Mateus 28. 16-20

Mateus 28. 16-20

PRÉDICA PARA 0 1º DOMINGO APÓS PENTECOSTES | 4 de junho de 2023 | Texto bíblico: Mateus 28. 16-20 | Harald Malschitzky |

Irmãs e irmãos em Cristo, querida comunidade.

Conta-se que em uma cidade não muito grande, onde todos se conhecia em boa parte,  havia uma fábrica de sabão de respeito. O dono da fábrica não tinha lá grande simpatia pela igreja em geral e costumava descontar o seu jeito no pastor local. Sempre que se encontravam ele vinha com muitas críticas, pondo em xeque principalmente o efeito prático da igreja cristã e dos seus dois mil anos de pregação.   Em um desses encontros entre pastor e empresário, este colocou a questão em uma frase: A igreja prega o amor, o perdão, a solidariedade, a aceitação mútua, o respeito por criaturas e criação. Mas basta olhar o mundo e as pessoas para ver que há ódio, desrespeito destruição da criação.  O pastor ouviu, pensou e respondeu: O senhor está certo, ainda há muito que fazer,  e o pecado continua rondando e fascinando as pessoas. Mas eu pergunto: Há quantos séculos se fabrica sabão, quantas toneladas de sabão só a sua fábrica produz e distribui, mas as pessoas continuam se sujando!

A verdade é que tanto o fabricante de sabão quanto o pastor têm razão. Martim Lutero, lá pelo século XVI, acertou em cheio caracterizando o cristão como simultaneamente justo e pecador. Ele não tinha nenhuma ilusão sobre o ser humano; ele sabia que o ser humano era capaz de coisas muito boas, de ações altruístas, de solidariedade, de dedicação total pelos outros; mas ele sabia também que o mesmo ser humano é capaz de odiar até à morte, de destruir vida, de praticar maldades inimagináveis…  Por isso a sua fórmula certeira: Simultaneamente justo e pecador!  Algo semelhante se pode dizer ao fabricante de sabão: Sim, sabão limpa e é de suma importância para a limpeza. No entanto, “filhotes” do  sabão em forma de detergentes poluem rios e natureza,  e matam…

Mas o que tudo isso tem a ver com o nosso culto de hoje? Vamos ouvir o texto bíblico, um texto muito conhecido, aliás, de Mateus 28, os versículos 16-20.

É o texto clássico do envio dos discípulos ao mundo para levar e ensinar o evangelho. Traduções mais antigas lhe dão o título de “A grande comissão”.  O envio é para o mundo inteiro com dupla tarefa:  Divulgar o evangelho e ajudar para que as pessoas obedeçam  ao que Jesus ensinou.  Vejamos se o fabricante de sabão está certo: Na verdade (ainda) não chegamos à fronteira última da terra. Entre as muitas razões, eu lembro apenas duas: 1) Os confins da terra não eram apenas povoados, mas tinham e têm sua própria religião. Quer dizer, aí tem barreiras! Mas não é isso que mais impediu e impede que nós atinjamos os confins da terra. Durante séculos a igreja cristã estava mais preocupada com o luxo, a riqueza, a opulência; para atingir tudo isso se inventaram as cruzadas, guerras santas, indulgências, povos originários foram batizados à força;  e sinais desses pecados continuam por aí! Em um livro escrito por um cristão convicto,  que visitou povos originários, dispersos e longínquos, há uma afirmação muito forte e chocante feita por um habitante de um país africano. Ele disse: Antigamente não conhecíamos a Bíblia, mas tínhamos nossa terra; hoje conhecemos a Bíblia e não mais temos terras!  Quantas vezes se confundiu missão com invasão e conquista! Os mandamentos de Deus, tudo aquilo que Jesus efetivamente ensinou e está na Bíblia, foi esquecido.  Mencionar e repetir essa dura verdade não é vingança ou o que o valha, mas para nos lembrar de que certos caminhos nada têm a ver com o evangelho. Mas é só isso que podemos dizer?

Há alguns anos uma personalidade de renome na Europa fez a seguinte afirmação: Eu prefiro dezenas de vezes um mundo cristão com defeitos do que um mundo ateu sem defeito algum.  E essa pessoa mencionou algumas coisas que têm  ligação com a fé cristã: Escolas abertas a todos, hospitais, redes de socorro em catástrofes, o respeito pela vida de enfermos crônicos, o respeito e acolhimento de pessoas portadoras e alguma deficiência. No nosso mundo cada vez mais marcado e determinado pelo dinheiro (antes do Natal, da Páscoa, do Dia das Mães, para citar alguns, só se fala no percentual de negócios a maior!), num mundo que, contrariamente ao seu desenvolvimento, tem sempre mais pobres e miseráveis, a mensagem do Cristo, o evangelho tem papel muito importante e cabe a nós, cristãs e cristãos, transformar essa mensagem em práticas para a vida e contra tudo o que tira a dignidade dos seres humanos e de seu maio ambiente. O fabricante de sabão está certo:  Estamos longe de ter alcançado aquilo que o evangelho propõe e temos que continuar a repetir e repetir o seu conteúdo, porque, como o diz Lutero, o “velho Adão” continua presente em nós.

Pois bem, os séculos e as toneladas de sabão já produzidas, não conseguiram eliminar a sujeira que causa doenças e que mata. O fato de, em campanhas de roupa e alimentos, se pedir também sabão tem sua razão de ser.  Não, não estou pensando em todos os produtos de beleza e cosméticos que prometem milagres que não conseguem cumprir, mas no verdadeiro sabão que ajuda a eliminar sujeira. Um exemplo pode nos ajudar: Em uma grande  maternidade era comum morrerem parturientes e crianças. Isso era intrigante. Um dos médicos  descobriu a razão. Tanto médicos como enfermeiras e enfermeiros atendiam as  parturientes e bebês uns em seguida dos outros sem lavar as mãos. Esse médico comprovou que, lavando as mãos com sabão entre um atendimento e outro, a mortalidade foi reduzida em muito. Hoje qualquer centro cirúrgico tem água corrente e sabão. Quantas vidas o sabão ajudou a preservar a gente não sabe, mas é certo que são inumeráveis. Desgraçadamente “filhotes” de sabão poluem, matam e destroem…

O envio de Jesus continua de pé e há muito o que fazer, também para corrigir. O único critério para o nosso agir é o próprio evangelho. O espaço continua sendo o mundo que carece de testemunhos claros em favor da vida, da dignidade, do cuidado e da conservação do nosso planeta, pois é ali que o “velho Adão”  se manifesta com força. Nossa tarefa está muito bem descrita no lema da IECLB para este ano: Ser sal da terra e luz do mundo! Sal não pode ficar no saleiro – se ele não sair e se misturar não tem serventia; luz apagada, que não alumia caminhos, não vale nada.

Peçamos que Deus nos agracie com seu Espírito Santo como o fez com seus discípulos no dia de Pentecostes para que continuemos teimando em levar  o evangelho  a todos os confins da terra. Amém


P.em. Harald Malschitzky

São Leopoldo – Rio Grande do Sul (Brasilien)

harald.malschitzky@gmail.com.

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