
Jesaja 24,1-2a,14-18
PRÉDICA PARA O 14º DOMINGO APÓS PENTECOSTES | 25 de agosto de 2024 | Texto para a prédica: Js 24.1-2a, 14-18 | Stéfani Niewöhner
“Eu e a minha casa serviremos o Senhor”. Essa frase de Josué foi dita em um momento muito importante da história do povo de Deus e até hoje ainda ecoa em lembranças de confirmação e em certidões de bênçãos matrimoniais.
Para que possamos compreender esse exato momento da história do povo de Deus, precisamos voltar ao primeiro livro da Bíblia. Conforme Gênesis 12, Deus chamou Abraão, ainda chamado de Abrão, para deixar sua casa e seguir para uma nova terra. Podemos dizer que esse chamado foi acompanhado de 3 promessas: 1) receber uma nova terra; 2) ter muitos descendentes; e 3) ser uma bênção para todas as famílias da terra. Abraão aceita o desafio, se põe em movimento e, chegando em Siquém, região montanhosa de Canaã, Deus mostra a Abraão a terra que será de sua descendência (Gn 12.6). Ali, ele constrói seu primeiro altar ao Senhor.
No livro de Josué, vemos essas promessas sendo cumpridas. Quanto à primeira promessa, o livro de Josué relata a terra prometida sendo “conquistada” através de algumas batalhas entre os israelitas e os cananeus (Js 1-12). Quanto à segunda promessa, vemos a terra sendo distribuída entre as tribos de Israel, uma grande nação (Js 13-24). Quanto à terceira, podemos observar a inclusão de outros povos no povo eleito que agora é chamado à decisão se irá servir a outros deuses ou ao Deus Javé que o libertou da escravidão e lhe deu a terra de Israel (Js 24).
Muita história se passou desde esse chamado de Abraão. No livro de Gênesis, acompanhamos a trajetória dos patriarcas e das matriarcas. No livro de Êxodo, lemos sobre o tempo de escravidão no Egito e sobre a libertação rumo à terra prometida, sob a liderança de Moisés. De Êxodo a Deuteronômio, acompanhamos a caminhada rumo à terra, e vemos a importância da aliança que Deus estabelece com seu povo no monte Sinai, trazendo as leis para preservar a liberdade e para que a vida em comunidade fosse possível. Depois da morte de Moisés, Josué é escolhido como sucessor para seguir guiando o povo rumo à terra. Depois desta longa e difícil jornada, Josué precisa realizar uma importante tarefa: a renovação da aliança com Deus, pois anos se passaram e novos povos se uniram às tribos de Israel, trazendo suas culturas e costumes religiosos, como por exemplo, a adoração a outros deuses. Além disso, durante a travessia no deserto, houveram momentos de incertezas e dúvidas, onde o povo se deixou levar e voltou a adorar outros deuses. Agora, em Siquém, junto ao primeiro altar ao Senhor erguido por Abraão, é que esta aliança será renovada.
Josué reúne todas as tribos e chama seus líderes: anciãos, chefes, juízes e oficiais. Então, ele traz detalhes da história do povo, destacando a companhia e a proteção constantes do Senhor (2b-13). Com essa retrospectiva, Josué quer mostrar que buscar outros deuses seria o mesmo que deixar de fazer história, ou pior, retroceder na história. Isto seria um gesto de ingratidão e abandono ao Senhor que caminhou junto do povo até aqui. Depois dessa viagem ao passado, Josué fala sobre o presente e o futuro do povo. Nessa assembleia, cada um deve decidir se o Deus de Abraão, Isaque e Jacó continuará sendo o Deus das tribos de Israel.
Josué dá a sua resposta: Eu e minha casa serviremos ao Senhor. Minha família vai ensinar as próximas gerações sobre nosso Deus, que nos acompanhou, nos libertou e cumpriu suas promessas.
Após a fala do líder Josué, o povo responde com firmeza. Eles decidem que também vão servir ao Senhor. Essa decisão não acontece ao acaso. Ela acontece como resposta, como gesto de reconhecimento à companhia e à proteção constantes de Deus. E servir a esse Deus significa abandonar outros deuses. Essa aliança tem a fidelidade como uma via de mão dupla. Fé verdadeira não dá as costas àquele que lhe foi fiel. O povo reunido diante de Josué decide que também servirá ao Senhor, pois ele já é o Deus deles. Sua fé se sustenta no agir de Deus no passado e no presente e em suas promessas para o futuro.
Nossa história só é possível por causa da história dos nossos antepassados. Temos muitas fontes de aprendizado, mas a mais fundamental delas vem da nossa casa. Quantos valores são passados de geração em geração! É no núcleo familiar, através do exemplo, que a criança começa a aprender sobre a fé em Deus e sobre a vida em comunidade.
Todas as pessoas que decidiram servir ao Senhor assim como Josué, confiaram que a caminhada da vida seria melhor se feita com Deus. Isso não significa que não enfrentariam problemas ou que não passariam por dificuldades, mas, que jamais as enfrentariam sozinhos, pois Deus estaria acompanhando na jornada, rumo àquilo que Ele nos tem prometido, assim como foi com Josué.
O texto de hoje nos convida a reflexão:
– O que significa dizer hoje: “Eu e minha casa serviremos ao Senhor”? Em casa, na família, na escola, no trabalho, na comunidade, no país, no mundo?
– Se olharmos para a nossa história, quais são os momentos que podemos trazer à memória para atestar a presença e cuidado de Deus em nossa vida? Quais são os feitos de Deus que carregamos conosco como base para seguirmos firmes na decisão de servi-lo?
Deus nos escolheu primeiro. Somos seu povo. Mesmo assim, ainda temos uma escolha a fazer: se queremos servir outros deuses (o egoísmo, a autossuficiência, a ganância, o nosso político preferido, o dinheiro, os bens, os vícios, o desrespeito, a violência…) ou se iremos nos comprometer, em resposta, ao Deus que já nos escolheu?
Lembrem-se sempre: Deus cumpre suas promessas e nos acompanha na caminhada da vida. Ele se fez e se faz fiel junto ao seu povo. É por perceber e confiar na ação de Deus junto o seu povo que, Josué, em frente a multidão, pode dizer com convicção: eu e minha casa serviremos ao Senhor. O texto nos pergunta: a quem serviremos? Que possamos fazer da resposta de Josué, a nossa resposta, na nossa casa e na nossa família. Amém.
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Pa. Stéfani Niewöhner
Barranco – São Lourenço do Sul – Rio Grande do Sul (Brasilien)
stefaniniewohner@gmail.com