Nenhuma pandemia pode…

Nenhuma pandemia pode nos separar do amor de Deus | Prédica para o 8° Domingo após Pentecostes – 26 de Julho de 2020 | Texto da prédica: Romanos 8. 26-39 | Felipe Gustavo Koch Butelli |

Que a graça do nosso Senhor e irmão, Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito estejam com todos e todas vocês. Amém.

Prezadas irmãs e prezados irmãos em Cristo. A carta aos Romanos é um dos documentos mais importantes do Novo Testamento e talvez uma das mais fundamentais exposições sobre o cerne da fé cristã. Lutero certa vez disse que a carta é “realmente a parte principal do Novo Testamento e…. verdadeiramente o evangelho mais puro.” O nosso texto de hoje nos diz algo que pode ser profundamente significativo. O Espírito de Deus é capaz de conhecer profundamente nossas fraquezas e sofrimentos e comunicá-las em oração ao próprio Deus. Quem, pelo Espírito, está em Cristo, apesar das adversidades da vida, pode confiar que não há nada que nos separe do amor de Deus.

De fato, sofrimentos são parte integrante da nossa vida, sejamos pessoas cristãs ou não. Para Paulo, com muita clareza, tornar-se cristão não acarretava excluir-se dos sofrimentos deste mundo. Pelo contrário. E hoje mesmo vivemos em um tempo de sofrimento que talvez nenhum de nós em nossa geração já tenha  experimentado. A pandemia do Covid 19 nos remete a uma realidade de sofrimentos em várias dimensões. Os sérios efeitos à nossa saúde, que demanda, por vezes, extrema intervenção por respiradores para sobrevivermos nos assusta e angustia. As milhares de mortes (no Brasil já mais de 80 mil) e a dificuldade em despedir-se dos entes queridos arrasa famílias e impossibilita a vivência plena do luto. Falta perspectiva de quando esta pandemia vai passar. Muitas pessoas estão há mais de quatro meses em isolamento, o que está afetando seriamente a saúde mental delas. Depressão, ansiedade, saudades, inconformidade, medos, são só alguns dos males que nos assolam e causam profundo sofrimento nas pessoas. Ainda há de se mencionar o impacto negativo econômico que este vírus causa. Desemprego, diminuição das rendas nas famílias, sobretudo de pessoas trabalhadoras, receio e angústia em relação ao futuro e aos impactos que esta crise ainda trará. A violência vivida nos lares, as crises nas relações, o aprofundamento das desigualdades e injustiças contra as populações mais marginalizadas levam-nos a uma profunda crise de sentido. Onde está Deus nisso? Como posso viver minha fé confiante num contexto de tanta amargura e sofrimento? Que sentido tem tudo isso? Não por menos, amados e amadas, esta crise pode levar a um abalo profundo na nossa fé e um apagar das esperanças.

Por isso, a pregação de Paulo aos Romanos vem a nós como verdadeiro Evangelho de Deus. Boa notícia em tempos de profundo sofrimento e ausência de sentido! Ele diz: “Assim também o Espírito de Deus vem nos ajudar na nossa fraqueza”. Estamos, prezada comunidade, no tempo de Pentecostes, no qual anunciamos ao mundo a presença do Espírito consolador e auxiliador, o Espírito de Deus, do próprio Cristo. É o tempo pentecostal em que permitimos e clamamos ao Espírito que atue no mundo através da Igreja e em nossas vidas, recebendo-o em fé confiante. Este Espírito vê o que está dentro do nosso coração e expressa a Deus de forma que não podemos entender ou reproduzir. Na fraqueza da nossa fé, quando nem mais sabemos como orar, Deus em sua misericórdia ora em nós e por nós de modo que se realize a sua vontade em nossa vida. Ao abraçarmos esta confiança em meio ao sofrimento, conseguimos entender que Deus é capaz de transformar todo sofrimento para operar pelo seu plano para nós. “Sabemos que todas as coisas operam para o bem daqueles que amam a Deus”, diz Paulo. Não porque Deus gosta ou cria nosso sofrimento, mas porque em Cristo, pelo seu Espírito, ele nos conduz até mesmo pelos sofrimentos para o seu plano, seu projeto amoroso para a nossa vida, de seus filhos e filhas.

Isso nos leva à parte final do nosso texto, que apresenta uma mensagem de amor profundo que pode acalentar os nossos corações diante do sofrimento que cada um de nós carrega e que Deus conhece em profundidade. O próprio Cristo está ao nosso lado – como aquele que viveu e entregou-se ao sofrimento da morte e do martírio, mas que venceu a dor e o sofrimento e abriu para nós a promessa da vida plena, que já podemos começar a experimentar aqui e agora. Este Cristo que intercede em nosso favor. Vejam só: O Espírito de Deus ora por nós na nossa fraqueza e o próprio Cristo é o nosso advogado, intercessor diante de Deus. No entanto, é preciso nos esvaziarmos de algumas coisas para este Espírito tomar conta da nossa vida.

É preciso abrir mão da dureza das desconfianças, largar as pedras das lutas e da fé cega nos projetos humanos, abdicar da confiança naquelas coisas que, ao final, nos levam ao sofrimento: todo tipo de conflito, de mentira, de opressão, de exclusão mútua, que surgem neste tempo como resposta às crises. Não confies naquilo que te conduz ao ódio em relação ao teu semelhante e que aprofunda as diferenças, a desigualdade e a injustiça entre nós. Esta proposta de vida só nos faz imergir no sofrimento. Permite que este Espírito, que anunciamos no tempo de Pentecostes, ouça tua dor e fale por ti, mesmo no mais profundo sofrimento em que estás. A promessa de Deus para nossa vida é lembrada por Paulo com muita clareza: “Pois eu tenho a certeza de que nada pode nos separar do amor de Deus: nem a morte, nem a vida; nem os anjos, nem outras autoridades ou poderes celestiais; nem o presente, nem o futuro; nem o mundo lá de cima, nem o mundo lá de baixo. Em todo o Universo não há nada que possa nos separar do amor de Deus, que é nosso por meio de Cristo Jesus, o nosso Senhor.”

“Lâmpada para os meus pés é a tua Palavra, Senhor, e luz para o meu caminho.”

Amém.

P.Dr. Felipe Gustavo Koch Buttelli

Goiânia –  Goiás, Brasilien

felipebuttelli@yahoo.com.br