
Anúncio da Palavra e…
Anúncio da Palavra e Exercício da Compaixão – Essência da Igreja! | 2º Domingo após Pentecostes – 14 de Junho de 2020 | Mateus 9.35 -10.8 | Werner Kiefer |
Pandemia: Fique em casa. As consequências desta situação foram de isolamento social, cidades vazias, o ar ficou mais puro e a natureza bateu palmas. Enormes problemas na economia surgiram: desemprego, empobrecimento, consequências que carregaremos por um bom tempo.
A COVID 19 criou uma nova dinâmica familiar, pela proximidade contínua no lar. Ao mesmo tempo, experienciamos a saudade em relação aos colegas de trabalho, amigos, do abraço que deveriam ser agora guardados; e muitos tiveram de sepultar seus entes queridos distância. Os nossos rostos também se modificaram com o uso da máscara. Perguntas surgiram: quem somos ainda diante de um vírus tão minúsculo, mas que teve o poder de parar o mundo?
Acolhemos esta situação, tendo como luz o evangelho deste domingo, que fala que Jesus andava pelos povoados. Anunciava a boa nova de que o Reino de Deus está perto. Este anúncio acontece num mundo enfermo. O ser humano adoeceu, anda vagando sem destino, tal qual ovelhas sem pastor. Não há uma voz em que possam confiar e reconhecer como guia. Muitas lideranças não inspiram confiança, antes promovem insegurança. O mal infectou a vida tal qual a COVID-19. Este não está no telhado de nossas casas, mas habita conosco, faz parte de um sistema que adoeceu o planeta. O apóstolo Paulo vai dizer assim aos romanos e também a nós, hoje: toda criação sofre e geme dores insuportáveis.
Jesus acolhe esta realidade e se compadece da sua criação. A compaixão é compartilhada com os discípulos que são chamados para superação desta enfermidade. Estes recebem autoridade para expulsar os espíritos maus e curar as enfermidades. Existe um chamado, tarefa é dada. A compaixão será atitude que norteará esta ação dos discípulos. “Viver como Jesus viveu, pensar como Jesus pensou, sentir o que Jesus sentia…”
Aqueles que são chamados, são capacitados. Discípulos permanecem numa quarentena na companhia do mestre. Tempo de observar a realidade que os cerca, bem como assimilar o chamado da missão, plano missionário de Deus.
O Evangelho deste domingo ilumina a nossa realidade, traz a nossa presença o mundo tal qual ele se apresenta e, diante dele, Deus se revela numa ação de cuidado através de Jesus Cristo. Temos uma realidade que gera insegurança, pandemia com enormes consequências sociais, familiares e comunitárias. Há vírus, além da COVID-19, que precisa ser encarado: fanatismo político e religioso, a discriminação racial, ódio, negacionismo, são práticas que fazem parte de plataformas na forma de pensar de muitas pessoas, lideranças, inclusive.
Deus tem propósitos. Não deseja o mal, mas este é consequência da irresponsabilidade humana. Mesmo assim, Deus não nos abandona e fala a todos nós através deste tempo. Para tanto, Deus conta contigo, comigo, com a sua Igreja. Ele convoca a gente. Mesmo estando minado de compreensões tortas, tomadas dos vírus deste mundo, o chamado de Deus prevalece. Veja só aquele punhado de gente, discípulos, as bobagens que tinham na cabeça, oportunistas. Certa vez os discípulos perguntaram a Jesus: quem é o mais importante entre nós? Jesus estava a sós com Tiago e João. (Marcos 10. 35ss) Estes pediram a Jesus para que desse jeitinho para que ambos pudessem sentar um a direita e outro a sua esquerda na consumação do Reino de Deus. Jesus ficou muito zangado com esta dupla porque estavam adoecidos com o vírus que dava privilégios às pessoas através do jeitinho.
Nós somos os discípulos que Jesus chama e envia diante desta situação infectada de vírus dos mais diversos. Para tanto, Jesus nos confia o que há de mais precioso no seu reino: Amor, Salvação, justificação por graça e fé. Jesus se entrega por nós para que sejamos curados, libertos através da sua morte e ressurreição. Para tanto prevalece o amor de Jesus por nós, mesmo que estejamos infectados deste vírus da caça a privilégios. Jesus confia um convite para participar do seu reino. A ação do Espírito Santo indicará caminho, tornará a fé criativa para ir e viver a Palavra, num mundo diferente daquele que conhecemos até então. Este é o desafio: Chegou a hora que não podemos esmorecer em nosso testemunho. A fé precisa ser ousada, apaixonante através do anúncio da Palavra, cuja consequência se traduz com a marca da compaixão.
