5º DOMINGO DA PÁSCOA

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5º DOMINGO DA PÁSCOA

PRÉDICA PARA O 5º DOMINGO DA PÁSCOA  | 2 DE MAIO DE 2021 | Texto bíblico: João 15. 1-8 | Ricardo Brosowski |

O Pai é o agricultor

Oração: “Vê, Senhor, que sou um vaso que carece muito de ser preenchido. Meu Senhor, enche meu vaso, pois sou fraco na fé. Fortalece-me, pois sou fraco no amor. Aquece-me e torna-me quente, para que meu amor transborde para o próximo. Não tenho fé robusta e forte, acontece que sou acometido de dúvidas, não podendo confiar em ti inteiramente. Ó Senhor, ajuda-me a fazer crescer minha fé e confiança. Tudo o que tenho se encerra em ti. Eu sou pobre, tu és rico e vieste para receber em misericórdia os pobres. Eu sou pecador, tu és justo. Comigo está a doença do pecado, em ti a plenitude da justiça. Por isso quero ficar contigo, não preciso dar de mim para ti: de ti posso receber. Amém (Emílio Voigt).

Uma fruta nunca cai longe do pé! Quem nunca ouviu essa expressão? Ela aponta para a ideia de que, a prole, via de regra, tem atitudes muito parecidas com as de seus genitores. Porém, por mais que essa analogia tente demonstrar a proximidade entre o pé e a fruta, uma fruta que cai do pé, já está fora dele. Já não recebe mais água e sais minerais que geram a vida que ela necessita. A fruta que cai do pé começa, lentamente, a apodrecer e tornar-se imprópria.

Quando lemos o texto base de nossa reflexão, nos deparamos com Jesus valendo-se de algo conhecido por todos, a fim de ilustrar a forma como seria o trabalho dos apóstolos depois de sua partida. Logo no versículo um, encontramos um resumo de tudo aquilo que vai ser tratado nessa história. E ao mesmo tempo vemos que, apesar de simples, muitas vezes, a vivência disso não é tão fácil quanto pode parecer.

“Eu sou a videira verdadeira, e o meu Pai é o lavrador”. Ao mesmo tempo um puxão de orelha e um baita consolo!

Jesus Cristo é a videira. É a partir dele que todo o fruto pode ser gerado. É a videira, através de suas raízes, que nutre cada um dos ramos. Podemos perceber isso, quando observamos a Confissão de Augsburgo – Artigo IV: “Ensina-se também que não podemos alcançar remissão do pecado e justiça diante de Deus por mérito, obra ou satisfação nossos, porém, que recebemos remissão dos pecados e nos tornamos justos diante de Deus pela graça, por causa de Cristo, mediante a fé, quando cremos que Cristo padeceu por nós e que, por sua causa, os pecados nos são perdoados e nos são dadas justiça e vida eterna”.

É a obra Jesus Cristo que oferece tudo aquilo que os ramos precisam. Perdão, salvação, possibilidade de vida eterna. Esses frutos não podem ser gerados nos ramos, pelo contrário; os ramos encontram redenção por estarem em Cristo, encontram salvação e vida eterna por estarem ligados a Cristo. Sem isso, nada seriam, seriam como um fruto longe do pé, do exemplo acima, talvez até estivesse próximo, mas estando separado, apodreceria e tornar-se-ia impróprio.

O Pai é o agricultor. É o próprio Pai quem salvaguarda a obra do Filho. O Pai agricultor é quem planta (envia o filho ao mundo), quem cuida (podando e limpando) e quem, no final de tudo colherá os frutos (será glorificado).

O texto bíblico nos apresenta uma dupla tarefa do agricultor. Ele, e somente ele, pode podar e arrancar. É o agricultor, o Pai, quem arranca aqueles ramos que não dão frutos e os joga ao monte para serem queimados. E é também o Pai agricultor quem poda, limpa, faz a catarse para que a planta possa gerar ainda mais frutos. Quando falamos em podar, lembramos o pai que limpa a sua videira daquilo que lhe é estranho, daquilo que lhe é alheio,  a purifica do que pode vir a corrompê-la ou perturbá-la.

