Atos dos Apóstolos 3. 12 – 19

Atos dos Apóstolos 3. 12 – 19

PRÉDICA PARA O 3º DOMINGO DE PÁSCOA | 14 de abril de 2024 | Texto bíblico: Atos dos Apóstolos 3. 12 – 19 | Harald Malschitzky |

UM DISCURSO CORAJOSO

Discípulos de Jesus, apesar de proibições e desconfianças de muita gente, começaram a pregar e agir em nome de Jesus, sempre lembrando que na memória do povo e principalmente das autoridades, esse Jesus fora executado na cruz por supostos crimes desde a desobediência a certos preceitos do seu próprio ´povo até incitação contra o governo, no caso, os romanos.

Na cena narrada pelo texto que ouvimos, eles estavam reunidos no alpendre do templo, um lugar lateral do templo. Não havia nada de errado em tal reunião, afinal os discípulos eram judeus. Mas desde os acontecimentos que culminaram com a morte e a ressurreição de Jesus, muita gente se mostrou interessada no que esse punhado de gente faria e diria, sempre levando em conta que haviam sido seguidores de Jesus quando em vida. Nesse momento, depois da cura de uma pessoa, logo se levantou a pergunta em nome de quem o tinham feito ou que poderes eles mesmos tinham para curar. Seriam eles curandeiros? Ou seriam dotados de um poder “desconhecido”?  A resposta dos discípulos é mais do que uma resposta, é um testemunho de vida ou morte, pois – ao que se sabe – o decreto proibindo o uso do dome de Jesus ainda não tinha sido anulado. Sim, eles estavam agindo em nome de Jesus de Nazaré, exatamente aquele que fora crucificado pelos romanos como bandido, mas a pedido e por insistência (                  “Crucifica-o, crucifica-o”) da liderança judaica. Ao dizê-lo, os discípulos não usaram meias palavras: Esse Jesus foi Deus feito homem na linhagem tradicional e querida de personagens da história: Abraão, Isaque e Jacó! Não se trata, pois, de um estrangeiro, mas de alguém da própria cepa: “Mas vocês o entregaram às autoridades e o rejeitaram diante de Pilatos”! (…) “Assim vocês mataram o Autor da vida; mas Deus o ressuscitou e nós somos testemunhas disso”.  Poder-se-ia dizer que Deus inverteu o jogo, o jogo do sofrimento e da morte para um ato de redenção e salvação não apenas para o povo judeu, mas para o mundo e a humanidade. Também para esse detalhe os discípulos citam: “O Messias que ele escolheu  tinha que sofrer”.

Humanamente falando seria de imaginar uma ameaça de vingança pela atrocidade cometida. Sim, porque a intervenção de Deus ressuscitando Jesus, não anula nem torna mais brando o sofrimento e a morte pelos quais passou.  Mas não: Se anuncia uma boa notícia, a notícia do perdão. “Arrependam-se e voltem a Deus a fim de que ele perdoe os pecados”. O evento de Cristo, que parecia ter um triste fim, é um início de nova vida diante de Deus e diante dos seres humanos – pecadores/as perdoados/as têm chance de olhar o futuro e a eternidade com alegria e esperança.

Quem sabe, antes de mais nada, é preciso evitar insinuações antisemitas. A acusação feita pelos discípulos – justa sem dúvida – foi usada até por não-cristãos para encetar perseguição aos judeus (nada a ver com o atual estado de Israel!). O ponto alto do texto é o arrependimento e o perdão para recomeçar a vida. Chamo atenção ao detalhe para evitar mal-entendidos.

Essa passagem bíblica enfatiza que a fé cristã está arraigada na tradição dos patriarcas e profetas do Velho Testamento. A história salvífica em Cristo está indissoluvelmente ligada  à história do povo de Israel com todas as suas idas e vindas. A morte vicária de Cristo inclui a chance para os judeus. Aliás, vale lembrar que os discípulos eram judeus e Paulo também era judeu. No caminho, porém, está a conversão. Fica muito claro que o evento de Cristo passa pela cruz e pelo sofrimento. Muitas vezes, na Semana Santa, e principalmente na sexta-feira feira, as celebrações fogem do sofrimento e da morte para ir à ressurreição, à Páscoa. O Tríduo Pascal, aliás, é um bom jeito de não apressar as coisas. Assisti a celebração da última Sexta-Feira Santa chamada Tenebrae que foi impactante porque se leram somente textos alusivos ao dia e se cantaram os respectivos hinos num ambiente de escuridão e silêncio. O tema da ressurreição ficou para as celebrações de domingo, começando às 6 da manhã.  Sem a cruz todo o  evento de Cristo é se torna vazio. A nova vida em Cristo, a dádiva do perdão, a comprovação do amor de Deus por sua criação passa pelo Gólgota e pelo túmulo vazio – os dois! A partir daqui podemos ler a história de patriarcas e profetas, usando o critério de Lutero was Christum treibet ( aquilo que conduz Cristo), a partir daqui podemos ouvir e tentar seguir a missão de ir a todos os povos anunciando o Cristo morto e ressurreto.

Não precisamos nos envergonhar de sermos seguidores/as de um Cristo que na vida e na morte foi humilde; não precisamos maquiá-lo de grande herói tão a gosto de tantos grupos por aí. Quem virou o jogo foi Deus e quem perdoa também é Deus para uma nova vida EM CRISTO. Amém

P.em. Harald Malschitzky

São Leopoldo – Rio Grande do Sul (Brasilien)

Harald.malschitzky@gmail.com

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