1. DOMNGO APÓS A PÁSCOA

1. DOMNGO APÓS A PÁSCOA

PRÉDICA PARA O 1. DOMNGO APÓS A PÁSCOA  | 11 de abril de 2021 | Texto bíblico: Atos 4.32-35 | Textos: Salmo 133; 1 Jo 1.1-2.2; Marcos 16.12-18 | Romeu Martini |

Para compreender um fato, normalmente se quer ouvir o que aconteceu antes do fato. Por isso é que se pergunta: – Tá, mas o que levou a isso? Para compreender um texto bíblico, também é necessário perguntar pelo contexto. O que aconteceu antes disso que o texto relata? Para compreendermos o texto da prédica de hoje, vamos averiguar o que nos conta o contexto do texto.

O texto da prédica é do livro de Atos dos Apóstolos. O autor de Atos lembra que ele também é o autor do livro de Lucas, no qual ele escreveu tudo o que Jesus fez e ensinou (1.1). Em Atos, Lucas reconta vários episódios da vida de Jesus. Por exemplo: Após a Ascensão de Jesus, os discípulos ficaram olhando para o céu (1.10). Aí ouviram uma voz: por que vocês olham para o céu? (1.11). Tipo querendo dizer: psiu, virem o olhar para baixo e continuem lá minha missão.

Tendo compreendido o recado daquela voz, os onze discípulos reuniram-se para escolher o substituto do Judas traidor. Afinal, conclui Pedro: “precisamos escolher outro homem para pertencer ao nosso grupo e ser testemunha junto conosco da ressurreição do Senhor Jesus” (1.21).  Escolheram Matias (1.12ss).

O próximo episódio é o de Pentecostes. Os discípulos estavam reunidos com seguidores de Jesus. Diríamos hoje: estavam em culto. Com a manifestação do Espírito Santo, como vento forte e línguas de fogo, a comunidade reunida ficou assustada, confusa até: o que é isso? (2.12) E aí Pedro iniciou uma longa prédica (2.14-40). E o foco da mensagem de Pedro pode ser assim resumido: Gente! Vocês estão vivenciando aqui o que o profeta Joel profetizou: Deus vai derramar seu Espírito sobre as pessoas para que creiam nele, vivam como seus servos e servas, anunciem sua mensagem e haja salvação. Por isso, “arrependam-se; cada qual receba o batismo em nome de Jesus, e seus pecados sejam perdoados e vocês receberão o Espírito Santo” (2.38).

Qual o resultado dessa pregação de Pedro? “Muitos acreditaram e foram batizados. Nesse dia, quase três mil se juntaram aos seguidores de Jesus. E todos continuavam firmes nos ensinamentos dos apóstolos, vivendo em amor cristão, partindo o pão juntos e fazendo orações” (2.41-42).

Atos cap. 3 descreve a cura de um homem paraplégico. Diante da admiração e das perguntas do pessoal que viu essa cura, Pedro esclarece: ele foi curado pelo poder daquele “que vocês entregaram às autoridades e mataram” (3.13-14). E Pedro novamente chama ao arrependimento, “a fim de que Deus perdoe os pecados” (v. 19).

A repercussão desse episódio de cura fez com que Pedro e João fossem presos e levados perante as autoridades religiosas. Foram presos por quê? Porque os dois ensinavam ao povo que Jesus havia ressuscitado. O resultado da prisão? Muitas pessoas creram, e foram mais ou menos cinco mil (4.2).

Pedro e João são julgados no dia seguinte. Não encontrando motivo explícito para condená-los, as autoridades os ameaçam: parem de falar desse Jesus! (4.17). Pedro e João respondem: “Não podemos deixar de falar daquilo que vimos e ouvimos” (v. 20). E as autoridades não conseguiram fazer mais nada, porque “o povo louvava a Deus por causa do que havia acontecido” (v. 23). E a soltura dos apóstolos culminou num culto de louvação extraordinária, com esta oração: “Senhor, dá aos teus servos confiança para anunciarem corajosamente a tua palavra” (4. 29). E assim chegamos ao texto da prédica deste culto. Ouçamos Atos 4.32-35.

