Isaías 35. 1-10

Isaías 35. 1-10

PRÉDICA PARA O DIA DE FINADOS 2023 | 05/11/2023 | Isaías 35. 1-10 | Renan Schlemper |

 TEMA: DA SAUDADE PARA A ALEGRIA

Estimados! Que a graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus o Pai, e a comunhão do Espírito Santo estejam com cada um de vocês. Amém!

Saudade… Substantivo feminino. Sentimento de nostalgia causado pela ausência de algo, de alguém, de um lugar ou pela vontade de reviver experiências, situações ou momentos já passados. Esta é a definição gramatical do termo. Uma pequena palavra que carrega consigo tantos sentimentos. Ela não possui corresponde em outros idiomas como a língua inglesa ou alemã, por exemplo. Há sim palavras e expressões equivalentes, mas que parecem não conseguir expressar toda a falta que uma saudade faz. Talvez este tenha sido o sentimento que logo nas primeiras horas desta manhã tenhas tido. Chegamos a mais um dia dedicado à memória de quem outrora viveu ao nosso lado. A palavra finado significa morto, falecido. O nome, em latim, deste dia é commeroratio omnium fidelium defunctorum (memória de todos os fiéis falecidos). Pode-se compreender a realidade da igreja cristã em duas formas: a igreja militante da qual nós fazemos parte. A igreja militante é constituída pelas pessoas vivas que, seguidoras de Jesus Cristo, anunciam e proclamam o evangelho. Há também a igreja triunfante. Esta é composta por todas as pessoas que fizeram parte da igreja militante e, com a realidade da morte, foram encomendadas a Deus. Enquanto a tradição católica romana dedica este dia para rezar pelas almas, especialmente as que estão no purgatório; a tradição protestante relembra que, após a morte, aguarda-se a ressurreição para plenitude do reino de Deus. Por isso, pode-se compreender a morte de cada pessoa como a sua Páscoa: a passagem da realidade militante para triunfante da igreja. É como escreve São Paulo em sua segunda carta a Timóteo: combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé (2Tm 4.7). Isto porque a certeza da salvação, algo tão presente na tradição protestante, se dá por meio do sacrifício de Jesus em favor da humanidade não estando condicionada as boas obras. Sendo assim, com qual objetivo nos reunimos em culto em um dia como este, especialmente aqui no cemitério, local que é destinado a memória de pessoas que amamos, das quais já nos despedimos? Um culto como este não potencializa a saudade? Não favorece mexer em uma ferida que não cura? Não prolonga um luto que deveria findar em um ano? Ora, quem já se despediu de alguém que ama bem o sabe que o luto não dura um ano. Ele é para a vida toda. Uma vez enlutado, sempre enlutado. Porque a falta, a saudade continua a cada dia. Diferentemente do que se pode pensar, celebrar culto hoje não é para cultuar os mortos ou interceder pelas almas despedidas. Mas especialmente hoje somos convidados a refletir sobre a nossa vida e, consequentemente, a nossa morte. Lidar com a finitude da vida, algo que deveria ser natural: há um dia de início e um dia de término para a jornada terrena. É importante compreender que, ao morrer, conforme a compreensão hebraico-cristã, morre-se por completo. Isto, porque o ser humano, é uma unidade de corpo e espírito. Não há alma imortal. Talvez, por isso, a realidade seja tão dura e cruel. O profeta Isaías foi um dos grandes profetas de Israel. O seu ministério durou muitos anos e ele profetizou sobre a destruição e restauração de Jerusalém. O seu nome pode ser compreendido como o Senhor salva. Isaías consola e traz esperança em suas palavras. Esperança é algo que a pessoa cristã entende muito bem! Enquanto muitos esperam por dias melhores; os cristãos sabem que por melhores que sejam os dias que possam vir, a alegria eterna consiste em aguardar novos céus e terra (Ap 21.1-6). Assim sendo, o profeta nos auxilia a compreender a expectativa do porvir. O povo de Deus estava sofrendo no contexto do qual ouvimos há pouco a leitura. O cap. 34 fala do juízo de Deus sobre as nações que os injustiçaram. Deus mostra sua ira e as consequências provenientes dela. O cap. 35 fala da misericórdia e da salvação que provém do mesmo Deus do capítulo anterior. O Deus que se ira é o mesmo Deus que salva e restaura a alegria da sua gente. O Deus que sopra o fôlego de vida nas narinas de cada um de nós é o mesmo Deus que nos ressuscitará após a nossa morte. Devemos compreender que de Deus nós viemos (pois tu formaste o meu interior, tu me teceste no ventre de minha mãe – Sl 139.13) com Deus caminhamos nesta vida (e eis que estou com vocês todos os dias até o fim dos tempos – Mt 28.20) e para Deus retornamos (e o pó volte à terra, de onde veio, e o espírito volte a Deus, que o deu – Ec 12.7). Quero chamar a nossa atenção para três afirmações do profeta que podem amenizar a nossa saudade e fortalecer a nossa esperança.

