Marcos 10.35-45 

PRÉDICA PARA O 21º APÓS PENTECOSTES  |  17 DE OUTUBRO DE 2021-10-13 | Texto bíblico: Marcos 10.35-45 |  Há um bom poder | Renato Kuntzer |

Graça e Paz

Há algo que seduz e afeta as pessoas, as suas relações, o que planejam e o que fazem. É o poder. A busca e o exercício do poder. O poder como posse. Muitos desejam o poder. O poder é sedutor. É que faz Tiago e João procurarem Jesus à parte do grupo e pedir por um lugar de destaque quando Jesus sentar-se no trono de seu Reino glorioso. É fruto da expectativa dos que caminham com Jesus, tanto quanto da comunidade para a qual esta direcionada o Evangelho. Predomina uma mentalidade apocalíptica triunfalista que espera por um Messias que seja rei. Eles queriam um rei que fosse forte e dominasse. E Tiago e João querem ter participação nesse exercício do poder. Por isso é compreensível que os demais começaram a ficar zangados com Tiago e João  e então Jesus chamou o grupo todo para perto de si e lhes alertou a respeito do exercício do poder.

Aqueles que experimentaram exercer o poder sabem muito bem como ele domina. O poder controla os atos das pessoas, define o que deve e o que não deve ocorrer, quem é privilegiado por ele. As outras pessoas frente ao poder dançam como marionetes. A conquista e a ascensão ao poder embriaga e seduz pessoas de qualquer classe social ou situação financeira, desde cima até embaixo, das autoridades ao cidadão e cidadã. Como regulador das relações exige obediência e submissão. Impõe ideias e práticas. Dentro de nossos lares ele se revela quando queremos a todo custo fazer valer a nossa opinião como a única. No mundo do trabalho e das atividades profissionais quando as relações se permeiam somente pela obediência e pela hierarquia de cargos, sem uma relação de coleguismo e mútua dependência.

O poder controla as decisões. Ele afirma que os fortes devem fazer a sua vontade prevalecer. Aos poderosos o poder dá a sensação de proteção e de que nada os pode atingir.

Com o poder vem o sentimento de autossuficiência. Eu sou mais eu. Não preciso de ninguém.  É  o sentimento de domínio que debocha dos que vivem das migalhas que sobram. O poder faz aumentar a distância que separa as pessoas.

Em todo o universo há um só bom poder. Esse é saudável, vem de Deus. Se faz ser humano em Jesus de Nazaré e se propaga pelo Evangelho. Por meio de Jesus Cristo, Deus revelou e expos o seu poder nos sinais do Reino de Deus. Não é de opressão e domínio pelo medo e pela violência. É um bom poder de servir a quem necessita. Jesus lembra: vocês conhecem os governadores, as autoridades que governam. Eles mandam e o povo obedece. Aí afirma: entre nós não será assim. Quem quiser ser o primeiro, o mais importante, deve servir os outros. O bom poder que Deus exerce é o do serviço de favor de seus filhos e filhas. E esse é o poder presente nas comunidades cristãs. Lá se revela o poder que serve aos outros. Como fez Cristo ao servir, levar as cargas do próximo, perdoar e amar incondicionalmente.

Para concluir, partilho essa tradução livre do poema de Luiz Espinal:

Senhor,

Existem cristãos mudos, que,

Enquanto não se mexe com eles,

Ficam tranquilos, por mais que o mundo se arrebente.

Não protestam contra as injustiças,

Porque estão escravizados e foram seduzidos,

Comprados pelo medo ou pelo oportunismo.

Outros, porque nada têm como serviço,

Para eles a fé é uma coisa,

Que nada tem a ver com a vida;

Vale só das nuvens para cima…

Nós te pedimos, Senhor,

Pelos cristãos que estão em silêncio;

Que tua palavra lhes queime as entranhas

E os faça superar sua indiferença.

Que não se calem como se nada tivessem a dizer.

Senhor, sabes o que convém à tua Igreja,

Se um fervor de catacumbas

Ou a rotina de uma proteção oficial.

Dá-lhe o que seja melhor,

Ainda que seja a perseguição ou a pobreza.

Livra-nos do silêncio daquele que “boceja”

Diante da injustiça

Livra-nos do silêncio prudente

Para não nos comprometer.

Receamos ter limitado teu evangelho;

Agora já não tem mais arestas, nem espanta ninguém;

Temos pretendido convencer-nos

Que tudo é possível e tudo é permitido

Servir a ti, privilegiar a si próprio e ignorar o próximo.

Senhor,

Livra a tua Igreja do desejo de ser igual a tudo,

Que não pareça uma sociedade a mais

Com seus donos, acionistas,

Privilégios, profissionais e burocracia.

Que tua Igreja nunca seja muda e cega

Uma vez que ela é instrumento da tua palavra

Que prega livremente

Sem rodeios nem covardias

Que jamais se cale diante dos que se escondem debaixo de peles de ovelha

Nem daqueles que se portam como lobos famintos.

Que o Evangelho desse domingo nos oriente na tarefa de  servir e de cuidar. Talvez não consigamos fazer muito, mas que estejamos à caminho.

P. Renato Küntzer

Boa Vista do Buricá – Rio Grande do Sul (Brasilien)

renatok06@hotmail.com