17° Domingo após pentecostes

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PRÉDICA PARA O 17°DOMINGO APÓS PENTECOSTES – 27 de setembro de 2020 | Texto da prédica Mateus 21.23-32, | Enos Heidemann  |

A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vocês.

Irmãs e Irmãos em Cristo!

Quando lembro minha infância, me vem à mente valores que norteavam a vida em família. Os meus pais, em sua autoridade paterna e materna, ensinaram valores e preceitos a serem seguidos na vida em família e na vida em sociedade.

Um olhar ou uma palavra de meus pais bastava. O estabelecido era cumprido. Palavra precisava tornar-se ação. Sabia muito bem o que significava respeitar o conselho e as normas estabelecidas no convívio familiar e social. Muitas vezes, o respeito decorria do sentimento de medo em ser castigado, mas o sentimento de ser amado, cuidado e protegido era sempre maior e me impulsionava a obedecer e seguir os bons conselhos e valores para a vida.

Obediência e autoridade são temas presentes nos textos bíblicos para este domingo.

Na leitura no Evangelho de Mateus 21.23-32 sobressai o relato da Parábola dos Dois Filhos. Penso que ao refletirmos sobre a mesma, é importante entendermos o que antecede a narrativa de Jesus. Antes dessa parábola, temos a descrição da Entrada Triunfal de Jesus em Jerusalém e também a purificação do Templo.

Com tudo que havia acontecido anteriormente, principalmente em relação à purificação do Templo, os chefes dos sacerdotes e os anciãos, os líderes judeus, não estavam nada satisfeitos. Isso os faz questionar a autoridade de Jesus e o interrogam perguntando com que autoridade Ele tinha feito aquilo.

O objetivo deles era buscar uma maneira de comprometer Jesus. Mas com muita sabedoria, Jesus disse que também faria uma pergunta a eles. Caso eles respondessem tal pergunta, então Ele também responderia o que lhe fora perguntado. Jesus então pergunta: quem deu autoridade a João para batizar? Foi Deus ou foram as pessoas?

Esta pergunta parece ter sido terrível para aqueles homens. Eles ficaram sem saída. Eles não podiam responder nem que sim e nem que não. E passaram a dizer uns aos outros: Se dissermos que foi Deus, ele vai perguntar:  Então por que vocês não creram em João? E, se dissermos que foram pessoas, temos medo do que o povo pode fazer, pois todos acham que João era profeta.

Então a resposta que eles encontraram foi a falsidade. Eles usaram de mentira para tentar sair da situação difícil em que Jesus os havia colocado. Por isso responderam: Não sabemos. Jesus disse-lhes então: Nem eu vos digo com que autoridade faço essas coisas.

Em resposta àquela situação, Jesus sabiamente condenou aquele falso comportamento. Ele manifesta a sua repreensão contando a história dos Dois Filhos.

A Parábola fica clara quando se percebe que os dois filhos e seus comportamentos representam dois grupos de pessoas. O primeiro filho, que inicialmente disse não ao pai, mas depois se arrependeu e foi trabalhar em sua vinha, é uma clara alusão aos cobradores de impostos e as prostitutas. Essas eram pessoas excluídas e consideradas indignas perante a religiosidade judaica. Mas embora,  com seu modo de viver,  inicialmente recusassem os mandamentos de Deus, quando elas se arrependiam, passavam a fazer a sua vontade.

Por outro lado, aqueles religiosos judeus agiam como o segundo filho. Aparentemente eles concordavam em seguir a Palavra de Deus e o servir, mas no final acontecia uma visível incoerência entre o falar e o viver segundo a vontade de Deus.

No final da parábola, Jesus deixa bem claro que aqueles desprezados pecadores, estavam entrando no Reino de Deus antes daqueles que insistiam em manter uma imagem aparentemente irrepreensível, mas fatalmente corrompida. Estes últimos diziam que obedeciam a Deus, mas não estavam obedecendo. Na encarnavam a palavra que pregavam.

Desejo agora fazer alguns destaques e trazer alguns pontos de luz para o nosso viver diário:

  1. O Apóstolo Pedro, em 1 Pe 1.17, diz: Quando oram a Deus, vocês o chamam de Pai, ele julga com igualdade as pessoas, de acordo com o que cada uma tem feito. Portanto, durante o resto da vida de vocês aqui na terra tenham respeito por ele (obedeçam a ele).

Respeitar a Deus é obedecer e seguir os seus preceitos e, acima de tudo, reconhecer o seu grande e eterno amor que perdoa, dá vida nova e assim nos liberta por meio do sangue de Jesus Cristo. Isso é graça preciosa. Somos desafiados a levá-la a sério por toda a vida. Se Deus nos ama dessa forma podemos ter certeza que toda sua palavra e bom conselho quer justamente qualificar a nossa vida.

