Hebreus 5.5-10

Hebreus 5.5-10

PRÉDICA PARA O 5º DOMINGO NA QUARESMA | 17 DE MARÇO DE 2024 | Texto bíblico: Hebreus 5. 5-10 | Harald Malschitzky |

Irmãs e irmãos em Cristo.

Qualquer grupo humano, do menor ao maior, se organiza. Isso começa com as crianças em seus jogos e seus brinquedos: Muito depressa  aparecem os líderes que dão as tintas para a brincadeira funcionar. Em famílias, cidades, estados e grupos religiosos acontece a mesma coisa, muitas vezes com mais malícia do que nos jogos da criançada. Aí se desenvolveram formas muito democráticas bem como radicalmente ditatoriais, ao ponto de um rei francês declarar que o estado era ele (“O estado sou eu”) até “governantes” que se diziam ou eram tidos como semideuses. É bom lembrar que isso existe até os nossos dias! No mundo religioso vamos encontrar o mesmo fenômeno: Líderes religiosos que se dizem ou são encarados  como intermediadores incontestáveis entre os seres humanos e o sagrado. Sabem os que Lutero se opôs radicalmente a essa estrutura hierárquica quando reflete sobre o “sacerdócio universal de todos os crentes” e em outras passagens.

No tempo de Jesus e seu mundo civil e religioso a religião existia a figura do sumo sacerdote que, a rigor era um papel religioso, mas amiúde se confundia – ou era confundido – com poder político. Jesus, quando foi preso, foi levado ao Conselho Superior que estava reunido na casa do sumo sacerdote Caifás. Depois de um interrogatório, concluíram que Jesus havia blasfemado e deveria morrer. Na madrugada seguinte o entregaram, amarrado, a Pilatos. Este, na verdade, não via razão de condenar o prisioneiro à morte, mas diante da gritaria da turba o sentenciou à morte. Uma mistura perigosa entre religião e política!

Por que conto tudo isso? Apenas para compreendermos o texto que vamos ler agora, da carta aos Hebreus, capítulo 5. 5-10.

A rigor a Carta ao Hebreus não é uma carta, mas uma bela exposição do Cristo e sua obra destinada a judeus convertidos, mas que pensavam na estrutura de sua religião de origem. Além disso, ao que tudo indica havia judeus convertidos que ficaram com saudades de sua religião e voltaram atrás. O texto que ouvimos parte da realidade conhecida do sumo sacerdotes cujo papel primordial era oferecer os sacrifícios a Deus – por seus próprios pecados e pelos pecados do povo. Isso conferia a eles um status especial de intermediador entre os seres humanos e Deus!

O autor de nossa carta, procura explicar que Jesus é único e para sempre sumo sacerdote na ordem de Melquisedeque, figura do passado que reunia todos os dons e qualidades para ser sumo sacerdote acima de todos os outros no decorrer da história do povo de Israel. JESUS É O HERDEIRIO LEGÍTIMO E PERENE DE MELQUISEDEQUE – essa é a mensagem central. A diferença entre os sumo sacerdotes e Jesus, é que Jesus não oferece animais em sacrifício, mas – de certa forma – arromba o lugar de sacrifícios oferecendo a si mesmo e derramando o próprio sangue. Os sumo sacerdotes se destacavam até nos trajes pomposos, mas também nos círculos que frequentavam e – não raro – no relacionamento com governantes e opressores. De repente se apresenta uma pessoa bem diferente: Simples, espécie de pregador itinerante, que não tinha medo de fazer contato com doentes, mas até os curava, que transgredia costumes – não a lei de Deus! – que se haviam instalado, como, que sentava com pessoas tidas como pecadoras, que falava com mulheres e até as defendia, que acabou preso e executado numa tosca cruz… que foi ressuscitado e vive! Não se sabe quantos desses detalhes todos eram conhecidos, mas seguramente se conhecia a trajetória desse Jesus de  Nazaré. Não fosse assim, uma carta como a aos Hebreus não teria nenhum sentido. Pois bem, logo esse seria o Salvador, o Messias? De repente não é necessário um intermediário entre Deus e as pessoas, porque o Cristo abriu o caminho em definitivo. E porque isso aconteceu, se pode olhar o mundo pecador com os olhos de Deus, deixando de olhar constantemente para si mesmo.

Até hoje essa grande notícia deveria causar mais impacto, libertando-nos da constante busca meritória na religião e na vida civil, direcionando-nos às pegadas do próprio Jesus e, por vezes, pagando um preço alto por isso. A religiosidade que só busca o próprio bem-estar, a sua própria paz interior, o seu próprio e suposto estar de bem com Deus, não faz parte no seguimento a Jesus. Faz parte, isso sim, enxugar lágrimas, prestar solidariedade, romper com estruturas que escravizam, o que vale também para as igrejas. Tantas e tantas vezes as igrejas são tidas como refúgio momentâneo do mundo, ao invés de ser o lugar para buscar fôlego e ânimo evangélicos para ir ao mundo. Não que nossas comunidades e grupos não devam ser espaço de paz e refrigério, de consolação, mas suas portas e janelas precisam ficar abertas para o mundo.

Que a Quaresma provoque em nós as duas coisas: momentos de reflexão e oração, paz e consolação e nos fortaleça para a vida tão estropiada no mundo.

                                                           Amém

                                                           P.em.Harald Malschitzky

                                                           São Leopoldo –RS

                                                           E-mail: harald.malschitzky@gmail.com

en_GBEnglish (UK)