1) Ele vem para salvar vocês (v. 4)

Isaías fala do deserto. Ora, qual imagem poderia se assemelhar tanto ao luto? No deserto a vida não resiste, pois falta o essencial: a água. Não se pode viver no deserto permanentemente, é necessário atravessá-lo.. Ao longo da vida atravessamos muitos “desertos”, como, por exemplo,  uma dificuldade familiar ou profissional. Embora não vivamos em regiões desérticas geograficamente poderíamos identificar que sempre haverá algum deserto para se atravessar, pois, alguma dificuldade sempre existirá e a necessidade de buscar recursos para sobreviver é constante. Ademais, de quantas pessoas amadas nos despedimos. Inicialmente dos avós, pais. Até o momento em que amigos e gerações mais novas também se vão. O deserto,, porém,  não será eterno. Ele se cobrirá de flores, dará gritos de alegria e exultará. Com a notícia de que o deserto se encherá de vida podemos fortalecer mãos que estão frouxas e firmar joelhos que estejam vacilantes. O povo que sofrera o juízo de Deus no exílio certamente estava cansado e desanimado. Mas, Deus vem para salvar! A salvação que Deus traz produz resultados visíveis e palpáveis.

2) Então se abrirão os olhos dos cegos (v. 5ss)

Agora o deserto não existe mais. Ele está repleto de vida! Onde há vida em abundância não pode haver mazelas. As águas se arrebentarão! Os cegos enxergarão, os surdos ouvirão, e os mudos cantarão. Parece até um sonho de tão bom para ser realidade! Será que conseguimos imaginar uma realidade como esta? Onde as dificuldades tão inerentes à vida humana não mais existirão. Na época em que o texto foi escrito as deficiências eram restritivas a ponto destas pessoas serem excluídas do convívio regular entre as pessoas. O texto deixa claro que não haverá mais limitações físicas e que toda a criação será restaurada. Não haverá leão feroz. A harmonia irá oportunizar que a plenitude da vida aconteça. Diante deste cenário descrito só pode surgir um sentimento.

3) Alegria eterna coroará sua cabeça (v. 10)

Alegria! Todos ficarão tomados de júbilo e alegria, e deles fugirão a tristeza e o gemido. O povo experimentará uma realidade completamente oposta àquela recentemente vivida. Com a ausência do deserto e dos sofrimentos, poder-se-á, finalmente, viver aquilo que sempre fora o projeto original de Deus: um paraíso. O retorno ao jardim perfeito e harmônico descrito no relato da criação. É o desejo de cada ser humano pós-moderno sendo atendido: viver em constante alegria.

Prezados irmãos e irmãs em Cristo! Parece-me que compreendemos muito bem a realidade primeira. Saudades, desertos, limitações. Ainda assim não devemos cair na tentação de apenas lamuriar acerca desta jornada. Quero convidá-los a olharem a seu redor. Estamos cercados de bênçãos: o ar que se renova em nossos pulmões, o sol que aquece e ilumina, as sepulturas que guardam a memória dos nossos queridos. Se hoje temos saudades é porque podemos viver tantos momentos especiais que ficaram registrados em nossos corações e mentes. Quantas histórias podem ser contadas a partir dos nomes e datas que nos cercam? Quantas boas lembranças e recordações as fotografias nos trazem? O tempo de vida compartilhado não pode ser esquecido ou invalidado. Só pode morrer quem nasce e só pode ressuscitar quem nasce e morre. Nascer, morrer e ressuscitar – este é o trio que compreende a existência humana na perspectiva da fé cristã. A mensagem do profeta Isaías age como um bálsamo por sobre as feridas. Podemos confiar que os desertos serão preenchidos com águas que possibilitarão a vida. Jesus Cristo, o ressurreto, disse tudo está feito! Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. Eu, a quem tem sede, darei de graça da fonte da água da vida (Ap 21.6). Que bebamos desta água que possibilitará vida plena e eterna. E que a paz de Jesus Cristo que excede todo entendimento e graça venha sobre nós e permaneça conosco hoje e sempre. Amém.

  1. Renan Schlemper

Porto Alegre – Rio Grande  do Sul (Brasilien)

E-mail: renanschlemper@yahoo.com

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