeiro”, que ele ensina “o caminho de Deus”, que ele não se importa “com a opinião dos outros” que, finalmente, Jesus não  “olha para a aparência das pessoas”.

A armadilha arquitetada pelos fariseus e colocada em prática por seus discípulos e por alguns herodianos está apoiada na sedução e na persuasão por eles reconhecerem Jesus com todas as atribuições e qualidades descritas no começo da sua fala! Seu discurso é falso, hipócrita e recheado de intentos enganosos para pegar Jesus numa cilada! No entanto, Jesus ao ouvir o reconhecimento e os elogios destes homens que se aproximaram dele para uma conversa, não se iludiu e nem se sentiu lisonjeado com as declarações ouvidas por ele. Bem que Jesus poderia ter se iludido com essas declarações aduladoras! Mas não, ele entendeu o rumo da prosa que estava tendo com estes homens!

Sabemos da pesquisa histórico-bíblica que os fariseus e os herodianos eram grupos diferentes no tempo de Jesus, tempo esse, marcado pela dominação romana na Galileia, na Judeia e na região onde o cristianismo teve o seu início. Fariseus e herodianos eram grupos diferenciados e pensavam de modo diferente sobre a dominação dos romanos em sua terra.  Sabemos que os fariseus eram um grupo formado por homens de poucas posses, mas que não se opunham à presença e dominação dos romanos em sua terra. Já os herodianos eram um grupo de homens que pertenciam à nobreza da época e apoiavam o regime romano. Mas ambos os grupos não simpatizavam com o movimento de Jesus. E em base a essa informação, entendemos os motivos que levaram Mateus a incluir em seu evangelho a narrativa sobre este encontro ardiloso e preparado para pegar Jesus em algum assunto ou tema que lhes serviria para levar adiante uma acusação contra Jesus. O propósito do evangelista Mateus é dar publicidade aos ensinamentos de Jesus.

Voltando ao nosso tempo, é preciso reconhecer que a Igreja de Jesus Cristo se vê, em alguns momentos e situações diante de armadilhas e ciladas que lhe são preparadas por grupos que buscam desqualificar e desacreditar a missão da igreja cristã nos dias de hoje! Por isso, a resposta de Jesus aos seus interlocutores, discípulos de fariseus e herodianos, ajuda e serve para que não sejamos ingênuos ou incautos quando colocados, como igreja e comunidade cristã, diante de situações que nos exigem posicionamento e testemunho da fé, que alimenta nosso agir e viver.

A resposta de Jesus surpreende e não era esperada pelos homens que estavam em conversa com ele. Certamente, eles queriam ouvir uma outra resposta! Uma resposta que fosse ao encontro do que estavam tramando contra Jesus. E assim pegos de surpresa, se dão conta de que Jesus não caiu na armadilha preparada por eles!

Jesus não era um homem ingênuo, despreparado e medíocre! Ele percebeu a maldade contida nos elogios e nos reconhecimentos que lhe foram feitos no começo da conversa. E por isso, sua resposta desarticulou e desmontou a armadilha que lhe fora preparada.

São de Jesus as seguintes palavras: Por que me tentais, hipócritas? Mostrem-me o dinheiro do tributo. E trouxeram-lhe um dinheiro. E ele lhes disse: De quem é esta imagem e inscrição? Responderam-lhe: De César. Então ele lhes disse: Dai, pois, a César o que é de César; e a Deus as coisas que são de Deus (vv. 18 a 21).

Como compreender a resposta de Jesus aos discípulos dos fariseus e aos herodianos? O que Jesus quis dizer com essa sua reposta inusitada? Inesperada? Inimaginável?

A pergunta ardilosa dos discípulos dos fariseus e dos herodianos induzia a responder com um “sim” ou com um “não”! Mas Jesus, que não era bobo nem trouxa, não se deixou confundir com a colocação feita por eles. E sua resposta frustrou os intentos dos seus interlocutores! Ora, se Jesus tivesse respondido com um “sim” ele daria seu aval à dominação dos romanos que, se dava pela cobrança de impostos, mas também por meio da força e do controle do povo. Se sua resposta fosse um “não” ele estaria se colocando em oposição à dominação romana e desafiando os poderes constituídos dos romanos em sua terra. E era isso, na verdade, que fariseus e herodianos esperavam dele!

