5º DOMINGO APÓS EPIFANIA

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5º DOMINGO APÓS EPIFANIA

PRÉDICA PARA O 5º DOMINGO APÓS EPIFANIA – 7 de fevereiro de 2021 | Texto bíblico: Isaías 40, 21-31 | Osmar Witt |

Saudação: “Que a graça e a paz de Deus, o nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo estejam com vocês”.

Oração: Senhor, a Tua Palavra é lâmpada para os nossos pés e luz para os nossos caminhos. Agradecemos pela orientação que a Tua Palavra nos dá e te pedimos: Abençoa a pregação da Tua Palavra entre nós. Em nome de Jesus Cristo. Amém.

Leitura do texto bíblico.

Prezada comunidade de Jesus Cristo!

Da fidelidade e da renovação do amor de Deus por nós e da possibilidade de termos esperança em meio ao desespero, é disso que nos fala esse texto!

A Igreja aprendeu com o povo de Israel a reconhecer seu dever de gratidão e louvor por causa do amor e da fidelidade de Deus. Israel ensinou e ensina a olhar para o seu passado, para a sua história, e guardar a memória da ação de Deus em favor do povo: “Tu és o meu servo, eu te escolhi, não te rejeitei” (41. 9b).

O texto que ouvimos surgiu numa situação muito difícil para o povo de Israel. Os babilônios vieram, deportaram as lideranças, dividiram famílias, destruíram relações de amizade, saquearam propriedades e demoliram o templo. Tentaram assim, riscar da memória de Israel o Deus que ouve o clamor do povo e mobiliza pessoas para livrá-lo da aflição. A situação em que Israel se encontrava era de destruição, de frustração. A realidade revelava que a fidelidade e o amor de Deus estavam ausentes! O povo de Israel vivia um tempo de apreensão, de insegurança, de medo. Seus líderes tinham sido exilados e seu Deus parecia tê-los abandonado. A pergunta não é retórica, mas é existencial: “O meu caminho está oculto a Iahweh?” (27b) Terá Deus se esquecido da gente?

O profeta de Deus ajuda a entender a situação desesperadora lançando um olhar para o passado desse povo. Em sua história Israel encontra motivos para ser grato a Deus e para render-lhe louvor. “Não vos foi anunciado desde o princípio?”, ele pergunta (21b). Vocês esqueceram que sou incomparável e que mesmo as maravilhas da natureza dão testemunho de que sou o Criador que mantém sob seu cuidado os rumos da vida de vocês? A fidelidade e o amor de Deus estiveram presentes quando ele fez uma aliança com Israel. Deus declarou: “Eles são o meu povo, são filhos que nunca me trairão” (63. 8). Mas, este mesmo povo que Ele criou para si, sente-se desamparado e desprotegido em razão dos acontecimentos que sucederam e levaram ao exílio na Babilônia.

“O profeta Isaías anunciou o retorno do povo de Israel que estava no exílio. (…) Se, por um lado, o texto nos deixa perceber a realidade de sofrimento pelo qual passava o povo, por outro lado, nos faz ver também que não há domínio e não há império que dure para sempre. O tempo de glória dos babilônios estava acabando. (…) Uma vez que os inimigos babilônios foram destruídos, abre-se o horizonte de uma nova esperança para o povo de Israel. Do futuro surge uma luz, uma possibilidade nova, até então não vista e não experimentada. O profeta fala da esperança de um novo êxodo.” Pois, a fidelidade e o amor divinos também se tornaram concretos, palpáveis, visíveis, quando ele mesmo livrou Israel do sofrimento da escravidão no Egito. Quando ele o conduziu e “carregou no colo” (63. 9), na passagem pelo mar Vermelho e na longa caminhada pelo deserto. O amor e a fidelidade, dignos da gratidão e do louvor de Israel, também foram concretos quando o povo tomou posse da terra prometida e encontrou “um lugar de descanso” (63. 14). Tudo isso fazia e faz parte da experiência desse povo e, de geração em geração, essa memória foi guardada.

Como, pois, entender a experiência de sentir-se abandonado por Deus? O profeta lembra ao povo sua desobediência. Foi o povo quem dispensou o amor de Deus não dando ouvido aos profetas, através dos quais o Espírito de Deus denunciou as injustiças e a infidelidade. Deus ama, sofre junto com seu povo, ampara, dá colo, faz recobrar o ânimo ao que está cansado e dá novo alento para a pessoa sem esperança. O exílio na Babilônia foi entendido pelos profetas como o afastamento deste Deus que acompanha o seu povo.