Respeitar a Deus é buscar a coerência entre o crer e viver. É crer na graça de Deus e viver a vida de Jesus Cristo.  Ter um olhar amoroso que vê a necessidade do próximo; um coração que sente compaixão e mãos que agem para mudar a realidade. Assim, a realidade de pecado, dor e morte poderá ser transformada.

Se também hoje nos dirigimos a Deus como filhos e filhas que buscam seu pai ou mãe amorosa, misericordiosa e justa, então que o respeitemos por toda a vida. A sua palavra seja levada a sério, sua vontade seja cumprida e praticada em nossa vida.

  1. O Apóstolo Paulo, porém, nos lembra que: “Todos pecaram e estão afastados da presença gloriosa de Deus. Mas, pela sua graça e sem exigir nada, Deus aceita todos por meio de Cristo Jesus, que os salva (Rm 3. 23-24).

Na Parábola dos dois filhos Jesus dá a entender que seus comportamentos representam dois grupos de pessoas, mas precisamos “lembrar que em diferentes momentos da vida, podemos estar na condição do filho que diz “sim” e “não” vai. E em outro momento podemos estar na condição do filho que diz que “não” vai e depois vai para vinha”. Mesmo que nos sintamos alcançados e carregados pela graça de Deus, somos simultaneamente pessoas justas e pecadoras, que estão num processo diário de santificação.

Lutero diz que “o batizar com água significa que, por arrependimento diário, a velha pessoa em nós deve ser afogada e morrer com todos os pecados e maus desejos. E, por sua vez, deve sair e ressurgir nova pessoa, que viva em justiça e pureza diante de Deus para sempre”. Renovar diariamente e reafirmar o desafio de “ir à vinha” e estar comprometido conscientemente, em palavras e ações, com a causa do Reino de Deus.

  1. Jesus Cristo diz: “Não é toda pessoa que me chama de “Senhor, Senhor” que entrará no Reino do Céu, mas somente quem faz a vontade do meu Pai, que está no céu” (Mt 7.21).

Há pessoas que têm preferido se isolar a interagir com outras. Há pessoas, cujo falar e agir se opõem; pessoas incapazes de se relacionar e assim constantemente geram conflitos; pessoas que não prestam contas daquilo que lhes foi confiado; pessoas que citam e usam o nome de Deus de forma abusiva e desrespeitosa, especialmente no meio político hoje; pessoas cuja postura ética envergonha a comunidade cristã , prejudica a credibilidade e a expansão do Evangelho e entristece, com certeza, o Espírito Santo de Deus; pessoas que se omitem de situações de injustiça e sofrimento. Cada vez há mais pessoas que têm dificuldades de se relacionar, dentro e fora da esfera da Igreja cristã.

Há pessoas, porém, entre nós, que têm dito “eis-me aqui, envia-me a mim”; pessoas que assumem o seu papel  profético de denunciar as injustiças e de promover a justiça em nosso tempo; pessoas  que dedicam seu tempo, bens e dons a serviço ao próximo na e através da Igreja de Cristo Jesus; pessoas que “amam o próximo como a si mesmas”; que “se alegram com os que estão alegres e choram com os que choram”.

Há muitos entre nós, cujo crer se transforma em viver; nos quais o exterior reflete seu interior e que mais que o louvor a Deus cantado, o expressam no amor compartilhado. É assim que a vontade de Deus acontece em nosso meio. É pelo serviço e pelo relacionamento amoroso que somos autorizados a dar um testemunho vivo e verdadeiro acerca de Deus; a manifestarmos “sinais de paz e de graça neste mundo que ainda é Deus.

É pelos frutos que seremos identificados como discípulos de Cristo. É pela maneira de se relacionar e servir em amor que se conhece a Igreja de Jesus Cristo.

Quando sentimos que em Cristo podemos servir e servimos, não haverá mais espaço para o poder que domina, para atitudes autoritárias e arbitrárias, que se sobrepõem e que machucam. Não haverá manifestação do poder, que por ser tão fraco, grita, agride e exige sujeição a sua autoridade. Amor cristão não se representa, porque máscaras não amam!

Fé em Deus é uma grandeza a ser vivida, uma manifestação que “transpiramos” e a transmitimos na maneira como agimos e reagimos.

Somos enviados e enviadas à “vinha do Senhor”. Estejamos certos de que Deus não quer super homens e nem super mulheres, poderosos e poderosas, mas homens e mulheres que reconhecem os seus dons e limites e se sentem amados/as, agraciados/as e por Ele e enviados/as para,  em liberdade e possibilidades, amar e servir. Que desejam tão somente fazer a vontade de Deus no meio e no tempo em que vivem. Amém.

P. Enos Heidemann

Porto Alegre – Rio Grande do Sul, Brasilien

enosheidemann@gmail.com