Os discípulos são os ramos. Os discípulos, ramos da videira que é cuidada pelo agricultor, já estão puros. Foram purificados pela palavra de Deus, ou em última análise pelo Próprio Deus, já que Jesus é Palavra encarnada, como vemos em João 1. Essa purificação, ou justificação, se preferirmos esse termo, já algo completado inteiramente por Jesus Cristo, não restando aos discípulos nada que pudessem fazer. Retomando a metáfora da videira, a tarefa dos discípulos é simplesmente ser parte da videira. Todo o restante a videira e o agricultor fazem.

O fato dos ramos darem frutos se dá, simplesmente por que estes permanecem unidos a videira verdadeira. Pois fora dela, fruto nenhum poderia surgir. Talvez esse seja o maior consolo que encontramos nesse texto: Não se espera que surja algum fruto da ação dos ramos. O ato de permanecerem unidos a videira é que faz com que os frutos da videira surjam, pelos ramos. Ainda assim, os frutos são da videira! São pelos frutos da videira, que surgem nos ramos que nela permanecem garrados, que o Pai é glorificado.

Mas quais são esses frutos? Quando nos perguntamos sobre quais frutos dão os ramos da Videira verdadeira, devemos lembrar de algumas palavras de Jesus no Evangelho de João 13:35: “-Nisto conhecerão todos que vocês são meus discípulos, se tiverem amor uns pelos outros”. O amor de Deus fez com que Jesus Cristo fosse levado a cruz para morrer em nosso lugar. As atitudes, palavras e ações do cristão deveriam ser um reflexo desse amor, incondicional.

Contudo, falamos muito de amor, falas poéticas e muito belas. Mas quanto mais se fala de amor, menos se pratica o mesmo. Vemos muito discurso de ódio travestido de vivência amorosa.

E talvez isso se dê por confundirmos a tarefa dos ramos. Em muitos momentos os ramos discutem, crendo ser os agricultores. Temos a tendência de considerar como frutos da obra de Deus apenas aquilo que confere com a minha visão de Reino de Deus. É só acessarmos nossa conta de facebook que veremos isso. A polarização doentia que vivemos nos faz encontrar dificuldades em considerar aquilo que outros fazem como frutos de amor. Quando não concordamos com alguém, ou com alguma coisa, seja em questão pessoal, familiar, religiosa e até política partidária, de modo arrogante, tendemos a taxar a ação do outro, ou o pensamento contrário como equivocado!

Esquecemos que os frutos não são dos ramos. Não é a beleza dos ramos que produz frutos. Também não é a aparente doçura ou beleza do que fazemos que nos deixam afixados em Cristo. A lógica é outra: é permanecer em Cristo que faz dos ramos portadores dos frutos. Esses ramos,  mesmo com imperfeições, falhas, pecados e erros, por estarem ligados a Cristo, têm a tarefa de serem portadores dos frutos. Frutos esses que o próprio Cristo gera.

Nisso tudo se mostra a nossa incapacidade. Ou quem sabe, se mostra a nossa vontade de não sermos “apenas” ramos, queremos ser o agricultor. Queremos ter a chance de dizer quem está certo e quem está errado. Queremos julgar frutos são vem de Deus e quais frutos são enganosos. Queremos ser geradores de frutos, nos colocando no lugar da videira. Queremos ser o critério para a ação de Deus no mundo: “Eu faço assim, então essa é a vontade de Deus”.

Como somos falhos! Apenas não percebemos que ao julgar a qualidade do fruto do outro ramo, perdemos a capacidade de observar os frutos gerados a partir de nós…

O Pai é o agricultor, é dele a tarefa de arrancar e podar. Jesus Cristo é a videira, é ele quem nutre os ramos e dá nome (qualidade) aos frutos. Os discípulos são ramos. E esses só têm valor se permanecerem em Cristo, que é a videira verdadeira, sendo cuidados pelo Pai – o agricultor.

Quaisquer inversões nesse processo são apenas busca humana por glória própria. Uma glória que não cabe ao ser humano.

Que Deus nos abençoe para que sejamos portadores de doces e belos frutos de amor. Amém.

 

P.Ricardo Brosowski

Campo Novo do Parecis – Mato Grosso, Brasilien

Brosowski_ric@yahoo.com.br

 

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