Lucas 13. 31-35

· by predigten · in 03) Lukas / Luke, Beitragende, Current (int.), Diogo Rengel, Kapitel 13/ Chapter 13, Neues Testament, Português, Predigten / Sermons

PRÉDICA PARA O 2º DOMINGO NA QUARESMA | 13 DE MARÇO DE 2022 | Texto bíblico: Lucas 13. 31-35 | Diogo Rengel

Você já teve a experiência de precisar arrumar o seu cabelo diante de um espelho embaçado? Ou ainda, dirigir com um carro em que o para-brisas estava embaciado? E você, então, precisava se manter focado tentando enxergar alguma coisa diante dos olhos? Nessas horas tudo fica embaralhado, confuso, difícil de ter clareza. O próprio Paulo faz uma associação muito interessante sobre isso quando disse que a vida de fé, muitas vezes, é como olhar pra um espelho embaçado: Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas, então, veremos face a face. Agora conheço em parte; então, conhecerei plenamente, da mesma forma como sou plenamente conhecido (1 Co 13.12). E, lá e cá, tudo permanece estranho, ilógico. Mas, seguimos confiando sabendo que Deus nos guarda.

Indo adiante, pensamos na obscuridade em outras coisas. Quantas vezes estamos diante de situações em que nos perguntamos: Qual é a vontade de Deus aí? Nem sempre é fácil discernir. E nos perguntamos: Será que é minha vontade ou vontade de Deus? E tudo fica embaçado novamente. Quantas vezes planejamos e sonhamos sem, ao mesmo tempo, nos perguntarmos: Será que também é plano de Deus pra mim? Parece que, às vezes, nós queremos incutir os nossos planos e vontades na mente de Deus e não experimentar o contrário. Como saber, afinal?

O texto desse domingo de Quaresma traz reflexões muito interessantes sobre os momentos prévios a entrada de Jesus em Jerusalém, antes de sua crucificação/ressurreição. Poderíamos dizer que o texto traz um contraste entre a agenda do homem diante da agenda divina. Ou ainda, os planos do homem diante dos planos do próprio Deus, que, na essência, são estranhos ao homem. Você é convidado a leitura.

Naquela mesma hora, alguns fariseus vieram para dizer-lhe: Retira-te e vai-te daqui, porque Herodes quer matar-te. Ele, porém, lhes respondeu: Ide dizer a essa raposa que, hoje e amanhã, expulso demônios e curo enfermos e, no terceiro dia, terminarei. Importa, contudo, caminhar hoje, amanhã e depois, porque não se espera que um profeta morra fora de Jerusalém. Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir teus filhos como a galinha ajunta os do seu próprio ninho debaixo das asas, e vós não o quisestes! Eis que a vossa casa vos ficará deserta. E em verdade vos digo que não mais me vereis até que venhais a dizer: Bendito o que vem em nome do Senhor! Lucas 13:31-35

Não é um texto tão simples. Jesus traz palavras duras contra Herodes num momento em que os fariseus lhe fazem algumas sugestões de fuga. Aliás, causa estranheza que a seita dos fariseus, sempre incitando a maldade contra Jesus, agora, apareçam com discurso protetor diante Dele: “Olha, Jesus, melhor seria você fugir. Herodes quer lhe matar!”

Alguns até sugerem que o próprio Herodes, talvez, tenha enviado aqueles fariseus ali, a fim de evitar que Jesus tomasse o seu trono. Pode ser! É bem verdade que Jesus ia ganhando espaços, mas não era desse tipo de reinado que seu Reino era feito. O tetrarca Herodes estava equivocado. Herodes era um cidadão sanguinário, já havia tirado a vida de João Baptista (também uma figura popular), não seria diferente com Jesus.

O que Jesus vai fazer? Ouvir os fariseus? Se preocupar com o perigoso Herodes? À quem ouvir agora? A resposta de Jesus está no versículo trinta e dois:  Ide dizer a essa raposa que, hoje e amanhã, expulso demônios e curo enfermos e, no terceiro dia, terminarei. Em outras palavras, Jesus está dizendo que o vaso não determina o que faz o oleiro. Será que Jesus, sendo o próprio Deus, não sabe o que deve, ou não, fazer? Ele sabe!

