Mateus 5.1-12

Mateus 5.1-12

PRÉDICA PARA O 4º DOMINGO APÓS A EPIFANIA | 29 de janeiro de 2023 | Texto: Mateus 5.1-12  | João Artur Müller da Silva |

Estimadas irmãs e irmãos da comunidade de Jesus Cristo, nosso Senhor!

         Vocês têm seguidores nas redes sociais? Já se preocuparam com o número de seguidores? Todas as pessoas que circulam pelas redes sociais têm seguidores e seguem outras pessoas. Tem gente com mais mil seguidores! E tem gente com mais de um milhão de seguidores! O número de seguidores é importante? Bem, se tem uma coisa que as pessoas buscam nas redes sociais é ter um grande número de seguidores! E em razão disso, existem sites na internet anunciando como ganhar seguidores em pouco tempo e, atenção, gastando pouco dinheiro! Para não dizer que estou blefando, ouçam alguns anúncios que encontrei na internet:

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         E para a surpresa dos consumidores de seguidores até é possível conquistar seguidores sem gastar nada! Acreditem! Ouçam este anúncio que encontrei num site: Como ganhar 1000 seguidores no Instagram de graça?

         Para esclarecer, não estou aqui como garoto-propaganda destes sites nem estou querendo estimular vocês a gastar ou não dinheiro para aumentar o número de seus seguidores nas redes sociais. Mas, então, por que estou falando de seguidores? Qual é a motivação para nós, neste culto, ouvir uma reflexão sobre seguidores?

         A razão é simples, aparentemente, mas à medida que vamos nos aprofundando no significado de seguidores de uma pessoa que viveu muitos e muitos anos antes de nós, o assunto fica complicado e muito sério! E, vejam vocês, num tempo em que não havia redes sociais, nem internet, nem Whatsapp, nem Telegram, nada disso!

         A razão que motiva esta reflexão é que o nosso Senhor Jesus Cristo tinha seguidores! E foi ele que afirmou com firmeza: Se alguém quer ser meu seguidor, esqueça os seus próprios interesses, esteja pronto para morrer como eu vou morrer e me acompanhe (Mt 16.24)!

         Aqui estamos diante de uma situação bem diferente daquela que é estimulada e incentivada com entusiasmo por empresas que querem nos vender seguidores para nossas redes sociais! Aqui estamos diante de um conceito diferenciado de seguidores! Sim, Jesus tinha seus seguidores muito antes de nós pensarmos em termos seguidores nas redes sociais!

         Acabamos de ouvir o relato do evangelista Mateus que, num dado momento, e num lugar  qualquer, Jesus “viu aquelas multidões, subiu um monte e sentou-se. Os seus discípulos chegaram perto dele, e ele começou a ensiná-los.” (v.1)

         Discípulos são seguidores! Discípulos são adeptos. São aprendizes! São novatos!

         E a multidão que seguia Jesus queria mais do que estar perto dele!

         Mas, de onde vinha tanta gente para ouvir Jesus?

         A multidão que seguia Jesus vinha de diferentes locais: vinha gente da Galileia, de Decápolis, de Jerusalém, da Judeia, da região do rio Jordão e de muitos outros lugares! Vejam vocês, que diferente dos tempos atuais, nós não sabemos de onde vêm as gentes que se dizem nossos seguidores nas redes sociais.

         Mas por que essas multidões seguiam Jesus? Por que se deslocavam até onde ele estava? O que elas queriam com Jesus? Qual a motivação que levava multidões a se reunir em torno dele?

         Essas pessoas queriam ouvir a mensagem de Jesus, mas não só! Elas também o procuravam para que ele as curasse de suas enfermidades, que ele expulsasse os espíritos imundos que azucrinavam e importunavam a vida de pessoas, e queriam saber qual era recado de Jesus para viver dignamente e honestamente perante Deus e em relação aos seus semelhantes! Por isso, as multidões andavam atrás de Jesus, e podemos dizer, com segurança, eram seguidores de Jesus. Elas sabiam que Jesus tinha um recado de vida para elas! E as pessoas daquele tempo, como as pessoas hoje, como nós, estavam em busca de sentido para a vida!

         E é para estas pessoas que Jesus começa seu ensinamento dizendo: Felizes as pessoas que… e então ouvimos o conhecido Sermão do Monte, o Sermão das Bem-aventuranças, o sermão que nos encanta, o sermão que soa como uma melodia agradável aos nossos ouvidos! Será mesmo? Sejamos honestos conosco mesmos e com nossos irmãos e irmãs: este sermão de Jesus agrada-nos? Nos cativa? Nos compromete? Nos faz fiéis a ele? Ou não? Vejamos, o conceito de felicidade anunciado por Jesus neste sermão não combina com o conceito de felicidade propagado por muitos gurus modernos! O conceito de bem-aventurança, felicidade, que o Mestre expõe às multidões e aos seus discípulos está em oposição ao que o mundo, a modernidade, os mestres de couching moderno procuram ensinar a quem os segue!

