Último Domingo após…

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Último Domingo após Epifania | 2 Pedro 1:16-21, Romeu Ruben Martini |

Desde a infância nós aprendemos. Dois exemplos de aprendizado: (1) aprendemos a importância da higiene: tomar banho, escovar os dentes, vestir roupa limpa; (2) aprendemos regras de convivência: ceder o lugar à pessoa mais velha, não levar o que não nos pertence, parar o carro quando a sinaleira está vermelha. Se não obedecermos ao que aprendemos, teremos problemas pessoais e na convivência em sociedade.

Esses exemplos de aprendizado nos ajudam a entender o que o texto da prédica deste culto transmite. O texto é da segunda carta de Pedro, 1.16-21. Vamos recordar: Pedro foi um dos discípulos de Jesus. Se fosse nos dias atuais, poderíamos dizer que Pedro várias vezes sentou com Jesus, tomou cafezinho e conversou sobre distintos assuntos com ele. Conforme os Evangelhos, Pedro presenciou a transfiguração de Jesus (Mt 17.1-5). Pedro andou com Jesus. Não por acaso Pedro tornou-se pregador do Evangelho. E uma das suas formas de pregar o Evangelho foi escrever duas cartas para comunidades cristãs recém fundadas.

Lendo as duas pequenas cartas que Pedro escreveu para comunidades cristãs ainda jovens, lá no século I, logo descobrimos por que ele as escreveu. Na primeira carta, Pedro diz: Bendito seja Deus! Através da vinda de Jesus Cristo, Deus Pai „nos regenerou para uma viva esperança“ (1.3), esperança que em nós é sustentada „mediante a fé“ (v. 5). Por causa disso que Deus em Jesus fez por vocês, e que vocês aprenderam e aceitaram mediante a fé, „vocês são raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamar as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz“ (2.9).

Vamos comparar a mensagem de Pedro com nosso aprendizado desde a infância. Aprendemos regras sobre higiene para viver vida saudável, e aprendemos regras de convivência para que a vida em conjunto seja viável. Pedro lembrou para as jovens comunidades o que elas tinham aprendido: – Isso que vocês ouviram sobre Jesus e que vocês creram e abraçaram por meio da fé, isso mudou a vida de vocês e vai se concretizar no seu jeito de viver e conviver. Em meio as trevas, vocês agora são como lâmpada que ilumina com a luz de Deus.

Lutero, referindo-se às cartas de Pedro, disse: Pedro escreveu para alertar que a fé cristã sem obras não existe. Na carta de Tiago 2.17 lemos: Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma. Por isso é que Pedro, segundo Lutero, „exorta para que as jovens

comunidades se examinem por meio de boas obras e que tenham a certeza da fé, assim como se reconhecem as árvores pelos frutos“ (Bíblia com comentários de Lutero, p. 1191).

Já que mencionamos Lutero, vamos também recordar um ponto central da Teologia Luterana quando o assunto são a fé e as obras. Podemos traduzir esse ponto central assim: Deus nos ama, Deus quer o nosso bem e Deus nos perdoa não por causa das nossas obras, mas porque Ele decidiu assim. As obras – aquilo que fazemos como pessoas cristãs – são a nossa resposta de gratidão ao que Deus fez e faz por nós.

Dito isso, ouçamos agora o texto escolhido para a prédica deste culto. [leitura do texto]

O que Pedro quer dizer às jovens comunidades com esses seis versículos?

Por um lado, Pedro diz: vocês, jovens comunidades cristãs, vocês tiveram a oportunidade de „conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo“ (v.16). E Pedro recorda que as comunidades receberam esse conhecimento de pessoas como ele, ele que foi testemunha ocular de Jesus. Lembram, Pedro tomou cafezinho com Jesus! Pedro recorda: – Eu estive com Jesus lá no morro quando veio a voz do céu que disse „Este é meu Filho amado“ (v. 17). Eu e outros profetas ensinamos a vocês sobre esse Jesus.

Por isso é que essa segunda carta de Pedro trata desde o início de conhecimento e lambrança. Vocês têm o „pleno conhecimento de Deus“ (1.2), o „conhecimento do Senhor“ (2.20). E Pedro afirma que escreve esta carta para „lembrar dessas coisas“ (1.12), para „despertar [os membros] com [essas] lembranças“ (1.13, 3.1).