Nós não definimos a agenda e os planos de Deus, Ele o faz! Mesmo os discípulos não entenderam muitas coisas que Jesus fez, apenas mais tarde. Quando Jesus avisa que precisa ir à Jerusalém e sofrer muitas coisas, por exemplo. Pedro reprova o discurso de Jesus (Mt 16.21-23). Os mesmos discípulos, em outros momentos, fizeram sugestões “descabidas” para Jesus imaginando que Ele não sabia muito bem o que fazer. Por isso, diante da descabida sugestão dos fariseus, Jesus (como alguém que pressupõe a ligação entre eles e Herodes), pede que eles mandem um recado para Herodes. E o chama de Raposa! Raposa era uma figura de linguagem que representava tanto a astúcia de alguém como também a falta de importância. Ao mesmo tempo, nós sabemos que as raposas têm muita malícia. Ou seja, poderia ser tanto uma referência a maldosa astúcia de Herodes como um menosprezo a ele. Jesus não cede nem à seita dos fariseus nem ao tetrarca.

Aliás, quantas raposas por aí! Os Herodes estão por aí também hoje, sentados nos seus tronos, fazendo suas maldades. Às vezes, até “em nome de deus”, falando sobre um Deus que não conhecem intimamente. Um Deus com o qual não se relacionam, do qual não experimentam água da vida, nem perdão, nem reconciliação, nem transformação. Mas também estes são alvos do amor redentor desse Deus. E a nossa tarefa é interceder também pelas raposas deste mundo. Nem sempre é fácil.

Jesus, onisciente, avisa que terminaria a sua missão. Por isso diz: No terceiro dia, terminarei. Interessantemente, essa palavra tem a mesma raiz da última palavra dita por Jesus, na cruz: tetelestai. Ou seja, Jesus sempre completa e consuma aquilo que é a Sua Vontade, não somos nós que definimos a agenda do nosso Deus, nem os planos, nem os desígnios. Que triste seria se fosse assim.

Certa vez, alguém disse que o jeito mais fácil de fazer o nosso Deus dar boas gargalhadas era contando pra ele sobre os nossos planos. Os nossos planos são frágeis e, não raro, equivocados. Por isso podemos ouvir no Antigo Testamento: Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o Senhor, porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos. (Is.55.8,9).

Com isso, nós também aprendemos que nós não determinamos nada para Deus. Tão comum ouvir isso no contexto brasileiro de líderes religiosos. Agem como se Deus é que fosse servo e não Senhor. Nós é que somos servos. E queremos ser obedientes a esta vontade. Mais do que isso, queremos entender essa vontade para poder andar no reto caminho do Senhor.

Creio que esse texto também reflete consolo pra nós! O consolo de que nada pode tirar a soberania de Deus estar no controle de cada situação, mesmo quando não entendemos o que está acontecendo. Mesmo quando o espelho nunca esteve tão embaçado. Mesmo quando eu vou pisando, mesmo sem saber se o chão vai estar embaixo. Por isso, no caminho, às vezes, tristes, cansados, abatidos, uma certeza: Ele completará a sua obra em cada um e cada uma que se compromete a caminhar em fidelidade com Ele. E isso é consolo para dias tão duros! Ele é Rei soberano, nós, servos.

E por último, creio que a oração da Igreja precisa ser: Senhor, faze-nos conhecer a “Tua agenda!” e que, ao mesmo tempo, “Tua agenda” seja a nossa! Ou seja, que Ele mostre o seu caminho para que, com alegria, cada um dos seus filhos e filhas possa caminhar por ele. Andar nos caminhos e nos planos de Deus é caminhar em segurança, como ovelha que é guiada pelo seu Pastor.

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Diogo Rengel

São José – Santa Catarina (Brasilien)

diogo_rengel@hotmail.com