Mateus 23.1-12

Mateus 23.1-12

PRÉDICA PARA O 23º DOMNGO APÓS PENTECOSTES  | 05/11/2023 | Mateus 23.1-12 | Ramona Elisabeth Reinheimer |

Leituras: Miqueias 3.5-12  e 1 Tessalonicenses 2.9-13

O texto que temos para nossa meditação de hoje é o último do pronunciamento público de Jesus registrado pelo evangelista Mateus.

Ele se dirige às multidões e aos discípulos, e lhes ensina como “não se deve ser”!

Jesus estava em Jerusalém! E, um a um, eles foram vindo, com suas perguntas.  Não com as melhores intenções. Mas, preocupados com este Jesus que roubava a atenção e o crédito que só a eles pertencia, e que ousava dizer àquela gente simples, sofrida, que sempre lhes obedeceu, que também eles eram filhos e filhas queridas do amado Pai. Então, eles vêm, fariseus, escribas e outros mais, bajuladores, astutos – “Mestre, sabemos que o senhor é honesto e ensina a verdade, que não se importa com a opinião dos outros, nem julga pela aparência” (Mt 22.16). E fazem suas perguntas: “É lícito pagar impostos para o Imperador?” “E se uma mulher se casar com 7 irmãos, a quem ela vai pertencer no paraíso?” “Qual o mandamento mais importante?” “Esse é novo? Ou o duplo mandamento do amor sempre foi a base de tudo – Lei e Profetas?” E Jesus responde a todas as perguntas, com autoridade e justiça, de modo que eles – fariseus, saduceus, mestres da Lei e outros mais – tiveram que se calar, e não tiveram mais coragem de fazer perguntas.

Então, Jesus fala aos discípulos, e às multidões. Diz a eles que os mestres da Lei e fariseus têm autoridade para explicar a Lei de Moisés, e nisto devem ser obedecidos. Mas não se deve seguir seus exemplos e conduta hipócritas, pois gostam de ser reconhecidos por sua grande piedade e ser vistos em alta conta, mas nada fazem para aliviar a carga que eles mesmos impõe aos mais humildes. Entre vocês não deve ser assim: não busquem ser chamados Mestres, Guias, Líderes, Pai, mas ajam com humildade, servindo ao invés de querer ser servidos.

Os fariseus, é bom lembrar, formavam um partido político religioso, que se aplicava a estudar profundamente a lei mosaica e as tradições dos antepassados, e exigia a mais rigorosa observância da sua interpretação da Lei, principalmente em matéria de sábado, pureza ritual e dízimos. O nome é derivado comumente do aramaico (perissyya), no hebraico (perusim) os “separados”. Depois da queda de Jerusalém, sua atuação foi importante como herdeiros e guardiões do judaísmo e sua religião. Mas, o zelo exagerado pela Lei e pela pureza legal teve como consequência não uma comunidade unida pela caridade, mas um isolamento altivo (Lc 8,9-14), um desprezo pela massa ignorante e impura (povo), com quem não queriam se misturar.

Os escribas, ou mestres da Lei, eram um grupo de profissionais , que tinha como função principal e inicial “escrever”, ou seja, copiar a Lei, ao que se adicionou também o de fazer contratos. Logo, começaram a ensinar a Lei e realizar a interpretação da mesma às pessoas. Também compilaram a tradição oral. Tinham seus discípulos e uma grande influência, e suas exigências.

Quantos títulos, quanta honra! Todas as regras devem ser cuidadas, respeitadas até a última letra – e quem não puder seguir tudo ao pé da letra que fique de fora, não se juntará aos “bons”. Cargos, prerrogativas, títulos tudo tem que ser visto, admirado. São os guias, os líderes, os mestres, os bons! Mas, Jesus os entrega: vivem do “Façam o que eu digo, não façam o que eu faço!”, põem pesadas cargas nos ombros dos outros, e não estão nem um pouco dispostos a ajudar a carregar. Mas, entre vocês não deve ser assim. Que o mais importante seja o que serve os outros, e que justamente a humildade, e não a soberba, seja louvada.

Eis um contraste entre os valores do reino dos céus e os valores dos homens, inclusive daqueles de uma forma superficial da religião, que tudo aparenta, e nada vive; que tudo exige, e nada oferta. A lógica de Deus é outra!

É importante lembrar que nem todos os fariseus estavam sob a condenação de Jesus, e que havia bons e maus fariseus, exatamente como sempre houve e ainda há, bons e maus cristãos. De fato, os defeitos aqui denunciados tendem a ser os defeitos de todos aqueles cujo zelo pela religião não é moderado pelo amor caridoso, pela misericórdia e pelo bom senso, pelo cuidado. Enfim, é bom lembrar que este orgulho de se sentir mais santo que os outros não é exclusividade dos antigos fariseus, mas enreda muitos que se dizem cristãos e, lembrando o texto do profeta Miqueias, ainda hoje torcem o direito e a justiça, cobram pelo que devia ser dado, e dizem “Nenhum mal vai nos acontecer porque o Senhor está do nosso lado.” (Mq 3.11). Mas, entre vocês não pode ser assim…

Por isso, entre vocês não pode ser assim… É preciso ajudar a carregar as cargas, não impô-las ou aumentá-las à exaustão e desespero. Viver a fé não pode ter nada que cheire à exibicionismo religioso ou busca de audiência. Mas tem a ver com cuidado, com serviço, com humildade.

– Hipocrisia: a arte de exigir dos outros aquilo que não se pratica.

Para concluir, queria lembrar uma situação ocorrida há pouco tempo. Numa das ocasiões em que celebramos o culto de Ação de Graças pela Colheita, aqui em Rolândia, e o altar foi adornado com muitos frutos, legumes, cereais e um lindo pão no qual se lia “Erntedankfest”.  Ainda não haviam sido colocadas as flores, que foram trazidas depois. Uma amiga, que estava lá, disse “na minha igreja somente as mulheres consagradas e sem nenhum pecado podem trazer flores para o altar. Eu sempre quis, mas nunca pude.” Fiquei me perguntando se, com estes requisitos, alguém poderia enfeitar o altar com flores. Martin Lutero nos ajuda, e muito, com o reconhecimento de que TODAS e TODOS somos simultaneamente justos (as) e pecadores(as). Por isso mesmo, todas as flores são benvindas.  Amém.

Pa. Ramona Elisabeth Reinheimer

Rolândia – Paraná (Brasilien)

ramonaew@gmail.com

de_DEDeutsch