Mateus 25. 31-46

Mateus 25. 31-46

PRÉDICA PARA VÉSPERA DE ANO NOVO 2022 | 31.12.22 | Texto bíblico: Mateus 25. 31-46 | Breno Carlos Willrich |

A graça de nosso Senhor, Jesus Cristo; o amor de Deus, o Pai; e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vocês. Amém

31 de dezembro, “o ano termina e nasce outra vez”! Mais uma vez nos damos conta que o tempo tem muita pressa, ele escorre de nossas mãos. Novamente precisamos admitir que não conseguimos realizar tudo o que havíamos planejado e nem cumprir o que havíamos prometido. Mas, temos outro ano nascendo: uma nova oportunidade para sonhar, planejar, esperançar e realizar.

Hoje, ao findar o ano de 2022, agradecemos a Deus por ter caminhado conosco a cada dia do tempo que passou, nos alegramos pelos planos que deram certo, entregamos em suas mãos nossas dores e lutos e pedimos perdão por nossos pecados e omissões no ano que termina. Às portas de 2023 entregamos a Deus as metas que traçamos e rogamos sua bênção para o novo tempo que inicia.

Por falar em metas, quais suas metas para 2023? Como você responde a essa questão? A tendência é que lembremos de metas pessoais como mudar de emprego, ganhar mais dinheiro, perder peso, cuidar mais da saúde, beber menos, praticar mais esporte, comprar uma bike, trocar de carro, de apartamento, fazer uma reforma na casa, passar no vestibular, formar-se, noivar, casar, ter filho… Dificilmente ouviremos alguém dizer: Minha meta é praticar a misericórdia. Isso parece não fazer parte de planos para o novo ano. Misericórdia parece ser algo da qual as pessoas se desincumbem na época de natal e então está feito. Nesta época crianças empobrecidas recebem presentes que pediram em sua cartinha ao Papai Noel, famílias carentes recebem cestas básicas, idosos são lembrados e visitados nas casas de repouso, parentes distantes recebem mensagens, o perdão brota com mais facilidade, o abraço parece substituir as mágoas acumuladas no ano. O natal tem esse poder mágico de fazer o amor e as ações que dele proveem encontrarem espaço na vida das pessoas.

Tudo ótimo e digno de louvor, mas não deveria se limitar ao Natal. Há uma música natalina do Grupo Roupa Nova cujo refrão nos desafia com as seguintes palavras: “Se a gente é capaz de espalhar alegria, se a gente é capaz de toda essa magia, eu tenho certeza que a gente podia fazer com que fosse Natal todo dia.”

Esse também é o desafio que Jesus nos apresenta no texto de pregação dessa noite. Na parábola do Grande Julgamento Jesus confronta seus ouvintes com o dilema existente entre fé e ação. Sabemos que não são as nossas obras que nos salvarão, que a salvação é graça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo. Mas também sabemos que a fé sem obras é morta. Não adianta dizermos que temos fé se essa não se concretiza na vida. A fé verdadeira se manifesta na vida do crente em forma de misericórdia.  Alimentar a quem tem fome, dar de beber aos sedentos, acolher aos forasteiros, vestir os que necessitam de roupa, visitar os doentes e os presos e sepultar os mortos – ação esta que foi acrescentada pela tradição da Igreja – formam as sete obras de misericórdia.

Misericórdia significa colocar o coração (córdia) na miséria, na pequenez, no sofrimento, na necessidade (miseri) das pessoas e do mundo. E é para isto que Deus nos desafia, não só no natal, mas também no ano de 2023 e em toda a vida. Dirigir nosso olhar e nosso coração para os que necessitam de pão, de água, de roupa, de acolhida, de abraço, de consolo.

Antes de nos desafiar, porém Deus é o exemplo maior de misericórdia. Para ele o sofrimento humano não passa despercebido. A bíblia está repleta de passagens que relatam um Deus que nos vê. Deus viu o sofrimento do povo no Egito, Jesus viu o doente, o cego, a mulher samaritana, o povo que tinha fome, a sede de água e de palavra, viu o pecador Zaqueu em sua pequenez… O Deus que vê no convida a ver. Cristãos não podem fechar os olhos para a realidade de miséria humana. Não dá pra negar que há fome e sede. As 33 milhões de pessoas que não têm o suficiente de pão, os milhares de lares sem água potável, os moradores de rua, os migrantes em nosso meio não podem ser invisíveis aos nossos olhos. O Deus que nos vê nos convida a ver.

Ver, porém não é o suficiente. O Deus que vê é o mesmo Deus que se compadece e desce a fim de livrar seu povo. O Deus que vê é o mesmo de Jesus que desce e nasce em meio a pobreza, prega o amor, acolhe, alimenta com pão e com palavra e morre na cruz pra nos conceder a salvação que, em nossa miséria humana, não podemos alcançar. O que Deus vê passa por seu coração se torna concreto. O olhar do crente necessariamente passa pelo coração e pela concretude. Misericórdia passa pelo bolso, pela mesa, pela disposição de caminhar com o que pensa diferente, pelo tempo dedicado ao solitário, pela disposição de chorar com os que choram, pelo envolvimento social e político. A prática da misericórdia envolve cruz e sofrimento. O Deus que se compadece e se envolve nos convida ao envolvimento concreto em favor da vida.

O que Jesus não deseja, porém, é que pratiquemos misericórdia como quem espera que cada obra seja um degrau da escada que nos conduz ao céu.  No dia do grande julgamento os salvos dirão: Senhor, quando foi que o vimos com fome e lhe demos comida ou com sede e lhe demos água? Quando foi que vimos o senhor como estrangeiro e o recebemos na nossa casa ou sem roupa e o vestimos? Quando foi que vimos o senhor doente ou na cadeia e fomos visitá-lo? ” Os salvos não praticam misericórdia em troco da salvação, mas o fazem porque são misericordiosos como Deus é misericordioso.

Que no julgamento final não sejamos nós a tentar listar para Deus nossas boas obras, mas seja Deus a nos surpreender com a lembrança da misericórdia que praticamos sem mesmo nos dar conta delas.

2023 está nascendo. Incluamos em nossos pedidos um especial: que Deus nos torne misericordiosos como Ele é misericordioso.

Amém


P. Breno Carlos Willrich

Blumenau, Santa Catarina (Brasilien)

pastorbreno@terra.com.br

 

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