A VÉSPERA DE NATAL 2020

· by predigten · in 03) Lukas / Luke, Beitragende, Current (int.), Kapitel 02 / Chapter 02, Neues Testament, Português, Predigten / Sermons, Scheila dos Santos Dreher

Texto bíblico: Lucas 2.1-7, | Scheila dos Santos Dreher |

Querida irmã e querido irmão em Cristo!

É véspera de Natal e nós estamos, ainda, em meio à pandemia. É possível Natal sem comunidade reunida presencialmente ou com o distanciamento regulamentar de 2m entre as pessoas, nos templos!? É concebível essa ocasião com celebração live ou virtual? Faz sentido festejar o nascimento de Jesus sem reunir a família em torno da mesa, num espírito de comunhão e de alegria? Haverá graça em um Natal com abraços restritos e máscara no rosto? De fato, nosso tempo é marcado por incertezas.

Assim lemos em Lucas 2.6b-7. “E aconteceu que, enquanto estavam em Belém chegou o tempo de a criança nascer. Então Maria deu à luz o seu primeiro filho” (BLH). Felizmente, a nossa alegria provém de notícia que transcende as restrições que experimentamos. O acontecido há dois mil anos acalenta o coração e envolve-nos com esperança, porque o Filho de Deus, Cristo Jesus, é nascido entre nós. Ele teve acesso à nossa casa, em meio à pandemia, ou nem mesmo Jesus teve permissão para entrar, nesse período!? Essa pergunta carece nossa atenção, nesta noite.

Segundo ordem do Imperador, seria realizado um censo e todos deveriam se registrar, cada um na sua própria cidade (Lucas 1.3). Censos são importantes porque fornecem uma dimensão mais precisa da população e ainda permitem outras informações preciosas para uma boa gestão do meio público. Desconfio, porém, que a intenção do governante, nesse caso, era aumentar a arrecadação de impostos e fortalecer suas frentes militares.

Conforme o evangelista Lucas, José deveria se apresentar na cidade dos seus antepassados: Belém, que ficava nas proximidades da grande Jerusalém. “Belém significa “casa do pão”. Belém é o berço de Noemi. Quando em Belém faltou pão, Noemi e Elimeleque foram buscar sua sobrevivência em terra estrangeira. Anos mais tarde Noemi retornou a Belém, viúva, sem os dois filhos, agora falecidos, na companhia de Rute, uma das suas noras. Rute casou-se com Boaz, parente de Noemi. Rute foi a mãe de Obede, que foi o pai de Jessé, que foi o pai de Davi. O profeta Miquéias anunciou que de Belém, da terra do rei Davi, sairia o rei de Israel, o qual traria a paz. (Miquéias 5.2-5a). O evangelista anuncia que o bebê que nasceu é de linhagem real [visto que] José era descendente do rei Davi (Lc 2.4). Afora esta referência ao nome de Davi, não há nada a indicar realeza no relato. [Aliás,] Belém não passava de uma cidadezinha cuja população sequer somava mil pessoas. [Além disso…] Um cocho, onde se punha a comida para os animais, está muito longe de ser um berço real.” (Dreher, Scheila dos Santos, Lucas 2.1-7 – Göttinger Predigten 2015). Realmente, Deus é surpreendente: não pensa como ser humano pensa e se revela de modo inusitado, para incluir sob o seu amor todas as pessoas!

Que situação complicada enfrentaram Maria e José – não é mesmo!? – “(…) pois não havia lugar para eles [para a família] na pensão” (Lucas 1.7). De algum modo, o parto foi possível, mesmo sem a assepsia necessária e sem a presença de uma parteira. Felizmente, ao que tudo indica, Maria podia contar com José! Em momento anterior, quando Maria soube que estava grávida, um anjo cuidou para que José fosse devidamente informado de que o bebê da sua futura esposa seria o filho de Deus; com isso, estava preservada a vida de Maria que, caso contrário, poderia sofrer pena de morte por encontrar-se grávida, estando de casamento contratado com José. Feliz parceria a que se estabeleceu aí, entre esse casal, graças à intervenção divina!

Meditando sobre o texto, não pude evitar alguns paralelos com os nossos dias: É verdade que, atualmente, tal viagem não seria cogitada, por apresentar alto risco de contaminação! Além disso, resolvemos questões semelhantes por meio eletrônico. Mas temos visto muita gente que não encontrou lugar apropriado para cuidar da sua saúde, assim como aconteceu com Maria. No auge da primeira onda da pandemia, faltaram leitos. Agora, novamente. Milhares de pessoas tiveram sintomas da covid-19, mas não foram testadas, de modo que não é possível precisar quantas pessoas, exatamente, contraíram o novo coronavírus em nosso país. O Brasil chora suas muitas perdas! O mundo lamenta! De qualquer modo, mesmo o nascimento de uma criança em um hospital, atualmente, implicará em risco de contágio.

Por outro lado – vejam bem – José e Maria foram resilientes. Sem uma oferta razoável de pernoite, improvisaram! O bebê sobreviveu e os animais da estrebaria puderam se alegrar, em primeiro lugar, com a festiva movimentação: e então, chegaram os pastores [e, talvez, também pastoras] de ovelhas. Depois, gente de longe também veio visitar a criança recém-nascida. A missão do menino Deus era singular; por isso, não se cogitava desanimar, mesmo diante das dificuldades. Assim também a vida das pessoas precisa ocupar o topo das nossas prioridades, especialmente neste período. A pressão popular precisa vencer as disputas político-ideológicas em torno da disponibilização de uma vacina, porque a saúde é direito de todas as pessoas. Nesse meio tempo, cabe a cada uma e a cada um de nós assumir com convicção a defesa pela vida da outra pessoa, sem relaxar nos protocolos de prevenção. Não viemos até aqui pra desistir agora; certo!?

“Talvez, possamos ajudar a reescrever o final do texto do evangelista Lucas (…), testemunhando assim [sobre o Natal de 2020]: E o menino Jesus foi acolhido em cada coração, em cada lar. Sua presença se fazia sentir no perdão que era concedido, no ouvir atento, no abraço que consolava, no pão que era partilhado. O amor de Deus, em Jesus, se refletia em relações de tolerância, de solidariedade e de cuidado mútuo.” (Dreher, Scheila dos Santos, Lucas 2.1-7 – ibidem) As profissionais e os profissionais de saúde continuavam dando o melhor de si – querid@s! – para preservar a vida de quem se encontrava sob os seus cuidados. As autoridades, percebendo o esforço da população, decidiram agilizar as medidas públicas pertinentes à situação; afinal, cada vida importa! Mesmo em meio à pandemia, os olhos brilhavam de alegria com a troca carinhosa de mensagens pelos meios virtuais, na esperança de um abraço presencial bem amoroso, em breve. Abençoado Natal!

Pª Mª Scheila dos Santos Dreher

Porto Alegre – Rio Grande do Sul, Brasilien

drehersantos@uol.com.br