João 9.1-41

João 9.1-41

PRÉDICA PARA O 4º DOMINGO DA QUARESMA | 19/03/2023 |  João 9.1-41 | Odair A. Braun |

Pregação de João 9.1-41

Leitura Bíblica: Efésios 5.8-14 e 1 Samuel 16.1-13                                                 

QUE A GRAÇA DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, O AMOR DE DEUS E A COMUNHÃO DO ESPÍRITO SANTO SEJAM COM TODOS. AMÉM!

(Obs: Conforme anotado no auxílio do PL 47, 19/03/2023, página 111ss, é importante definir quais leituras serão consideradas, pois ao todo são mais de 60 versículos propostos. Essa preocupação se relaciona a capacidade dos ouvintes assimilar, influenciando sobre a qualidade da comunicação).

Os textos que ouvimos falam do poder de Deus em transformar pessoas, habilitá-las à autonomia assim como se deu com Davi e com o cego. Isso é possível porque Deus vê com o coração e não pela aparência. Estes textos falam de luz e desafios, em contraposição à escuridão e desanimo. Há necessidade de luz para promover claridade e transformação porque há cegueira. A palavra de Deus aponta para o caminho que leva da escuridão à luz, da cegueira a visão.

Onde se manifesta cegueira hoje? Como combatê-la? Enquanto Igreja de Cristo, irmãos e irmãs na fé, somos chamados a não nos omitir diante das dificuldades. Somos desafiados a lançar luz sobre a escuridão. No livro Rondônia, a Terra Prometida. Migração e Fé Luterana do Pastor Geral Schach (Editora Sinodal – São Leopoldo 2022) conta-se a história da IECLB na Rondônia. Os desafios foram muitos. As necessidades inúmeras. O desejo de viver em comunidade foi a força que ajudou a superar dificuldades e realizar sonhos.

O livro é um testemunho de fé e perseverança. Um dos capítulos, página 227ss fala como a IECLB ajudou a construir uma pequena escola em Pimenta Bueno/RO, local em que chegavam dezenas de famílias e as crianças não tinham onde estudar. A escola da IECLB tinha somente uma sala de aula e quando abriu, as vagas esgotaram em poucos dias. Um catequista se esmerava no ensino e seus desafios, envolto com os sonhos das pessoas que buscavam nova vida naquela região.

Provavelmente a escola da IECLB tenha sido a primeira escola privada em Rondônia. A igreja nada cobrava de quem ali estudava. Essa escola ajudou a fazer com que o governo federal assumisse o pagamento dos professores e que a administração do Território Federal de Rondônia olhasse para a realidade dos imigrantes. A sala de aula era fisicamente pequena, mas seu significado é grande. Deste modo se promoveu dignidade, inclusão e transformação. Se promoveu luz e claridade, levou-se pessoas a ver direitos como cidadãos. Se combateu a cegueira que nem sempre é física, mas que se manifesta de formas diferentes. Não saber ler é escuridão e dependência. Gera escravidão e falta de perspectivas. Saber ler é luz e dignidade.

Através da atuação a Comunidade Luterana de Pimenta Bueno, assim como em outros lugares em que a IECLB atuou e atua, promoveu-se luz e se combateu a cegueira. Promoveu vida digna e abundante. Ajudou a levar conhecimento, solidariedade, dignidade às pessoas. Essa pequena escola combateu a falta de conhecimento, promoveu organização, incluiu pessoas, promoveu dignidade dos que estavam em busca de sonhos. Como Jesus que restabeleceu a visão do cego, a Comunidade de Pimenta Bueno promoveu visão.

Jesus ilumina e acende o desejo de mudança e novos caminhos. Jesus, a luz do mundo, não nos deixa em dificuldades e miséria. O evangelho deste domingo demonstra isso. Jesus põe em movimento, gera ação, requer atitudes, espera participação. No Evangelho vemos que a atitude de Jesus foi fazer barro com a sua saliva colocando isso sobre os olhos do cego. A atitude do cego foi confiar nas orientações de Jesus. Essa combinação gerou cura, visão, renovação de vida. A atitude do cego foi ir ao tanque de Siloé lavar seus olhos, conforme orientado por Jesus. O resultado foi a volta da visão. Os seus olhos e o coração se abriram e aquele cego decidiu se entregar em confiança e fé a Jesus. Optou pelo caminho da vida e da verdade e teve a vida transformada. Qual é a nossa atitude diante da escuridão e da luz? Entrega a Jesus ou a autossuficiência?

João 9.1ss fala de um cego de nascença conhecido por pedir esmolas. Os discípulos não falam com ele, mas falam dele. Nisso há uma grande diferença. Jesus fala com o cego, toca nele, lhe dá atenção. O cego, para os discípulos, existe como ponto de partida para a pergunta: quem é o culpado? Da mesma forma devemos nos perguntar como estamos agindo frente as necessidades de nossa cidade, de nossa sociedade. Criticamos os maus tratos ao meio ambiente? E como agimos diante dele pessoalmente? Condenamos a derrubada de árvores. Mas estamos dispostos a plantar umas em nosso terreno ou achamos que as suas folhas dão muito trabalho para fazer a limpeza? Pensem nisso!

Jesus desvia do questionamento em torno da culpa e do pecado. Mostra que o cego era uma pessoa que precisava ajuda, tal como em nossos dias pessoas e situações precisam de nosso auxílio. Para Jesus, o cego é irmão de fé e caminhada. Não era objeto, mas imagem e semelhança de Deus. Jesus não estala o dedo e resolve tudo.  O cego acolhe a ação de Jesus que lhe coloca barro sobre os olhos e o envia para se lavar. Ele participa da cura. É sujeito da transformação que Deus proporciona. Como participamos das mudanças na comunidade e na sociedade? Criticamos ou nos envolvemos?