A lembrança do passado ajuda o povo a ter esperança: “os que põem a sua esperança em Iahweh renovam as suas forças” (v. 31a). De outra parte, ao tomar consciência de como Deus teve amor e foi fiel no passado, a situação presente do povo torna-se ainda mais angustiante: Onde está hoje o Deus que agiu tão valorosamente no passado? Por que ele parece se esconder? Será que ele não é mais o mesmo? Será que já não tem mais cuidado pelo seu povo? Ao dar-se conta da situação desesperadora, o povo parece desanimar em profundo desalento: Deus esqueceu de nós. O profeta escuta com atenção a queixa do povo e não a deixa sem resposta! Nessa queixa o povo confessa: Só Deus mesmo poderá salvar-nos de uma vida sem Deus. Somente seu amor e a sua fidelidade poderão livrar-nos das enrascadas em que nos metemos com a nossa rebeldia e infidelidade.

E Deus não ficou insensível a esse temor e lamento! O profeta recebeu a incumbência de consolar e fortalecer “as pessoas cansadas e sobrecarregadas”: “Consolai, consolai o meu povo, diz o vosso Deus” (40. 1). Tal como também ouvimos do Evangelho deste dia, (Mc 1. 29-39), Jesus livrou e curou muitas pessoas que estavam doentes e sem esperança. Ele veio para que tenhamos vida em abundância

A resposta de Deus ao clamor dirigido aos céus foi sua epifania, sua manifestação em Jesus de Nazaré. Nele, a consolação e a esperança se estendem a toda a humanidade. Como cantava Lutero: “O Salvador, o eterno bem, em forma humana à terra vem, quer ser irmão dos servos seus, torná-los filhos fiéis de Deus”.

Podemos reaprender com Israel a olhar para o nosso passado e nele descobrir como Deus tem mostrado amor e fidelidade. Em nossa vida pessoal, na nossa família. Mas, também na nossa comunidade, religiosa e civil. Contudo, quando enfrentamos tempos como este em que nos encontramos, marcados pela dor, pelo sofrimento, pela desilusão com os seres humanos, então, certamente também chegamos a duvidar de que Deus ainda mantenha algum controle sobre os rumos de nossas vidas. A mensagem profética renova a esperança: “É Deus quem dá forças ao cansado, que multiplica vigor ao enfraquecido” (v. 29)

Por certo, também nós haveremos de ter motivos para lamentos neste ano atípico e inesquecível que vivenciamos. O profeta Isaías nos ensina que o nosso lamento e nossa aflição podem ser dirigidos aos céus. Talvez não saibamos bem como se faz isso comunitariamente. Quem sabe, em nossas aflições e medos estejamos sós e não saibamos como “carregar as cargas uns dos outros” (Gl 6.1). Porém, Deus nos ouve e com amor e fidelidade nos entenderá. Experimentamos tempos de escuridão com o país sendo conduzido por negacionismos alarmantes. As crises sanitária e econômica são tratadas como campos de disputas políticas e não de cuidado com a vida das pessoas. A informação não necessita do aval da verdade, basta que seja uma narrativa que se impõe. A crise escancara a realidade de uma sociedade extremamente desigual, ampliada pela pandemia da Covid19. Aliás, para a pandemia, que é como a nossa experiência de exílio/distanciamento das pessoas, apresenta-se uma luz de esperança por meio das vacinas. Sim, também os avanços da ciência são sinal do amor e da fidelidade de Deus! “Consolai, consolai o meu povo”. Sigamos com gratidão, temor e confiança em Deus.

Olhar para o passado, pessoal e comunitário, assim como fez o povo de Israel no exílio, poderá ajudar-nos a encontrar respostas para as perguntas angustiantes que carregamos: Onde está Deus neste mundo conturbado? Será que ele esqueceu de nós? Sua fidelidade e seu amor não serão mais os mesmos? Por que ele luta conosco?  A sensação de que Deus nos abandonou não evidencia que agimos como se ele estivesse em nossas mãos e não nós nas mãos dele?

A mensagem do profeta quer fazer com que nós voltemos a sonhar com um tempo novo, ou seja, a profecia serve ao propósito de restaurar a esperança. Não uma espera passiva, mas uma esperança que se engaja por aquilo que espera.

Ele nos conduziu até aqui. Sua fidelidade nos fortalece justamente quando nossas forças terminam. Confiemo-nos a ele em todas as situações. Ele estabeleceu conosco um vínculo de paz por meio do Batismo: “Chamei-te pelo teu nome, tu és meu, tu és minha!” Pertences ao meu povo. Pus meu Filho no mundo em favor de ti. Ele se doou em teu favor e toda a vez que recebes a sua Palavra ele te alimenta e te fortalece. A consciência dessa realidade nos permite bradar aos céus quando nos sentimos desamparados e desprotegidos: “Ó Deus, onde está o teu poder e o teu cuidado por nós?” Por meio do profeta Ele nos diz: “Iahweh é um Deus eterno, criador das regiões mais remotas da terra. Ele não se cansa, nem se fatiga, a sua inteligência é insondável. É ele quem dá forças ao cansado, que prodigaliza vigor ao enfraquecido” (v. 29).

E a paz de Deus, que supera o nosso entendimento, guarde nossas mentes e corações em Cristo Jesus. Amém. 

P. Osmar Luiz Witt

São Leopodo, Rio Grande Sul, Brasilien

olwitt@est.edu.br)

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