Veja, a ciência está empenhada em seu papel de encontrar uma vacina para a COVI-19. Estão próximos a realizar esta façanha. Cientistas trabalham intensamente, estão juntos nesta empreitada.
Lideranças que reconhecem a realidade da existência da corona vírus no mundo, vêm se destacando pela serenidade com que enfrentam a pandemia. Lados opostos na política, em muitos lugares, uniram-se a serviço da vida. A compaixão pela vida falou mais alto do que meramente a economia e a politicagem.
Empresas e o comércio estão se reorganizando, atentos e vendo possibilidades em meio à crise. Muitas destas empresas se tornaram solidários com auxílios expressivos.
Qual será o recado, o empenho da Igreja diante deste cenário que nos faz tal qual ovelhas sem pastor? Jesus chama e dá autoridade a sua Igreja para exercer o discipulado, para a cura da humanidade. Igreja, nós, não podemos negligenciar aquilo que é nosso: Pregação da Palavra e o exercício da Compaixão. Tempo de acolher a realidade tal qual ela se apresenta sob a luz do Evangelho. O grande pecado, nestes tempos atuais é ignorar a realidade, confundir com meias verdades. A fé cristã lida conosco a partir da realidade.
A igreja conseguiu se reinventar ligeiramente no surgimento desta pandemia. Estabeleceu vínculos digitais com a membresia de forma muito eficaz e contínua. Campanhas de solidariedade estão sendo realizadas. A marca da igreja diante do chamado é ratificar o anuncio da Palavra e o exercício da compaixão. Prática esta que vem desde o princípio do surgimento da comunidade cristã. Assim, ela se tornou conhecida no mundo. A Pregação da Palavra e a prática da Compaixão são trilhos sobre os quais a Igreja, cristãos revelam ao mundo a sua autoridade recebida de Jesus Cristo. Certamente, podemos aqui destacar inúmeras iniciativas diaconais que revelam a compaixão de Deus com este mundo. Nisto ratifica-se a vocação da Igreja, servir como Jesus nos tem servido.
Lembro as palavras do Evangelho, onde Jesus diz que as pessoas estão como ovelhas sem pastor. A Palavra precisa ser anunciada, contextualizada e aceita também a partir das novas ferramentas que o mundo nos oferece. Porque através deste anuncio dar-se-á a nossa clareza, libertação de vírus que podem nos ter infectados. Há tantos fake News porque não existe rejeição à mentira, antes, a enganação é prática com a qual nos acostumamos, compartilhamos com muita facilidade. Através da mentira, muitas lideranças, com grande poder no mundo, foram eleitas porque pessoas estão como ovelhas sem pastor. A mentira nos torna prisioneiros, não cria liberdade. Veja o exemplo da borboleta. A larva não tem propósito de ser maior, mas ser borboleta, que a faz ser livre. Para tanto, liberta-se do casulo para não ficar rastejando por toda sua vida. A mentira nos faz rastejar, nega a realidade. A realidade é transformada quando esta é aceita, a negação desta nos faz ser larva, evitam-se transformações.
A prática das mentiras faz parte do poder deste mundo e com as quais estamos sendo infectados de tal forma que negligenciamos a realidade da pandemia, como se este tivesse partido, ideologia. As mentiras querem transformar borboletas em larvas, o que é uma transgressão à criação de Deus. A Palavra de Deus nos dá autoridade para que seja proclamada e conceda discernimento, pois a fé nos torna livres.
Jesus envia a cada um(a), a sua comunidade, a nós, para exercitar a compaixão, seja auxiliar os famintos, consolo aos enfermos e enlutados. Focar-se na Palavra, na oração, para que não sejamos larvas, mas borboleta, livre para se deliciar dos aromas da criação de Deus. Através desta Palavra, somos livres para a prática da compaixão.
A quarentena é a estação na qual paramos, oportunidade para ser mos libertos de muitos vírus que nos infectaram nesta viagem pelo mundo. Esta seja a boa colheita que Deus possa realizar, através de nós, em nosso meio, ver seus filhos e filhas livres para amar, respeitar, exercer compaixão diante do sofrimento. Que possamos colher bons frutos para a vida na saída desta quarentena. Deus nos ajude e oriente com o seu Espírito. Amém
P. Werner Kiefer
Porto Alegre – Rio Grande do Sul, Brasilien