Números 11.4-6, 10-16, 24-29

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Números 11.4-6, 10-16, 24-29

PRÉDICA PARA O 18º DOMINGO APÓS PENTECOSTES | 26 DE SETEMBRO DE 2021 | Texto bíblico:  Números 11.4-6, 10-16, 24-29 | Harald Malschitzky |

Irmãs e irmãos em Cristo.

 

Moisés é uma figura importante e de destaque na formação do povo de Israel, tanto que organizadores dos textos bíblicos tomaram  seu nome emprestado para os primeiros cinco livros do Primeiro Testamento. Sua biografia, que sempre  precisa ser lida e ouvida a partir de uma infinidade de passagens bíblicas, é rica em detalhes muito humanos de vida com os pés no chão, em experiências com o Deus Sagrado, em experiências diversificadas com o povo que ele fora incumbido por Deus de liderar e guiar para a liberdade, para longe da escravidão do Egito, para uma vida digna. Essa incumbência, porém, não era tão simples assim, por diversas razões. Entre o povo havia  pessoas que hoje chamaríamos de imediatistas, que esperam a novidade de vida como se fosse um passe de mágica, que não se dão conta e nem admitem que um caminho – qualquer caminho! – na vida sempre tem momentos e trechos difíceis, que exigem esforço, quem sabe sacrifício até, que em vez de solidária caminhada, logo reclamam a ponto de sentirem saudade das panelas de carne do tempo da escravidão. E, claro, no meio de tanta gente, tem os indiferentes, que nada mais querem do que sobreviver, mas que não assumem nenhuma responsabilidade pelo projeto. E tem a oposição! Moisés, o líder, que se vire. O próprio Moisés, escolhido por Deus para liderar o povo,  chega no limite de suas forças e discute com Deus, quase que em forma de demissão da função! O seu sofrimento é tão forte que ele pede a Deus que, se não houver outro jeito,  o mate.

Deus, porém, não atende a Moisés,  dando-lhe mais força, mais coragem, mais bravura e nem tirando-lhe a vida… mas de outro jeito. Ouçamos as passagens bíblicas para a nossa reflexão de hoje.

Leitura de Números 11.4-6, 10-16, 24-29

Em sua resposta a um Moisés desesperado e brabo, Deus lhe dá uma tarefa: Escolher setenta anciãos e trazê-los para diante de Deus. Numa cena que não é única na Bíblia, Deus desce numa nuvem e concede seu espírito aos setenta quem não cessaram de profetizar (tradução da Septuaginta). Pois bem, quando ouvimos as palavras profeta e profetizar logo nos vem à mente uma imagem de pessoas que são uma espécie de adivinhos do futuro, quando não é nada disso. Profetas falam em nome de Deus a partir de sua vontade, medindo a vida nos parâmetros daquilo que Deus deseja desde o princípio para a sua criação. Os profetas antigos e novos, entre eles o próprio Jesus, profetizavam tendo como horizonte o Reino de Deus. Eles profetizavam na medida em que falavam da vida pessoal, do relacionamento entre pessoas, de realidades que causavam sofrimento e chamavam atenção de líderes e  governantes – por vezes com palavras fortíssimas – quando estes se desviavam  “do bom governo”. Dois exemplos elucidativos: O profeta Natã,  em sua acusação demolidora a Davi,   por causa do adultério e assassinato do comandante Urias(2 Samuel 12); João Batista, em suas pregações, não só criticou lideranças (“raça de víboras” –Lucas 3), mas também a “família real”, o que lhe custaria a vida (Mateus 14). Para dizê-lo de outra maneira: Profetizar abrange a vida como um todo, assim como a nossa vida é,  em todas as suas dimensões. Mas aí também reside o problema: Nós gostamos de ser elogiados, afagados, reconhecidos, mas em geral temos uma certa “alergia” a críticas e repreensões. É por isso que a história do profetismo bíblico é marcado também por perseguições a profetas, a discípulos, a  outros/as seguidores/as de Jesus,  bem como ao próprio Jesus. Para seguir profetizando não basta apenas coragem, é preciso a ajuda de Deus através de seu espírito. E é isso que acontece com os setenta: Eles são ungidos por Deus com o seu Espírito. E vamos encontrar uma cena que guarda semelhanças no dia de Pentecostes (Atos dos Apóstolos 2): Discípulos encurralados, amedrontados, decepcionados recebem o Espírito Santo que lhes dá coragem e destemor para anunciar a mensagem do Cristo, ainda que a própria vida esteja em risco. Uma observação é preciso  fazer:  Quem recebe o Espírito Santo não é dono dele como o querem fazer crer entusiastas que andam por aí. Voltando ao texto: O Espírito de Deus também não é exclusivo dos setenta, tanto que se conta que no arraial havia mais duas pessoas profetizando, o que até ciúmes e inveja causou.  Mais uma vez encontramos um paralelo no Novo Testamento: O apóstolo Paulo não era do grupo dos doze, provavelmente nem conheceu Jesus pessoalmente, tanto que ele mesmo se considerava um nascido fora do tempo ( 1 Coríntios 15). O fato de ele ser escolhido e ungido por Deus causou alguns atritos com o grupo original dos discípulos, o que pode ser lido em Atos dos Apóstolos.

Nós, em nossa igreja, estamos muito centrados nos/as obreiros/as “profissionais”. O conceito de “pastorcentrismo” é conhecido. Destaquemos duas vertentes para entender o fenômeno: Obreiros/as são contratados, estudaram, são ordenados e muitas vezes entendem que vida e morte da igreja dependem só deles. Por outro lado, a comunidade ajuda nesse entendimento, na medida que empurra tudo aos/às obreiros/as.

No entanto, se olharmos muitas de  nossas comunidades com  atenção vamos descobrir que há também outras pessoas atuando: No culto infantil, com jovens, com grupos de estudo e de terceira idade, nos presbitérios, em visitação, na música e no canto… Como teste, tiremos todas essas pessoas e teremos surpresas desagradáveis. Acontece, porém, que as comunidades nem sempre delas tomam conhecimento . Por outro lado, em todos os lugares seriam necessárias mais pessoas para “profetizar” em palavras e ações.

O que podemos fazer? Não deixar Moisés sozinho! Pedir que Deus continue dando seu Espírito Santo e seus dons a quem já está atuando e que ele derrame seu Espírito sobre setenta vezes setenta pessoas pela cristandade afora para que profetizem tendo como critério único o Cristo, aquele que viveu e conviveu, que anunciou e denunciou, que foi perseguido e morto como criminoso lesa pátria e que por Deus foi ressuscitado. Nem sempre será fácil, porque muitas vezes teremos de profetizar contra nós mesmos, contra nossas velhas concepções e ideologias, contra ideias religiosas que nada têm a ver com o Evangelho.  Que o Espírito de Deus sobre nós repouse! Amém

 

P.em. Harald Malschitzky

São Leopoldo – Rio Grande do Sul (Brasilien)

harald.malschitzky@gmail.com

 

 

 

 

 

 

 

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