Mateus 16:13-20

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PRÉDICA PARA O DOMINGO 27 de agosto de 2023 | Mateus 16:13-20 | Baldur van Kaick |

‘’Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo esteja com todos nós.’ Amém

Texto bíblico: Mateus 16:13-20

„Indo Jesus para a região de Cesareia de Filipe, perguntou a seus discípulos: ‚Quem os outros dizem que é o Filho do Homem?‘ E eles responderam: ‚Uns dizem que é João Batista; outros dizem que é Elias; e outros dizem que é Jeremias ou um dos profetas.‘ Ao que Jesus perguntou: ‚E vocês, quem dizem que eu sou?‘ Respondendo, Simão Pedro disse: ‚O Senhor é o Cristo, o Filho do Deus vivo.‘ Então Jesus lhe afirmou: ‚Bem-aventurado é você, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que revelaram isso a você, mas meu Pai, que está nos céus. Também eu lhe digo que você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu lhe darei as chaves do Reino dos Céus; o que você ligar na terra terá sido ligado nos céus; e o que você desligar na terra terá sido desligado nos céus.‘ Então Jesus ordenou aos discípulos que não dissessem a ninguém que ele era o Cristo.“ (NAA)

Prezada comunidade reunida.

I

Jesus é uma figura que pode ser interpretada de diversas maneiras. Existem correntes de pensamento que o veem como um revolucionário social que lutou pela justiça. Para outros, o destaque está na sua mensagem de não-violência. Alguns livros o retratam como psicólogo, enquanto há quem o considere um importante líder espiritual. Nas religiões judaica e muçulmana, Jesus é visto como um profeta que deve ser estudado, mas não como o Filho de Deus. Se realizássemos uma enquete no nosso círculo de amigos, certamente obteríamos uma variedade de respostas.

Na época de vida de Jesus, a situação não era diferente. Quando questionados sobre como o povo o percebia, os discípulos relatam que para alguns, ele era visto como João Batista que havia retornado; para outros, era o profeta Jeremias; e ainda para outros, Elias. Todos esses mencionados tinham em comum a experiência de terem sofrido violência ou, no caso de Elias, não ter morrido de forma convencional mas ter sido levantado diretamente  ao céu. Era esperado que, no final dos tempos, eles voltassem a Israel. Desde o início, portanto, existiam controvérsias em torno de Jesus. E não podemos evitar que tais controvérsias também persistam hoje.

No percurso em direção a Jerusalém, no entanto, Jesus decide questionar seus próprios discípulos. Ele deseja entender o que eles pensam a respeito dele. O discípulo que reage é Pedro. Ele expressa: ‚Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.‘ Ao que Jesus responde: ‚Bem-aventurado és, Simão Barjonas, pois não foi carne e sangue que te revelaram isso, mas meu Pai, que está nos céus.'“

II

Prezada comunidade,

Não há um culto luterano em que não proferimos em conjunto o Credo Apostólico. Ali, fazemos a mesma confissão de fé que Pedro fez. Com isso, nos diferenciamos daqueles que veem Jesus de maneira diferente. É verdade: às vezes, não compreendemos completamente tudo o que estamos dizendo nessa antiga confissão de fé. Alguns não entendem que Jesus desceu ao inferno; outros podem ter dúvidas sobre seu nascimento da virgem Maria. O Credo da Igreja antiga nem sempre é de fácil compreensão. Ele de certa forma sintetiza um mistério, um mistério ao qual apenas Deus concede acesso. E Deus sempre o faz novamente. Ele o fez com Pedro. Por isso, Jesus lhe diz: „Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que te revelaram isso, mas meu Pai, que está nos céus.“ O que Jesus fala sobre seu Pai celestial aqui, o evangelista Lucas repete mais tarde ao narrar um momento na vida de Lídia, aquela mulher vendedora de púrpura da cidade de Tiatira, que estava ouvindo o apóstolo Paulo anunciar o Evangelho. Lucas escreve: „O Senhor lhe abriu o coração para compreender as coisas que Paulo dizia.“ Sempre é Deus que abre o coração para crer em Jesus. Talvez nos recordemos do tempo de ensino confirmatório o que Lutero escreveu quando disse: „Creio que, por minha própria inteligência ou capacidade, não posso crer em Jesus Cristo, meu Senhor, nem chegar a ele. Mas o Espírito Santo me chamou pelo Evangelho, iluminou com seus dons, santificou conservou na verdadeira fé. Assim também chama, reúne, ilumina e santifica toda a Igreja na terra, e em Jesus Cristo a conserva na verdadeira e única fé. Nesta Igreja ele perdoa, cada dia e plenamente, todos os pecados a mim e a todas as pessoas que creem. E, no último dia, ressuscitará a mim e a todos os mortos e dará a vida eterna a mim e a todas as pessoas que creem em Cristo. Isto é certamente verdade.“ (Lutero)