         Não está errado querer ser feliz, hoje! A busca por felicidade não deve ser banida dos nossos propósitos. Mas o que precisamos rever é justamente o conceito de felicidade que nos deve motivar para ações e para orientar nossa vida! E aqui começam as complicações contidas no Sermão do Monte!

         As assim chamadas e conhecidas bem-aventuranças apresentam duas dimensões: a primeira, elas significam alegria, felicidade, satisfação, prazer!; na segunda dimensão, elas contém propostas de ações, ou como alguns teólogos definem, as bem-aventuranças contém ordenanças! Ou seja, ações proativas! E hoje, também ouvimos que precisamos ser proativos! As bem-aventuranças contidas no Sermão do Monte precisam operar transformações dentro de cada pessoa, dentro de cada um nós, dentro da Igreja e dentro da nossa comunidade!

         Nós não sabemos ou sabemos pouco qual foi o eco, qual foi o resultado destas palavras de Jesus na vida da multidão que o seguira até aquele lugar, até aquele monte! Mas sabemos da história da Igreja que muitas pessoas sofreram perseguições, sofreram agruras, sofreram até a morte porque buscaram ser fiéis a Jesus, fiéis ao Evangelho, fiéis à Palavra de Deus! Sabemos que em tempos bem recentes, que a pregação do Evangelho sofreu censura, amordaçamento, e até cerceamento por pessoas ou grupos que discordavam do conteúdo do Evangelho anunciado nos púlpitos das comunidades.

         E hoje, ouvimos o Sermão do Monte! Como prosseguir com esta mensagem anunciada por Jesus à multidão do seu tempo e aos seus discípulos? Se reconhecemos que Jesus veio para as pessoas doentes, e não para as pessoas sãs (Mc 2.17), que ele veio para os pecadores e não para os justos (Lc 5.31), e se reconhecemos que ele quer nos oferecer um sentido de vida que agrada ao Senhor, então precisamos ter ouvidos, mentes e corações abertos para as bem-aventuranças do Sermão do Monte. Pois, mesmo que elas sejam incômodas, impertinentes, e que causam desconforto e desagrado aos nossos ouvidos, elas são da vontade de quem nos criou! Então, se somos seguidores e seguidoras do Mestre Jesus, as bem-aventuranças tem um propósito para nossa vida, para a missão da Igreja e da nossa comunidade, aqui e agora.

         Como o tempo e o espaço desta prédica são limitados, compartilho breves reflexões sobre apenas três bem-aventuranças. Começo com a bem-aventurança do versículo 3: Felizes as pessoas que sabem que são espiritualmente pobres, pois o Reino do Céu é delas. Em outra versão: Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus. E ainda esta versão: Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.

         Tanto no tempo de Jesus como nos tempos atuais o assunto da pobreza e da humildade é controversa e complicada. Muitas pessoas que buscavam Jesus eram socialmente pobres, eram também pessoas que se diziam humildes porque não eram arrogantes como as pessoas de dinheiro, ou também chamadas de ricas! E muitas dessas pessoas eram julgadas por outras exatamente porque não tinham tantas posses, tanto dinheiro, ou porque não tinham tanto prestígio, fama como as pessoas que se destacavam na sociedade no tempo de Jesus. Mas também as pessoas pobres socialmente, as pessoas humildes de espírito, de coração, de formação, são dignas! Tem dignidade! E merecem o respeito e a consideração por quem quer que seja. E aqui as palavras de Jesus vêm ao encontro dessas pessoas rejeitadas, criticadas e muitas vezes ridicularizadas por quem se considera melhor e superior a quem está vivendo no patamar de pobreza no sentido bem amplo! E fica para nós o recado de Jesus: o Reino de Deus, o Reino dos Céus, é destas pessoas! Então, é tempo de rever nossa vida e atitude perante as pessoas que nos cercam!

         A bem-aventurança do versículo 5 diz o seguinte: Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra. Outra versão: Felizes as pessoas humildes, pois receberão o que Deus tem  prometido.

