Pentecostes

Prédica para o Domingo de Pentecostes – 31 de maio de 2020 | Texto: 1 Coríntios, 12.3b-13 | João Artur Müller da Silva |

Estimadas irmãs e irmãos da comunidade de Jesus Cristo, nosso Senhor!

 

Pra começo da nossa reflexão, vamos fazer uma breve viagem pelo túnel do tempo. Afinal, o texto bíblico que acabamos de ouvir nos remete a uma região, a uma cidade. Mesmo distante no tempo e na geografia, a pergunta se impõe para nós: onde localizamos a cidade de Corinto? Que comunidade é essa a qual o apóstolo Paulo escreveu esta e mais outra carta? Talvez algumas pessoas aqui reunidas ainda se lembrem das aulas de geografia quando se falava em Ásia Menor. Vamos abreviar a informação e localizar Corinto na Grécia, na Ásia Menor. Lembramos deste país quando os noticiários informam que foi acesa a chama olímpica em Atenas, atual capital da Grécia. E no mais, pouca ou quase nenhuma informação temos deste pequeno país. Corinto ficava distante, mais ou menos, 50 quilômetros de Atenas e hoje se pode visitar apenas suas ruínas. Mas no tempo da segunda viagem do apóstolo Paulo para aquela região, por volta de 51 d.C., Corinto era uma grande metrópole, com dois portos, Cencreia, no mar Egeu, e Lecaion, no mar Adriático. Alguns pesquisadores falam em 200 mil habitantes e outros falam em 400 mil habitantes, mesmo assim reconhecemos que para aquela época era uma cidade grande, uma metrópole. Corinto só perdia para Roma, na Itália, Alexandria e Antioquia na Síria. Os dois portos contribuíam para o comércio, para os negócios e um intenso intercâmbio cultural. Pois em Corinto viviam além dos gregos, romanos, sírios, egípcios e judeus. Por estes portos, então, como podemos perceber, muitas pessoas passavam e ficavam em Corinto. Além disso, temos a informação que Corinto também era sede dos Jogos Ístmicos, porque ficava num istmo, ou seja, numa estreita faixa de terra que liga duas outras áreas maiores. Então por ali passavam negociantes, atletas, artistas, filósofos, empresários, soldados e muita outra gente. Em Corinto também havia dois templos famosos: o templo de Afrodite (deusa do amor) e o templo de Apolo (deus da música, canto, poesia e da beleza masculina). De um pesquisador temos a informação: “Corinto, situada entre dois portos, desenvolveu um cosmopolitismo misturado aos vícios das nações estrangeiras cujos navios ficavam ancorados em seus portos”.

            As fraquezas e os vícios do Oriente e do Ocidente encontravam um ambiente favorável em Corinto. O luxo, a riqueza, a depravação, o comércio sexual faziam a fama de Corinto. Havia na cidade uma decadência no sentido moral. Para tanto, algumas pistas nos são fornecidas pelo próprio apóstolo Paulo nas seguintes passagens bíblicas:

Ou vocês não sabem que os injustos não herdarão o Reino de Deus? Não se enganem: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem afeminados, nem homossexuais, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o Reino de Deus. Alguns de vocês eram assim. Mas vocês foram lavados, foram santificados, foram justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus (1 Coríntios 6.9-11).

Fujam da imoralidade sexual! Qualquer outro pecado que uma pessoa cometer é fora do corpo; mas aquele que pratica imoralidade sexual peca contra o próprio corpo (1 Coríntios 6.18).

Portanto, meus amados, tendo tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus (1 Coríntios 7.1).

 

Pra concluir nossa viagem pelo túnel do tempo: era de conhecimento público que “Viver como os coríntios, ou ser corintianizado, era sinônimo de vida devassa e imoral”, informa um biblista.

E voltando, para nosso tempo cronológico e geográfico, a mensagem para nós que estamos reunidos neste domingo de Pentecostes vem do ambiente acima descrito onde o apóstolo Paulo fundou ou plantou uma comunidade cristã que tinha lá seus problemas de inserção na sociedade e num ambiente adverso para o testemunho e o serviço diaconal. Aliás, um ambiente não muito diferente no qual vivem e atuam as comunidades cristãs nos dias atuais.

O apóstolo Paulo, conforme estudiosos, escreveu quatro cartas aos membros de Corinto, mas apenas duas delas entraram na formação do Novo Testamento assim como podemos ler hoje em nossas Bíblias. As cartas do apóstolo Paulo são cartas pastorais, de orientação para a fé e a vivência cristã, são cartas de educação e admoestação, pois elas têm o objetivo de ajudar pessoas cristãs a viver em meio ao ambiente em que trabalham e vivem como famílias, como profissionais, como trabalhadores e como comunidade cristã.

