Lucas 2,15-21

Lucas 2,15-21

Prédica para o Dia do Ano Novo | 1º de janeiro de 2024 | Texto da Prédica:  Lucas 2,15-21 | Gottfried Brakemeier |

Prezada comunidade!

Qual é a imagem que temos de Deus? Eu sei que esta pergunta pode surpreender. Pois é sabido que Deus é invisível. Não se pode descrevê-lo nem fazer dele um retrato.  Ele não pode ser fotografo nem cabe em gaveta filosófica ou mental. Além disto é bom lembrar que a própria Bíblia proíbe a idolatria. Não admite que se faça retrato de Deus, isto certamente não só em forma de esculturas como também de ideias fantasiosas a seu respeito. Assim o lemos no livro do êxodo (Ex 20.4). Portanto, Deus não pode nem deve ser imaginado.

Mesmo assim, a fala sobre Deus jamais fica no abstrato. A própria Bíblia é disto testemunha. Emprega figuras para Deus, a exemplo de rei, senhor, proprietário de uma vinha e outras.  Na Idade Média prevalecia a imagem do Deus Juiz. Foi este o Deus que meteu medo em Martin Lutero. Vivia atormentado por seus pecados. Achava que Deus só o poderia condenar. Ansiava pelo Deus da compaixão. Como consigo um Deus misericordioso, assim perguntava, até descobrir que Deus justifica por graça e não por obras da lei. Mudara a imagem que tinha de Deus. Confessou que com isso Deus lhe tinha aberta a porta do paraíso.

Da imagem de Deus fala também o texto para a pregação de hoje. Aliás, ele fala de Jesus Cristo, não diretamente de Deus. Mas o que o que ele diz de Jesus é transparente para Deus. Vejamos! Os pastores depois de terem visitado Maria, José e o recém-nascido menino em Belém, voltam para casa, louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido. Ele fazem público o que os anjos anunciaram, ou seja, eles trazem o Natal das esferas celestiais para a terra. É aqui que o Natal deve acontecer. A paz na terra é um projeto ainda não cumprido, e a glória a Deus também. Tudo indica que com a volta dos pastores volta a instalar-se o dia a dia, a normalidade, a que estamos acostumados. A esta pertencem também os tradicionais ritos a que Jesus é submetido: Ele recebe nome, é circuncidado, é apresentado no templo. Tudo de acordo com as prescrições de Moisés. Jesus era judeu. Assim como o currículo cristão costuma iniciar com o batismo, assim o de Jesus com o ritual de seu entorno religioso e social.

Reside nisto um escândalo até os dias atuais. Como é que a cristandade pode apregoar alguém tão humano assim como manifestação divina, como filho de Deus, como salvador da humanidade? É este o motivo da suspeita de a fé cristã ser fruto de uma grande fraude, de uma invenção de seus discípulos. Será verdade? Ora, quem ficar preso às circunstâncias precárias de seu nascimento, dificilmente terá resposta. Jesus nasceu pobre, sem espaço na sociedade, deitado num coxo para animais. E, no entanto, não é esta toda a verdade sobre Jesus. É preciso contemplar a sua vida na íntegra. E então fica evidente que sua biografia está cheia de assim chamados “sinais messiânicos”, ou seja, de vislumbres de sua autoridade divina.

O apóstolo Pedro foi o primeiro a perceber isto. Quando Jesus perguntou pelo que as pessoas diziam sobre ele, os discípulos sabem dizer muitas coisas. A maioria delas considera Jesus um profeta. Mas Pedro diz mais: Ele responde “Tu és o Cristo, o filho do próprio Deus.” Eis o testemunho do evangelista Marcos (cf. cp. 8,27s). É o que se tornou a confissão padrão da cristandade: “Jesus Cristo.”

E com efeito. Lendo a história de Jesus percebe-se sua singular dignidade. Na pessoa dele Deus chega perto da criatura. E ele o faz com misericórdia e amor. Por isto não é por acaso que Jesus ensina a nos dirigir a Deus com a invocação “Pai Nosso”. Antes de ser juiz Deus age como Pai em seus queridos filhos. É o que Lutero enfatiza na introdução ao “Pai Nosso” em seu Catecismo Menor. Vale a pena lembrar. Eis as suas palavras: “Deus quer atrair-nos com estas palavras para cremos que ele é o nosso Pai e nós seus filhos e filhas. Portanto, podemos pedir a ele sem medo e com toda confiança como filhos queridos a seu querido pai.” E de onde vem essa certeza? Ora, ela vem de Jesus de Nazaré que viveu essa certeza de modo consequente até a sua morte na cruz a traduziu em prática exemplar.

Prezada comunidade! Nós iniciamos mais um ano de nosso calendário com este texto. Jesus era um judeu, um simples ser humano. Sim! Ao mesmo tempo, porém, ele veio revelar-nos quem Deus é.  Deus veio ser “homem”. Este é o mistério de Natal. Este é o mistério de Jesus Cristo. E ele quer caminhar conosco. “E eis que estou com vocês todos os dias até o fim dos tempos”. É esta a sua promessa.

  1. Gottfried Brakemeier

Nova Petrópolis, Rs

brakemeier@terra.com.br

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