Como dito acima, isso é o que Pedro lembra por um lado: que as comunidades tiveram a oportunidade de ouvir e receber pela fé o verdadeiro conhecimento de Deus. PORÉM, lamentavelmente, as comunidades correm o risco de seguir „fábulas engenhosamente inventadas“ (v. 16); e são fábulas  que provêm de „particular elucidação“ (v. 20), são fruto de „profecia dada por vontade humana“ (v. 21), escreve Pedro..

Prezada comunidade! Há quem diz que nós, luteranos e luteranas, temos pouco conhecimento bíblico. Não quero discutir isso agora. Ainda que isso seja verdade, é fato que luteranos e luteranas majoritariamente tivemos a oportunidade de frequentar o Ensino Confirmatório. (daria para perguntar: Quem lembra desse período da sua vida?) Aprendemos, por exemplo, os Dez Mandamentos, o Pai Nosso, o Credo Apostólico. Temos esse conhecimento. E esse conhecimento nos é lembrado no Culto, no sepultamento, em programas de rádio das nossas Paróquias, nos Devocionários. Mesmo assim, sejamos sinceros: ao invés de orientar nossa vida por esse aprendizado, gostamos de ouvir fábulas – estórias – as mais absurdas a respeito de Deus e da sua vontade, e arriscamos acreditar nelas e seguir quem as

conta, embora tais fábulas e estórias sejam indefensáveis com base naquilo que aprendemos no Ensino Confirmatório. Vejamos com dois exemplos.

Vivemos num tempo em que vozes insistem que a paz será fruto do uso de armas. Pensem comigo: Jesus ensinou algo que pudesse ser usado como argumento para defender o uso de armas como meio de alcançar a paz? (Silêncio) „Bem-aventudaras são as pessoas pacificadoras“ (Mt 5.9), pregou Jesus. (Silêncio) Na sua entrada em Jerusalém, mesmo sabendo do risco de vida que corria, Jesus não pediu aos seus discípulos para providenciar um comboio do Comando de Operações Especiais, mas solicitou que trouxessem para ele montar uma jumenta (Mt 21,1ss).

Um segundo exemplo. Há hoje um bombardeio de notícias sobre curas e outros atos milagrosos em nome de Deus. Desde o câncer, até unha encravada, passando pela fartura em dinheiro, bens, amores. Promete-se curar e resolver tudo, usando a seleção aleatória de versículos da Escritura. Sim, Jesus curou e não seremos nós a duvidar que Deus ainda hoje faça milagres. Mas, quando Jesus deu a entender que ele era um milagreiro? Ao invés de assumir o papel de milagreiro, Jesus ensinou o que na história da Igreja passou a ser chamado as sete obras de misericórdia: alimentar os famintos, dar de beber aos quem têm sede, vestir os despidos, abrigar os sem abrigo, visitar os doentes, visitar os presos e sepultar os mortos (Mt 25).

No entendimento do evangelista Marcos (Mc 10.45), Jesus traduziu as obras de misericórdia com o verbo servir, diaconar no original, de onde deriva o termo Diaconia, o serviço diaconal, o serviço de amor junto a quem sofre, que é uma das prioridades da Missão na IECLB. Jesus ensinou o milagre que decorre das obras do amor, fruto da nossa fé!

Irmãs e irmãos em Jesus, Deus Emanuel! É tempo de darmos atenção ao que Pedro recordou às comunidades cristãs do seu tempo. Eu sei, é atrativo ouvir e seguir fábulas e estórias que, aparentemente, resolvem todos os problemas da vida num passe de mágica. Mas essas fábulas e estórias não condizem com o ensinamento do Evangelho de Jesus Cristo.

Para o nosso próprio bem, para mais clareza sobre aquilo que cremos, para discernir qual é o verdadeiro papel da Igreja, para que possamos ser verdadeira luz nesse mundo de tantas trevas, convém dedicarmos tempo para recordar e compreender o que é mesmo a vontade de Deus. Para isso, nada melhor do que usar como ferramentas o estudo da Palavra, recordar o que nos foi ensinado no Ensino Confirmatório, dialogar fraternalmente sobre isso, pedindo em oração pela iluminação do Espírito Santo.

E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração em Cristo Jesus (Fp 4.7). Amém.

P.Dr. Romeu Ruben Martini
Porto Alegre – Rio Grande do Sul, Brasil
E-Mail: romeurubenmartini@gmail.com
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