Números 11.24-30

Números 11.24-30

PRÉDICA PARA O DOMINGO PENTECOSTES | 28.05.2023 | Números 11.24-30 | Breno Carlos Willrich |

A graça de nosso Senhor, Jesus Cristo, o amor de Deus Pai e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos e todas vocês. Amém

A FESTA DE PENTECOSTES

É Pentecostes, dia de celebrar a presença do Espírito Santo em nosso meio. O dia nos  convida a celebrar o sopro de Deus que nos impulsiona na vida e na missão, a sabedoria de Deus que nos orienta em meio a dúvidas, e a consciência de Deus que quebra o nosso orgulho e nos lembra o quão pecadores somos. Em Pentecostes agradecemos a Deus pelo Espírito Santo que nos fortalece em nossa fraqueza, consola em nossa tristeza, presenteia a fé quando nossa razão desconfia, e nos convence de que somos amados mesmo quando a indiferença e o ódio marcam as relações humanas e nossa boca e coração murmuram contra o próprio Deus de amor.

AS DIFICULDADES NO CAMINHO

O texto de pregação se encontra no livro de Números, capítulo 11, versículos 24-30. O povo de Deus havia partido do Egito, onde eram escravos. Estavam no deserto a caminho da terra prometida. Diferente do que imaginaram,  a caminhada era longa e não estava sendo fácil. Já era o segundo ano de caminhada e muitos já estavam cansados. Não sabia aquela multidão dos filhos e filhas de Deus que ainda restavam 38 anos até que entrassem na terra prometida.

O início do capítulo 11 nos coloca a par do que se passava naquela ocasião. No versículo 1 lemos: “Por estarem passando por muitas dificuldades, os israelitas começaram a se queixar de Deus, o Senhor.” Nos versículos 4-6 podemos ouvir o povo a queixar-se: “- Ah, se tivéssemos um pouco de carne para comer! No Egito comíamos quanto peixe queríamos, e era de graça. E que saudades dos pepinos, dos melões, das verduras, das cebolas e dos alhos! Mas agora acabaram-se as nossas forças. Não há mais nada para comer, e a única coisa que vemos é esse mana!”

Moisés, por sua vez, como líder daquele povo, também estava exausto. Não aguentava mais ouvir tanta reclamação, intermediar os conflitos que diariamente surgiam entre aquela gente, ter que animar a fé.

O DEUS QUE OUVE

Deus ouviu novamente o clamor do povo e a preocupação de Moisés. Sim, Deus nunca é indiferente ao clamor de seu povo. Às vezes parece que Deus demora a ouvir e atender, mas não há gemido que não alcance os seus ouvidos, sofrimento que passe despercebido aos seus olhos e preocupação que não toque o seu coração. Assim como Deus ouviu o clamor do povo quando estava no Egito,  ouviu também agora, quando caminhavam pelo deserto.

Falando com Moisés,  Deus prometeu que o povo teria carne e, contrariando a desconfiança de Moisés, ele mandou codornizes para satisfazer a fome de carne do povo faminto. Conhecendo a sobrecarga de Moisés lhe propôs reunir 70 líderes do povo para o ajudar a cuidar do povo.

Mas o maior presente para que o povo pudesse continuar caminhando, ainda estava para vir. E é isso que é narrado em nosso texto de pregação. Mas antes de seguir adiante gostaria de dar um salto de algumas centenas de anos na história e lembrar como Deus agiu na vida dos discípulos de Jesus quando derramou sobre eles o Espírito Santo.

O ESPÍRITO VIVIFICADOR

No capítulo 20 do Evangelho de João nos é relatado que, após a morte e ressurreição de Jesus, os discípulos de Jesus estavam reunidos de portas trancadas, com medo dos líderes judeus. Foi nesse contexto que Jesus se junta a eles e os enviou ao mundo, não porém sem oferecer a eles o instrumento necessário e eficaz para a missão. “Jesus soprou sobre eles e disse: recebam o Espírito Santo.”

No livro de Atos dos Apóstolos, no capítulo 2, encontramos novamente os discípulos reunidos em uma casa em Jerusalém. Foi então que o Espírito Santo foi derramado sobre eles em forma de um vento forte e línguas de fogo. Foi assim que foram capacitados a sair para o mundo e pregar o evangelho da ressurreição, do amor de Deus e dos planos de salvação de Deus.

Nas duas narrativas a realidade era de desânimo, isolamento, medo, dúvidas, desconfiança e silêncio.  Mas o Espírito Santo trouxe transformação. Do desânimo ao ânimo, do isolamento ao encontro, do medo à coragem, da desconfiança à confiança, das dúvidas à fé, do silêncio ao testemunho.

 O MAIOR PRESENTE

Pois assim também os israelitas que caminhavam pelo deserto necessitavam mais do que maná, água doce e codornizes. Moisés precisava mais do que setenta líderes com inteligência e influência para ajudar a cuidar do povo. Eles precisavam do Deus presente, da força do Espírito de Deus, do Espírito Santo, consolador e vivificador em seu meio.

Foi assim que Moisés reuniu os setenta líderes sob a tenda e o Espírito de Deus desceu sobre eles. Como sinal da presença de Deus esses começaram a profetizar em alta vós. A força e o vigor de Deus marcavam presença no meio do povo cansado. A terra prometida podia ser novamente contemplada e a caminhada poderia continuar na certeza de que Deus acompanha, guia, aconselha e anima mesmo em meio a dificuldades.

UM DEUS DEMOCRÁTICO

Conta ainda a história que dois dos líderes não estavam junto aos demais quando lhes foi presenteado o Espírito Santo. Mas também sobre esses veio o Espirito de Deus. Isso certamente não é apenas um apêndice sem valor na história. Ele vem nos lembrar que o Espírito Santo não se deixa amarrar nem se enquadrar. Ele não está restrito aos pregadores, ele é distribuído à comunidade que é sacerdócio geral. Ele não está aprisionado pelas paredes de nossos templos, nem pelas nossas culturas ou ideologias. O Espírito sopra onde ele quer. Esse rico detalhe de nossa história vem nos alertar que não podemos ser donos da verdade e que não é possível calar a voz de Deus. Temos um Deus democrático.

O DESEJO DE PENTECOSTES

Quando Moisés ouve a queixa de alguns enciumados ele responde: “Eu gostaria que o Senhor desse o seu Espírito a todo o seu povo e fizesse que todos fossem profetas”.

Esse é o maior desejo nesse Pentecostes. Em meio às divisões e polarizações,  o Espirito Santo nos coloque em comunhão; nas horas de dúvida o Espírito que ensina pela Palavra seja nosso guia; quando desconfiamos do amor de Deus ele nos convença pela presença do Espírito Santo; quando o cansaço ou a fraqueza nos alcançar ele seja a nossa força e vigor; quando a Igreja esquece de evangelizar, ele nos conclama e capacita a sermos missionários e missionárias. Ninguém precisa ficar de fora.

E, se vocês se perguntarem se são ou não dignos de tão nobre chamado e tão maravilhoso presente, lembrem-se das palavras de Cristo: “Vocês, mesmo sendo maus, sabem dar coisas boas aos seus filhos. Quanto mais o Pai, que está no céu, dará o Espírito Santo aos que lhe pedirem!”

Sintam-se chamados e chamadas vocês também. Saibam-se capacitados e capacitadas para abraçar a missão de viver, amar e servir.

Amém


P. Breno Carlos Willrich

Blumenau – Santa  Catarina (Brasilien)

pastorbreno@terra.com.br

de_DEDeutsch