Aprendemos com Jesus que o compromisso é participar da transformação das estruturas que impedem a vida plena, digna e abundante. Somos convidados a ser luz no mundo, iluminando onde ela falta. Jesus é a luz que ilumina, renova e transforma a vida daquele cego e pode fazer isso em nossos dias. Ele é a força que precisamos para temperar o mundo em que vivemos. Jesus foi o ponto de partida para a ação de construir uma escola em Pimenta Bueno e levar esperança para aquelas famílias e crianças que lá se instalavam. Também hoje, em nossas comunidades, onde estamos, podemos nos envolver na transformação de situações, no combate a cegueira deste mundo.

Jesus conduz o cego a fé, cura e transforma a vida dele. Ele quer a cura total concretizada no ato de lavar os olhos no tanque. Somente a cura do corpo, não é o suficiente. O cego aceita o amor de Deus demonstrado em Jesus e dá testemunho. Este amor transforma e renova a vida. Este amor se revela de modo simples, no barro feito com o pó da terra e um pouco de saliva que resulta em seguimento do cego que alcançou a visão.

Jesus se coloca ao lado do cego. O amor e a luz de Jesus fazem do cego uma pessoa que enxerga e transformam sua vida levando-o a dar testemunho. O amor de Jesus se expressa por meio da afirmação: Eu sou a luz do mundo (v.5), e no desafio:  é necessário que façamos as obras daquele que me enviou. Isto vale para nós. Que a luz de Jesus persista ao lado das comunidades de Cristo, nos desafios que ela tem na caminhada, assim como esteve ao lado de quem no passado não mediu esforços para construir uma escola em meio a região amazônica, isolado de tudo e de todos. Essa escola que promoveu vida, conhecimento, transformação na vida de dezenas de crianças e migrantes.

Que possamos viver na luz de Jesus, anunciando sua graça e bondade a favor do mundo. Mas, não basta viver na luz. Devemos buscar ser luz ao próximo, na comunidade, colocando dons a serviço, como a IECLB fez ao construir a escola em Pimenta Bueno/RO para atender as crianças dos primeiros imigrantes da região.

Comunidades da IECLB se alimentam e desejam viver da luz de Jesus. Deste modo devem testemunhar como o cego. Ao ser questionado respondeu: Sou eu (v.9). E perante novo questionamento diz: O homem chamado Jesus fez lodo, untou-me os olhos e disse-me: Vai ao tanque de Siloé e lava-te. Então, fui, lavei-me e estou vendo (v. 11). Jesus e a luz que ele lança fortalece anima a viver e dar testemunho. O cego o fez com alegria. Também nós podemos seguir nessa trilha.

Deus quer que sejamos pessoas e comunidades que testemunham o que alcançamos e experimentamos. A partir disto somos chamados a viver, pregar, testemunhar e seguir em confiança, atuando para promover transformações, dignidade e vida. O exemplo da escola de Pimenta Bueno pode ser trazido para a comunidade e transformado em ações diaconais que mudam a vida de pessoas, que protegem a criação de Deus (Cada qual pode citar um ou dois exemplos do seu contexto).

A luz presente nos textos aquece e ilumina, põe as coisas às claras e as torna visíveis. A luz ilumina e põe a descoberto o que se encontra detrás do questionamento dos discípulos sobre os pecados do cego e sua família. Quando Jesus é questionado, está em jogo um julgamento do cego. É uma pergunta sobre o passado e que não deixa caminho para o futuro. Isso não promove vida e dignidade, não gera inclusão.

Aquilo que Jesus faz ao cego, aplicar barro sobre seus olhos, torna-se luz para a falta de visão das pessoas. Quando o cego obedece e lava os olhos, conforme orientado, volta a enxergar. Sinal do Reino de Deus. Sinal de nova vida e de como Jesus transforma sem fazer julgamentos ou exclusão.

Igreja/comunidade/cristãos devem testemunhar Jesus e não calar diante das dificuldades e

injustiças. Precisa anunciar e denunciar que a justiça deve ser preservada, que o direito vale para todas as pessoas. Jesus, a luz do mundo, ilumina tais situações e o caminho. Ele chama ao envolvimento.

Diante da cura do cego ocorre um interrogatório. Mediante as respostas o cego é expulso da Sinagoga. Jesus o procura e o chama. Jesus aponta para a cegueira dos fariseus e aponta para as cegueiras de hoje. Eles permanecem firmes: acham que veem tudo e que sabem tudo. Como nós nos posicionamos?

Jesus, a luz do mundo ilumina e faz ver. Nosso compromisso é fazer esta luz brilhar para que todos possam ver e nela se inspirar. É nosso compromisso não se preocupar e perguntar sobre o passado ou a culpa de uma pessoa. É nosso compromisso tratá-las de forma tal que sintam o amor de Deus e que este seja visível para todos. A IECLB não fez perguntas se as pessoas de Pimenta Bueno eram merecedoras de uma sala escola. Ela construiu a sala de aulas que fez diferença na vida de dezenas de crianças. Que possamos combater a cegueira do mundo por meio do exemplo de obediência e confiança do cego, conjugado com o exemplo de amor ao próximo ensinado por Jesus. Amém.


P. Odarir Braun

Curitiba – Paraná (Brasilien)

odair.braun@gmail.com

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