Hoje celebramos o aniversário da Igreja, pois a Igreja Cristã tem seu nascedouro no dia de Pentecostes quando Jesus afirmou: Mas vocês receberão poder, ao descer sobre vocês o Espírito Santo, e serão minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até os confins da terra (At 1.8). E nossa comunidade está localizada nos “confins da terra” assim como tantas outras comunidades cristãs espalhadas pelo mundo. E as orientações, advertências, ensinamentos e conselhos contidos nesta passagem bíblica de 1 Coríntios 12.3b-13 são igualmente proveitosas, úteis, normativas e benéficas para nossa vivência como pessoas cristãs e comunidade cristã, aqui e agora!

Desta passagem bíblica, podemos extrair três temas para nossa reflexão: Espírito Santo, dons e diversidade.

Não é possível celebrar este culto de Pentecostes sem refletir sobre o sentido e o significado do Espírito Santo entre nós. A Trindade sempre é um mistério para nós e temos  dificuldades para compreender as três manifestações de Deus, o Criador! No entanto, é arriscado pretender separar cada uma das manifestações divinas contidas na Trindade. Deus é Pai, Deus é Filho e Deus é Espírito Santo! Sim, mas o que eu recebo do Espírito Santo? Dele podemos receber clareza, sensatez e retidão. E ele também  ajuda a nos livrar de enganos que podemos ter a respeito de assuntos da vida. Lembro aqui o testemunho de Paulo em 1 Coríntios 2.12: E nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente.

Não pretendo me estender neste assunto do Espírito Santo porque ainda temos pela frente o tema dos dons e da diversidade. Mas fica registrado para nós que não podemos  aprisionar o Espírito de Deus, o Espírito Santo, em nossos conceitos e em nossa compreensão. Ele sempre vai muito além do nosso pensamento. Vamos recordar neste domingo que o Espírito Santo sopra não somente em nossa comunidade, em nossa Igreja, mas também em outras igrejas, em outros movimentos, em outras vivências religiosas e ambientes culturais.

Quando o assunto é os dons, então entramos num terreno mais tranquilo e sem complicações para nossa reflexão. Afinal, tudo o que somos e o que temos vem de Deus. Ou não? Mas facilmente vamos nos dar conta que este assunto também tem lá suas complicações. Afinal, os dons que recebemos do Espírito de Deus não deveriam promover nosso engrandecimento, nossa vaidade, nossa supremacia sobre as outras pessoas. No entanto, nos dias atuais existe um verdadeiro culto à vaidade e ao uso das aptidões para alcançar riqueza, prestígio, reputação… Quando o apóstolo Paulo fala nos dons ele sinaliza que são diversos, e também que ao lado dos dons estão os serviços a serem praticados na comunidade, na família, na sociedade. Enfim, dons e serviços fazem sentido quando promovem Cristo, como Mestre e Salvador, e quando revelam o amor de Deus que se faz concreto na solidariedade, na ajuda, no socorro. E aqui compartilho a pergunta que o pastor Júlio Cézar Adam faz a respeito dos dons: Quais seriam os novos dons que o Espírito Santo desperta? Fica o convite para levar esta pergunta para a reflexão nos grupos na comunidade onde cada um, onde cada uma de vocês está envolvida.

Por fim, vamos encarar o tema da diversidade que também está contido neste ensinamento do apóstolo a partir da sua vivência em Corinto, uma cidade cosmopolita e com diferentes manifestações culturais trazidas de outros lugares. Para muitas pessoas a diversidade é um tema controvertido porque gostariam que tudo fosse igual para todos. No entanto, a vivência dos povos mostra-se heterogênea, diversificada, distinta… basta estender nosso olhar para as culturas dos povos dos quais descendemos ou então da região onde nascemos! O princípio da fraternidade é o respeito e a aceitação das diferentes formas de um povo viver e se relacionar com as questões do cotidiano, da natureza, das relações interpessoais, da visão de mundo… O apóstolo Paulo dirige nosso olhar para o principal conceito de comunidade, de igreja, que cultivamos entre nós: o corpo humano! Pensem em seus corpos. Assim como o meu corpo tem diversos e diferentes membros, todos me ajudando a viver, assim é a diversidade na vida comunitária. E para o apóstolo a diversidade não era um problema, mas nela residia uma riqueza a serviço da comunidade, do bem-estar das pessoas na família, na comunidade e na sociedade.

Nova Petrópolis, uma cidade gaúcha, realiza a cada ano o Festival Internacional do Folclore e em 2019 o tema foi: O Tempo da Diversidade Chegou. O propósito foi anunciar que culturas de diversas partes do mundo podem se reunir e promover o entendimento e a integração entre os povos! Que bela iniciativa!

Assim também, como comunidade cristã, podemos promover e incentivar a diversidade de dons, de talentos, de habilidades e vocações entre nós! Afinal, é o Espírito de Deus, o Espírito Santo, que nos anima, que nos concede, que nos agracia, que nos presenteia com o que somos e o que temos!

Que o Espírito de Deus, o Espírito Santo, continue presente na vida de todos nós nesta comunidade, incentivando a comunhão, o serviço, a diaconia e o testemunho na família e na sociedade.

Amém.

 

P. João Artur Müller da Silva

São Leopoldo – RS, Brasilien

E-mail: jocadasilva@hotmail.com

 

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