         Manso e humilde não significam covardes, fracos ou frouxos! Quem assim conceitua o ser manso, o ser humilde, não entende o valor e o significado contidos nestes dois conceitos que Jesus utiliza para indicar o caminho da felicidade, o caminho da vida com sentido, o caminho para promover entendimento e acolhimento. Quando falamos em manso, estamos falando em bondade, humanidade, em docilidade, em suavidade! A pessoa mansa, a pessoa humilde, é aquela que traz dentro de si o espírito de paz, de reconciliação, de justiça e da busca por entendimento. A pessoa mansa e humilde abdica do ódio, da vingança e da violência diante das situações que a ela se apresentam! E sua herança, sua recompensa é a terra! Esta bem-aventurança de Jesus faz muito sentido nos dias atuais onde a mansidão perdeu seu significado, perdeu seu lugar, perdeu sua razão de ser! Mas aqui Jesus dá o seu recado: viver em mansidão é viver a amabilidade, a respeitabilidade, a gentileza, a educação, o bem-querer! E quando nos dispomos a sermos mansos e humildes estamos resistindo a todas as formas da maldade, da perversidade e da crueldade! Então, é tempo de rever como nos apresentamos e agirmos diante das pessoas e situações. Sejamos pois, mansos e humildes! E teremos uma boa herança!

         A bem-aventurança do versículo 9 diz: Felizes as pessoas que trabalham pela paz, pois Deus as tratará como seus filhos. Outra versão: Bem-aventurados os pacificadores,

     porque serão chamados filhos de Deus.

              Como conceituar “as pessoas que trabalham pela paz” e aqueles que Jesus chama de “pacificadores”?

              Essas pessoas são as fazedoras de paz. Pois elas se dedicam a atuar em conflitos e levam com sua fé, convicção e aprendizado rumo à paz. E podemos ampliar o conceito de paz para amizade, acordo, conciliação e união! Este conceito ampliado de paz tem a ver com o conceito judaico de shalom, tão almejado pelo povo do Antigo Testamento e tão buscado por eles em muitos textos bíblicos que nos inspiram a sermos pessoas pacificadoras e fazedoras de paz!

              Shalom é identificado com paz e bem-estar entre as pessoas, mas também entre as nações, entre os povos. Lembro aqui a saudação que Jesus e seus conterrâneos usavam diariamente:  Shalom Aleichem. Essa saudação quer dizer: A paz esteja convosco! Para ilustrar esta saudação, menciono a passagem bíblica de Juízes 19.20: Então o velho disse: — Que a paz esteja com você! Tudo o que lhe vier a faltar fique a meu encargo. Só não passem a noite na praça. Vejam vocês que a saudação – Shalom Aleichem – não se resume a um simples desejo, mas ele se mostra em gestos concretos! Algum tempo mais tarde, no começo da história da Igreja  Cristã, São Francisco de Assis adotou semelhante saudação, em latim: Pax et bonum! Paz e bem, traduzido. São Francisco e também as comunidades primitivas fundamentaram esta sua saudação em ensinamentos de Jesus. E o evangelista Lucas, registra em 10.5: Ao entrarem numa casa, digam primeiro: Paz seja nesta casa! A paz é um dos grandes bens que o Evangelho quer difundir entre nós! Promover a paz é um mandamento a ser cumprido pelos seguidores de Jesus e pelas comunidades que carregam o nome de cristãs!

              Quando Jesus ensina sobre a paz, ele tem em vista que as pessoas pacificadoras ou fazedoras de paz atuem em todos os âmbitos da vida. Ou seja, a promoção da paz precisa acontecer em nível pessoal, familiar, social, em nível de amizades, de entendimento entre nações e povos. Reconhecemos que nosso mundo, marcado pela violência, pela prática do “toma lá dá cá”, pela guerra, por regimes totalitários, por regimes que violam os direitos humanos, a paz se torna urgente, necessária e indispensável!

              No Sermão do Monte quem fala é o Príncipe da Paz, o filho do Deus da Paz, aquele que quer ver a sua humanidade viver em Shalom, em Pax et bonum, em bem-estar, sem guerras, sem refugiados, sem torturados, sem trabalho escravo, sem perseguição a quem quer que seja!

              E nós, seus filhos e suas filhas, a Igreja do Senhor, as comunidades cristãs, são desafiadas e comprometidas a serem fazedoras da paz! Então, é tempo de reconhecer que como filhos e filhas do Deus da Paz, e como comunidade cristã, nossa missão é colaborar para erradicar o ódio, o desprezo, a violência, as discriminações entre nós, e assim sermos reconhecidos como filhos e filhas de Deus!

              Que Deus nos ajude, nos incentive e nos inspire a buscar no Sermão do Monte a felicidade, a alegria e o prazer de servir a ele e às pessoas ao nosso redor conforme suas determinações e mandamentos!

         Amém.


P. João Artur Müller da Silva

São Leopoldo – RS, (Brasilien)

E-mail: jocadasilva@hotmail.com

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