Romanos 5.1-11

Romanos 5.1-11

PRÉDICA PARA O 3º DOMINGO NA QUARESMA | 12 DE MARÇO DE 2023 | Texto bíblico: Romanos 5. 1-11 | Harald Malschitzky |

Comunidade do Senhor,  irmãs e irmãos em Cristo.

Martim Lutero, nos idos de 1500, era fustigado pela pergunta: Como é que eu consigo um Deus que me seja gracioso. Na época em que ele vivia e começou sua vida no convento a igreja de então tinha criado centenas de ações para responder a essa: Romarias, jejuns, grandes ofertas, as cruzadas, missas meritórias, indulgências.  Lutero, em particular, jejuava, se confessava diversas vezes ao dia, se autoflagelava, dormia no piso de pedra do convento no frio do inverno… A saúde ficou debilitada, mas o coração continuava inquieto. No seu estudo da Bíblia ele foi descobrindo  que Deus não era um carrasco, só esperando para castigar as pessoas, mas que ele era amoroso e que esse amor o levou a se tornar gente em Jesus de Nazaré, que carregou o pecado humano para a cruz, pagando assim a nossa promissória junto a Deus. Como sabemos da história, essa descoberta levou Lutero a questionar muitas práticas de sua igreja. Ele se deu conta de que Deus concede graça e o ser humano, que, por assim, dizer se apropria dessa graça através da fé.  Isso foi a grande libertação que resultou na Reforma da Igreja e em nova forma de ver as “boas obras”, que antes serviam apenas para interesse próprio, pra conquistar a própria salvação.

Embora hoje a pergunta que Lutero fazia já não esteja tão no centro da fé, continuam práticas para conquistar a Deus, também em nossas igrejas. Temos certa dificuldade de lidar com obras e ações de pura gratidão, assim como Jesus o ensinou certa vez, dizendo que a mão esquerda não  precisava  nem saber o que fazia a mão direita. Temos uma certa dificuldade de aceitar que a vida, paixão e morte de Cristo aconteceu por nós e para nós inteiramente, que nada precisamos acrescentar, que somos libertos de nossa vida truncada com Deus por causa do pecado e, portanto, livres. Livres não para fazer o que nos dá na telha, mas para agir como filhas e filhos de Deus, somos feitos amigos de Deus!  Somos livres e caminhamos em direção ao Reino de Deus que se desenha no horizonte do fim dos tempos. Por enquanto estamos a caminho e no caminho, livres de nós mesmos,  para usarmos nossa vida em favor de outros e da criação.

Comecemos com uma dimensão fantástica dessa libertação. Em outro lugar Paulo afirma que já não pode haver judeu nem grego, nem escravo nem liberto, porque todos somos um em Cristo! Barreiras que nos separam uns dos outros  caem ou deveriam cair. Infelizmente nem ao menos os cristãos ao redor do mundo se dão conta disso: Todos podermos olhar nos olhos uns dos outros apesar de nossas diferenças.  Para minha tristeza li nesses dias que cristãos ortodoxos perseguem cristãos luteranos na Ucrânia onde estes são minoria. Qual é a mensagem que cristãos  passam ao mundo que, por qualquer razão, não quer saber ou não se interessa pela fé cristã?

Cristo nos ter livrado do fardo do pecado nos liberta de nós mesmos também em relação ao mundo e à criação. Libertos do fardo do pecado recobram a visão para projeto de Deus para o seu mundo, um mundo inteiro onde se usa o necessário para viver, mas não se destrói a torto e a direito. O que assistimos não só em nosso país, mas de forma extrema aqui, é a destruição pela ganância, pelo grande lucro antes de mais nada. O ouro garimpado mata a fome? Boa parte de super safras, muito antes de ser alimento, gera dinheiro e só vai ser alimento se os preços forem aceitáveis.

Na vida de José (talvez três mil anos atrás), que foi vendido por seus irmãos para o Egito, onde passou a viver e chegou a ser governador,  mão direita do faraó,  há um trecho emblemático. Durante sete anos houve supersafra de grãos, principalmente trigo.  José organizou depósitos em diversos lugares do país. Quando vieram as safras frustradas o povo tinha comida. E não só isso, foram cedidos grãos a estrangeiros que passavam fome! Será que se pode tirar uma lição?

É ,claro que sim, mas nós sabemos que certos temas não são bem vistos em comunidades, principalmente se eles têm uma dimensão social (garimpo, desmatamento, exploração ilimitada da terra, agrotóxicos, para citar alguns).

Paulo, no texto, cita sofrimentos e para ele isso tem duas dimensões: A sua saúde era frágil (espinho na carne) e o anúncio do Cristo não era aceito pacificamente em todos os lugares, muito pelo contrário, ele foi perseguido e até preso, terminando sua vida na prisão em Roma. Achar que se pode levar uma vida cristã sem problemas é uma ilusão. Pode ser uma simples rejeição em certos círculos, pode ser pelo que dizemos tentando seguir os ensinamentos de Cristo, podem ser inimizades até dentro da família.

Finalmente, o apóstolo propõe algo difícil: Sofrimento gera paciência. Acontece que muitas vezes perdemos a paciência! Realmente  a paciência não cai do céu prontinha. Ela é um exercício, para Paulo, um exercício de fé e esperança. Ainda assim, uma empreitada difícil, mas por isso mesmo um desafio para quem se sabe livre. Peçamos que, através de seu Santo Espírito, Deus nos dê paciência em relação aos outros.

Somos libertos e livres pelo Cristo para viver e CONVIVER em responsabilidade e solidariedade. Amém

P.em. Harald Malschitzky

São Leopoldo – Rio Grande do Sul (Brasilien)

harald.malschitzky@gmail.com

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