Tiago 3.1-12

Tiago 3.1-12

PRÉDICA PARA O 16° DOMINGO APÓS PENTECOSTES – 12.09.2021 | Texto de prédica: Tiago 3.1-12 |Demais leituras: Isaías 50.4-9a; Marcos 8. 27-38 | Claudete Beise Ulrich |

Prezada comunidade reunida!

            Que o amor de Deus, a graça do nosso Senhor Jesus Cristo e a comunhão do Espírito Santo esteja com todos nós. Amém

            Neste domingo, vamos refletir sobre um texto da carta de Tiago, que é dirigida às doze tribos que se encontram na diáspora (conforme Tiago 1.1), isto é, endereçada a migrantes. Tiago não se apresenta como apóstolo, mas como servo/escravo de Deus e do Senhor Jesus e com alegria e perseverança quer servir “a comunidades cristãs que sofrem marginalidade e desprezo nas sociedades onde vivem”.

 

Vamos ouvir, em silêncio reflexivo, a leitura do Texto de Tiago 3.1-12

 

Prezada comunidade reunida!

 

O texto de Tiago 3.1-12  inicia  “meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que havemos de receber maior juízo. Porque todos tropeçamos em muitas cousas. …Se alguém não tropeça no falar…torna-se perfeito ser humano, capaz de refrear todo o corpo”. Tiago aponta para a interligação de todos os membros. Todo o falar necessita ser coerente com o agir. A língua necessita ser domada, freada, pois também ela pode se tornar um mal mortífero. Isto porque, dependendo do que falamos,  podemos produzir uma fogueira, isto é, criar confusão, divisão. A questão toda é: conseguimos ser responsáveis com as nossas falas? A sabedoria está no equilíbrio entre o falar e agir, em assumir responsabilidade com aquilo que é dito. Os falsos mestres fazem uso da língua sem sabedoria, sem compromisso, sem solidariedade, sem responsabilidade utilizando-se de falsas notícias para dividir a comunidade.

Tiago está na continuidade da mensagem do Evangelho, “a boca fala do que o coração está cheio” (Mt 12.34b). A pergunta que nos é colocada é: do que o nosso coração está cheio? Como cristãos e cristãs somos chamados a construir a paz, a justiça social, relações amorosas e romper com as estruturas da mentira, desigualdade social e morte.

Os v. 3-5 falam dos freios que são colocados na boca dos cavalos, para obedecerem, e assim também o corpo é dirigido. Da mesma forma, os navios que sendo tão grandes e batidos por fortes ventos, são dirigidos por um pequeno leme por onde queira o impulso do timoneiro. A língua é colocada como um pequeno órgão que se gaba de grandes cousas. O autor então faz a comparação: vede como uma fagulha põe em brasas tão grande selva! Portanto, palavras mal ditas podem levar ao desastre, a um incêndio, a uma devastação da vida e ele compara assim também uma fagulha pode incendiar uma grande floresta.

A língua é fogo, diz o v. 6, é mundo da iniquidade, a língua está situada entre os membros de nosso corpo, e contamina o corpo inteiro, e não só põe em chamas toda a carreira da existência humana, como também é posta ela mesma em chamas pelo inferno. Portanto, a língua é como o fogo que pode contaminar toda a ação e existência do ser humano. Nos versículos seguintes v. 7-8 o autor diz que “todas as espécies de feras, de aves, de répteis e de seres marinhos têm sido domadas pelos seres humanos. A língua, porém, nenhum ser humano tem sido capaz de domar. É um mal incontido, carregado de veneno mortífero.”

Tiago também aponta para a incoerência na vida das pessoas e das comunidades e como a língua é utilizada de forma contraditória. “Com ela, bendizemos ao Senhor e Pai, também com ela, amaldiçoamos os seres humanos, feitos à semelhança de Deus”. Não é possível bendizer a Deus e amaldiçoar a pessoa próxima. 1 João 4.21 lembra o mandamento que temos por parte de Jesus Cristo “aquele que ama a Deus que ame também seu irmão/a sua irmã.”

O v. 10 diz de uma só boca procede benção e maldição. “Meus irmãos, não é conveniente que estas cousas sejam assim.”  Tiago então faz uso de elementos da natureza, para afirmar que isto não é possível. Nos versículos 11 e 12 são utilizados como exemplos a água e árvores frutíferas.  O v. 11 assim diz: “Acaso, pode a fonte jorrar do mesmo lugar o que é doce e o que é amargoso?” Já no v. 12 temos o seguinte: “Acaso, meus irmãos, pode a figueira produzir azeitonas ou a videira, figos? Tampouco fonte de água salgada pode dar água doce”. É difícil uma mesma fonte jorrar água doce e amarga, da mesma forma que uma figueira não pode produzir azeitonas, da mesma forma que uma videira produz uvas e não figos.

A língua é um membro fundamental do nosso corpo para verbalizar, expressar os pensamentos, para a comunicação e necessita ser usada para uma vivência correta da religião. O uso correto da língua e da linguagem/da fala encontra-se no âmbito da práxis da fé cristã. Falar mal uns dos outros é pecado. É necessário coerência na vida de fé: entre o falar e o agir.

Prezada comunidade reunida!

O texto que ouvimos e refletimos apresenta-se como muito atual. Vivemos um tempo com muitas informações, que, muitas vezes, são  desinformações. São muitas as mentiras/fake news que são ditas como verdades. Algumas pessoas falam deste tempo como da pós-verdade.

Como nós irmãos e irmãs em Cristo estamos nos comunicando? O que a nossa língua tem expressado? Temos coragem para combater as fake News/noticias falsas? Temos pesquisado para ver se as notícias que são transmitidas pelas mídias e por diferentes grupos de whatsapp são verdadeiras? Como temos usado a nossa língua? O uso da nossa língua está a favor de qual projeto? Da paz e da justiça, dos/as pobres, dos povos negros, dos indígenas, das mulheres, das crianças, dos/as necessitados/as, dos/as migrantes, dos/as excluídos/as? Como temos educado a nossa língua e o nosso falar?

O falar e o agir necessitam estar em coerência, em equilíbrio. Para podermos falar a verdade precisamos ler, estudar, pesquisar, buscar conhecimento além da simples informação. Importante também deixar claro que precisamos ser responsabilizados pelo nosso falar. Para evitar fake News/mentiras necessitamos investir na formação/educação.

Cada pessoa tem a sua língua e necessita fazer uso respeitoso, responsável, ético da mesma, articulando palavras e pensamentos que conduzem para um projeto de vida, objetivando a paz, a igualdade, o amor e a justiça social. É necessário ficar claro que o Cristianismo, como religião, promove a vida em sua integridade. Afirmamos que todas as vidas importam e nenhuma pode ser deturpada. Encerro com a poesia de Mario Quintana:

Fere de leve a frase…

E esquece…

Nada
Convém que se repita…
Só em linguagem amorosa agrada
A mesma coisa cem mil vezes dita.

Prezada comunidade reunida!

Desejo que a bênção de Deus permaneça sobre todos e todas e que o uso da nossa língua seja utilizada para o crescimento da autoestima  da nossa pessoa próxima e do cuidar amoroso de toda a criação.

Deus da vida abençoe o meu pensar e o meu falar,

Jesus Cristo, companheiro de vida, abençoe o meu agir em retidão,

Espírito Santo, ajuda-me a falar verdades e não mentiras,

a espalhar em palavras e ações a solidariedade e a misericórdia. Amém

 

Pastora Dra. Claudete Beise Ulrich

Vitória – Espírito Santo (Brasilien)

Email – claudetebeiseulrich@hotmail.com

 

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