No entanto, Jesus provoca a reflexão dos seus interlocutores e dos que o acompanhavam sobre sua atuação em terras dominadas! Afinal, nas muitas pregações de Jesus aparece a menção do Reino de Deus. E isso incomodava tanto aos romanos, como aos fariseus e aos herodianos! O que Jesus pretendia com esta sua pregação sobre o Reino de Deus?

É importante nos darmos conta de que a resposta de Jesus – Dai, pois, a César o que é de César; e a Deus as coisas que são de Deus – não significa criar divisão ou separação na vida cotidiana! Ou seja, não podemos usar a resposta de Jesus para declarar que a fé cristã se dá apenas no âmbito religioso e de que a política está restrita ao âmbito governamental. Não há uma esfera exclusiva de Deus e uma esfera exclusiva da política ou da área social! Pois se assim fosse, não haveria sentido a pregação de Jesus no Sermão do Monte, no anúncio do duplo mandamento do amor, na exortação da prática da justiça e em tantos outros assuntos que recebem no Evangelho orientação para a vivência e o testemunho da fé cristã aqui e agora. Em sua resposta, Jesus dá a entender que as pessoas do seu tempo viviam sob a dominação de César, mas que ao mesmo tempo orientavam sua vida pelos mandamentos divinos!

O Pastor Dr. Emílio Voigt ao comentar o conteúdo desta narrativa bíblica de Mateus, afirma: Confessar que Deus é o criador de tudo implica reconhecer que tudo pertence a Deus (Gn 1.1; Sl 24.1). Não existe um espaço da vida sem a presença de Deus. Deus não está somente no local em que a comunidade se reúne para o culto e é impossível separar aquilo que se anuncia no culto daquilo que se vive na comunidade e fora dela. Por conseguinte, economia e política também são âmbitos nos quais Deus se faz presente e nos quais a nossa fé é vivenciada.

Para nós, hoje, que não vivemos num país dominado por forças estrangeiras, precisamos nos dar conta de que a atuação da Igreja e das comunidades cristãs acontece no meio social, político, cultural e econômico do nosso país! Nós, como pessoas cristãs e como comunidade cristã, temos uma contribuição a dar em favor da vida, da dignidade humana, do respeito a qualquer cidadão e cidadã! O lugar de atuação das pessoas cristãs e das comunidades cristãs é a sociedade seja ela rural ou urbana. Comunidades cristãs não podem restringir sua missão somente dentro do pátio do seu templo ou dos muros de suas propriedades. Pessoas cristãs testemunham o amor de Deus e o servem na prática do amor não interessando o regime político sob o qual vivem! E o mesmo vale para a Igreja de Jesus Cristo!

Vamos lembrar neste momento a orientação de Martim Lutero no Catecismo Maior: “Precisamos de soberanos e autoridades que tenham olhos e ânimo para instaurar e manter a ordem em todos os negócios e transações comerciais, para que os pobres não sejam sobrecarregados e oprimidos, tendo que arcar com pecados alheios”.

Além deste lembrete do nosso Reformador, precisamos evitar a supervalorização do dinheiro como se ele fosse o bem supremo na sociedade! É preciso lutar contra a ganância por dinheiro e contra a veneração do dinheiro como se ele fosse um deus!

O dinheiro não é um mal em si. Ele também serve para sermos solidários e para ir ao encontro das necessidades de pessoas em dificuldades! Por isso, fazer um bom uso do dinheiro é um desafio para nós que vivemos numa sociedade capitalista! Assim também os governantes são comprometidos a fazer um bom uso dos impostos pagos por cidadãos e cidadãs!

Que saibamos exercer nossa cidadania com ética, com amor, com criticidade e com o compromisso de colocar-nos a serviço da vida e das pessoas próximas de nós! E assim cumpriremos a missão que Deus nos incumbiu nos tantos ensinamentos contidos no Evangelho de Jesus Cristo!

Amém.

João Artur Müller da Silva

São Leopoldo – RS (Brasil)

E-mail: jocadasilva@hotmail.com

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