Pensar e sentir do mesmo modo; repartir uns com outros; dar testemunho da ressurreição de Jesus; cuidar para que não haja pessoas necessitadas na comunidade. Ouvir a pregação dos apóstolos; converter-se para seguir a Jesus e testemunhar o que se crê; experimentar uma convivência real e autêntica. Assim creram e viveram as comunidades cristãs no primeiro século. E esse modelo repercutiu positivamente no contexto, pois “o povo falava muito bem dos apóstolos”. Uma multidão de homens e mulheres creu no Senhor. E o grupo crescia dia após dia (5.13-14).

Tentemos resumir. As primeiras comunidades cristãs gestaram uma forma de convivência nova no seu contexto. E foi uma convivência tão nova e distinta que despertou a curiosidade em quem olhava de fora. E qual foi o fermento que fez crescer essa convivência? Qual foi a força que sustentou essa convivência? O testemunho dos apóstolos. Isto é, a mensagem, os ensinamentos e as ações do Jesus caminheiro, crucificado e ressurreto; a fé nesse Jesus; o arrependimento e a conversão de rumo de vida marcada pelo batismo.

Daí que parece ser correto concluir que há duas questões centrais nesse texto. Primeira: quem ouve a Palavra de Deus; quem escuta com atenção o que o Filho de Deus ensinou e segue os passos das suas ações terá como resultado uma profunda mudança de vida. Despertará e crescerá nessa pessoa a fé que resulta no que João Batista anunciou em preparação à vinda de Jesus: resulta em arrependimento. Arrependam-se! Ouvir, compreender e acolher em fé a Palavra de Deus resulta em mudança de rumo, nova forma de olhar e interpretar os fatos. É mudança que faz reconhecer e confessar os pecados, como preconceitos, atitudes de exclusão, manias, afirmações levianas, soberba, tudo que provoca sofrimento e corpos humanos machucados, etc, etc.

Segundo: desse arrependimento, dessa mudança de vida, dessa nova maneira de olhar para a convivência humana, irrompe uma disposição de engajar-se por vida em comunhão. As primeiras comunidades cristãs gestaram, a partir da sua conversão, uma convivência marcada pelo pensar e sentir do mesmo modo; resultou em partilha de uns com outros; resultou em testemunho da ressurreição de Jesus; fez brotar o cuidado para que não haja pessoas necessitadas na comunidade.

Pensar do mesmo modo… hoje… talvez seja pedir demais. Mas, por que não dizer: dialogar, apesar das divergências, e não logo sair detonando pelas redes sociais. Dar testemunho dos reais ensinamentos e ações de Jesus, e não projetar deuses que justificam nossos desejos. Dispor-se para ações de solidariedade que promovem a partilha e a dignidade humana. Não omitir-se diante do sofrimento alheio, mas denunciar, unir-se, propor, colocar sinais de mudança, demonstrar que outra sociedade é possível. A fé, fruto da conversar para o Cristo ressuscitado, move para essa direção!

Hoje é o primeiro domingo após a Páscoa. O crucificado ressuscitou e vive. Por causa da fé no Ressuscitado, participar em comunidade; mover-se, engajar-se e gestar vida comunitária e solidária. É a fé que provoca inveja. “Ah, nessa comunidade eu também quero participar. Pois essa comunidade é um luzeiro nesse mundo marcado por trevas”.

O Salmo previsto para hoje diz: “Como é bom e agradável que o povo de Deus viva unido como se todos fossem irmãos” (133.1). “Se vivemos na luz, como Deus está na luz, então estamos unidos uns com os outros, e o sangue de Jesus, o seu Filho, nos limpa de todo pecado”, escreveu 1 João (1.7). Por isso nos anima e instiga a motivação de Jesus: “Vão pelo mundo inteiro e anunciem o evangelho a todas as pessoas” (Marcos 16.15).

E a paz de Deus… Amém.

 

P. Dr. Romeu Ruben Martini

Porto Alegre – Rio Grande do Sul, Brasilien

romeurubenmartini@gmail.com

 

de_DEDeutsch