2 Timóteo 1.1-14

2 Timóteo 1.1-14

Prédica para o 17º domingo após pentecostes | 2 de outubro de 2022 | 2 Timóteo 1.1-14 | Harald Malschitzky |

Irmãs e irmãos em Cristo, prezada comunidade.

         Paulo e Timóteo não eram apenas amigos; juntos eles estavam a serviço do Evangelho em palavra e vida vivida nos primórdios da igreja cristã. Sabemos do apóstolo Paulo e de outros cristãos e cristãs  que confessar a Jesus Cristo – sempre o crucificado – implicava em riscos de vida. O próprio apóstolo foi preso por mais de uma vez. E agora, quando ele escreve a carta ao seu amigo Timóteo, ele está preso novamente e, ao que tudo indica, com risco maior de não mais ser libertado. A carta é  para um bom amigo, mas ela tematiza a raiz, o fundamento sobre o qual se construiu tal amizade, a saber, a mensagem do Evangelho, esta determina o jeito de ser e viver a amizade. O mesmo Evangelho, concede a Paulo a liberdade de falar com seu amigo no estilo de vontade última conhecido no Antigo Testamento, quando pais de família e governantes ditam suas últimas palavras, dando instruções, entre outros,  para o uso do patrimônio.

         O patrimônio, o tesouro,  na carta é o próprio Evangelho, é a vontade do Cristo que os une. Mas a distância e as circunstâncias podem atrapalhar o relacionamento. Por isso, Paulo, quase qual um, diz palavras centrais como um  pai dizendo de sua vontade derradeira.

         Ele começa na vida de Timóteo e na vida de fé de seus familiares (!). Estes devem ter sido exemplos de fidelidade na fé também nos momentos difíceis ou justamente nos tempos difíceis que as primeiras comunidades enfrentavam: …Deus não nos tem dado espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação. A frase faz sentido, pois logo adiante (v. 15) ele lembra que todos os da Ásia me abandonaram; entre eles cito Figelo e Hermógenes.  Na verdade Paulo tinha contra si duas coisas: Ele fora fariseu, perseguidor dos cristãos e agora estava preso! E nós sabemos como isso funciona: Se buscam coisas no passado e no presente que ajudem a denegrir a imagem de quem se tem por adversário. Sim, Paulo fora perseguidor feroz dos cristãos, ele o afirma em mais de uma de suas cartas. Mas Deus mudou o rumo de sua vida. Não, nada foi varrido para debaixo do tapete ou escondido por decretos! Verdade, Paulo estava preso e a razão se encontra logo ali, numa espécie de resumo de confissão de fé – versículos 8b-10. A causa de sua prisão não é descaminho ou delito, nas sim o fato de ele arriscar confessar a sua fé e de proclamar o senhorio do Cristo por todos os cantos sob o empenho da própria vida. É por isso que ele não se envergonha do sofrimento pelo qual está passando. Assim ele admoesta seu amigo e colega na divulgação do Evangelho mantém o padrão das sãs palavras que de mim ouviste com fé e com amor que está em Cristo Jesus. Guarda o bom depósito, mediante o Espírito Santo que habita em nós.

Em sua história, através dos séculos a Igreja ignorou vezes demais os conselhos de Paulo e  a vida guiada pelo Espírito Santo. Ela flertou e se envolveu com o uso da força e das armas, ela sucumbiu à tentação do luxo e do poder, ainda que afirmasse que tudo isso acontecia para o louvor a Deus.  Mas pelo mundo afora coisas semelhantes acontecem até hoje. Na discussão internacional entre as igrejas em torno da guerra na Ucrânia vamos encontrar as posições, por vezes numa explosiva mistura entre ideologia e fé. Lideranças ortodoxas da Rússia e da Ucrânia, por exemplo, membros da mesma igreja, de repente são incapazes de ao menos se cumprimentar, o que aconteceu há poucas semanas na assembleia geral do Conselho Mundial de Igrejas na Alemanha! Fiquemos, porém, por aqui. Notícias e imagens estão aí para informar que diversas igrejas pentecostais, na sua busca por poder político, estão abençoando as armas. Ainda há poucos dias, em uma delas havia uma mesa sobre a qual estão dispostas armas de diversos tamanhos e calibres; o pastor, impondo as mãos sobre as mesmas, fez uma longa oração.

São exemplos de descaminhos. É preciso dizer que quem assim age deixa de ser Igreja de Jesus Cristo, por mais que invoque constantemente o nome de Deus. Cabe a todos a penitência diária como Lutero o propôs para discernir os espíritos e não se deixar enredar por falsos espíritos e falsos messias. Assim como Paulo teve coragem de escrever sobre sua fé da prisão na qual estava justamente por causa dela, cabe a nós professar nossa fé.  Neste mundo em que tantas coisas se confundem, muitas propositadamente, é preciso que a igreja,  GUIADA PELO ESPÍRITO SANTO, proclame o Cristo bíblico e não um fantoche qualquer. A fé cristã não é quietista, isto é, de se enfiar num canto e se contentar com sua própria salvação. Fosse assim, nós agora não teríamos Paulo e todas as outras testemunhas que nos cercam.  A fé é também um ato público, cristão é um ser público.

Que o Espírito Santo que habita em nós seja nosso guia e nos aponte o rumo como cristãs e cristãos e como igrejas. Amém.


Harald Malschitzky, P.em.

São Leopoldo – Rio Grande do Sul (Brasilien)

harald.malschtzky@gmail.com

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