É porque Deus em seu amor abriu nosso coração que hoje cremos em Jesus Cristo, e o confessamos, diferentemente de tantos outros que veem nele um mestre ou personagem histórico do passado. Alguns entre nós sabem o dia em que isso ocorreu. Para outros, Deus gradualmente abriu o coração para a fé ao longo da vida. Os caminhos de Deus são únicos para cada pessoa. E a verdade é que nunca estamos totalmente prontos. A trajetória de Pedro nos demonstra isso. Um dia, Jesus o chamou para caminhar com ele. Pedro não tinha ideia do que o esperava ao seguir esse homem. Mas a cada oportunidade, ele lhe faz perguntas. Certa vez, pede para Jesus lhe explicar a parábola sobre o reino de Deus que ele não compreendeu. Em outro momento, questiona Jesus sobre o perdão e ouve que não se trata de perdoar sete vezes, mas de nunca desistir daqueles que erraram. Pedro deve ter se sentido assustado várias vezes. Ao caminhar sobre o mar, ele tem fé, mas ao ver a força das ondas, perde a confiança em Jesus e afunda nas águas e faz a experiência que apesar de sua pequena fé  Jesus o tira das águas. Mais tarde, negará Jesus, apesar de prometer permanecer ao seu lado no sofrimento.  Pedro não está pronto, nem mesmo depois de Deus abrir seus olhos para crer em Jesus Cristo, o Filho amado de Deus. E é assim, tropeçando, e nunca sendo abandonado por Jesus, que Pedro se torna firme na fé e Jesus faz dele a rocha sobre a qual construirá a sua Igreja.  Nossa jornada de fé não é diferente. Um dia começamos a andar com o Cristo. Tivemos altos e baixos. Alguns estão no começo, outros já deram muitos passos nesta caminhada. Todos e todas ainda estamos a caminho. Precisamos dele e de sua presença em nossa vida. E ele não desiste de nós, assim como não desistiu de Pedro.

III

Tive o privilégio de assistir muitos anos atrás a uma palestra ministrada pelo pastor, professor  de teologia Helmut Gollwitzer (1908-1993). Perguntado sobre o significado de Jesus em sua vida, ele respondeu, e eu menciono sua resposta de memória:

“Imagino que vocês não estejam me perguntando se Jesus é para mim o Cristo, o Messias,  o Filho do Homem ou o Filho de Deus. Vocês desejam saber o que tudo isso significa para mim em minha vida pessoal. Assim compartilho que, ao longo da vida, enfrentei muitas dificuldades. Houve ocasiões em que me senti sozinho e angustiado, como muitas pessoas. Nesses instantes escrevia em algum lugar o nome Jesus e falava com ele, e logo não me sentia mais sozinho, mas consolado e protegido. Em outras ocasiões lhe fiz perguntas, e ele nunca deixa de responder-me. Ao redor de mim há pessoas com quem convivo e que eu amo de verdade. Contudo sempre cruzo com quem me é estranho e antipático, e minha tendência natural é afastar-me dessas pessoas. Quando isso me acontece eu ouço Jesus dizer que também essas pessoas são amadas por ele e ele me ensina a fazer delas pessoas dignas de meu cuidado e atenção. Assim já não posso me comportar como quis de princípio. Ele alarga constantemente  o meu horizonte e me move a me interessar também por quem sofre e ser criativo quando se trata de ajudar. Até hoje, Jesus não desistiu de mim, mesmo diante de minha colaboração tantas vezes lastimável em sua obra. Ele me dá a entender que me quer ao seu lado, contribuindo com sua obra, o que sempre me surpreende.”

Com essas palavras, o professor Gollwitzer nos mostra o significado de Jesus, o Cristo, o Filho amado de Deus, para a nossa vida e que caminhar com ele faz uma grande diferença na caminhada pessoal. Não se continua mais o mesmo de antes. A presença do Cristo vivo é fonte de consolo, mas também motiva a modificar o comportamento. Quando nossa tendência natural nos leva a focar somente em nós mesmos, ele realiza um milagre, tornando-nos abertos aos outros e criativos para prestar auxílio. Assim, começamos a ser uma bênção para próximos e distantes.

Quando ouvimos o Evangelho, são essas as atitudes que percebemos em Jesus. Em todas as páginas dos Evangelho vemos Jesus ao lado daqueles que sofrem. Ele alimenta os famintos, vai ao encontro dos pobres e os chama de bem-aventurados, se aproxima de leprosos e os cura. Ele abençoa crianças e dá espaço para mulheres ao seu lado, algo que nenhum mestre da lei fazia naquela época. Não há página no Evangelho que não revele o amor de Jesus Cristo por aqueles que sofrem. O amor é sua marca, e por isso também é a marca daqueles que confessam, como nós, Jesus como o Cristo, o Filho de Deus, nosso  Senhor.

IV

É para aprender isso que, no final do Evangelho deste domingo, Jesus escolhe Pedro como a rocha sobre a qual construirá sua Igreja. Pedro transmitirá o Evangelho e os ensinamentos de Jesus. Em Cesareia de Filipe, os discípulos ainda são ordenados a silenciar sobre quem é Jesus. Porém, após a ressurreição e o Pentecostes, eles anunciarão a boa nova e os ensinamentos de Jesus em todos os lugares. O Evangelho e os ensinamentos de Jesus são a chave que abre as portas para o Reino de Deus.

O Evangelho então anunciado é o mesmo que ouvimos hoje na Igreja de Jesus Cristo. Com ele, Deus nos abre as portas para o seu Reino e para uma vida abençoada em conformidade com sua boa vontade.

Desejo que Deus nos guarde e preserve neste caminho e nos abençoe na semana que está diante de nós.

Amém.

‘Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos nós.’ Amém

Pastor em. Me. Baldur van Kaick

Curitiba/Paraná – Brasil

bvankaick@gmail.com