
Efésios 1.3-14
PRÉDICA PARA O 8° DOMINGO APÓS PENTECOSTES | 14 de julho de 2024 | Texto bíblico: Efésios 1. 3-14 | Harald Malschitzky |
Comunidade do Senhor.
A carta aos Efésios, as rigor, não é uma carta usual da época e nem mesmo do apóstolo Paulo. Estudiosos se deram conta de que ela se assemelha mais a um celebração de culto, com diversas partes presentes nos cultos: O louvor (é o nosso texto), as admoestações para pôr o louvor em prática também na família (!), finalmente, preparar-se para enfrentar tudo o que é contrário a Deus e, portanto, contrário também às obras e aos filhos de Deus.
Ouçamos o trecho para nossa reflexão de hoje. Em poucas linhas o autor tenta escrever tudo o que Deus fez por seu povo e isso é desenhado com cores fortes. Deus nos deu dons espirituais, ele já havia escolhido o seu povo antes da criação para pertencermos somente a Deus e ele o fez através do Cristo que nos redimiu e veio para revelar os planos de Deus de reunir todos os povos e toda a criação sob Cristo.
Uma das características de textos e cânticos de louvor é uma linguagem superlativa: povo escolhido desde antes da criação, graça que deus nos deu com tanta fartura, plano secreto… Essa mesma forma linguística nós encontramos em alguns Salmos e a encontramos no fantástico texto de Isaías 6: Santo, Santo, Santo… E a vamos encontrar também em celebrações, cultos, missas. A parte do louvor é alegre, vibrante, cheia de acordes e sons. Peguemos como exemplo o Aleluia de Haendel ou trechos de Bach. O louvor ali expresso dá arrepios de bem-estar. Há alguns anos tive o privilégio de assistir na íntegra e ao vivo a Deutsche Messe de Lutero na qual o louvor entra com o mesmo ímpeto. Há algumas décadas foi publicada e executada a Misa criolla” de Ariel Ramirez que se espalhou pelo mundo afora. Os trechos de louvor são memoráveis na letra e na música (Essa missa pode ser encontrada na internet, em muitas versões, uma com Mercedes Sosa).
E como anda o nosso louvor? Às vezes fraco, outras vezes bom, às vezes barulhento demais. Todas as tentativas e experiências são válidas, sem dúvida. Hoje “renasce” o movimento de música de metais (trombones) em diversos lugares de nossa igreja. O nosso conhecido hino “Deus é Castelo forte e bom” tocado por uma orquestra de metais realmente provoca enlevo, alegria, prazer!
No entanto – sempre tem um “no entanto” – é preciso destacar a mensagem central do texto: O louvor é a Deus! Não que ele não nos deva envolver, alegrar, mas ele não tem causa própria e muito menos só o nosso bem-estar emocional ou à nossa erudição, a exemplo do que acontece com Riobaldo, personagem central de Grandes Sertões, Veredas (Guimarães Rosa). Ele quando se sente mal recorre a diversas manifestações religiosas e tem até momentos de louvor, mas é ele que quer sair aliviado e voltar à sua profissão de matador!
Se lemos a carta as Efésios adiante, vamos ver que o louvor a Deus – e tomara que ele seja lindo! – remete à vida, ao mundo, a uma vida ética. Lá no capítulo 5 entram questões bem cotidianas como a relação entre os casais, a relação de filhos e pais, a relação dos donos com seus escravos. No fantástico texto de Isaías, quando ele tem uma visão e experiência única, tem uma pergunta: A quem enviarei, ao povo rebelde, a governantes corruptos? Resposta de Isaías: Aqui estou eu, envia-me a mim! Essa sua resposta lhe custou caro, como se pode ler no livro que leva o seu nome. O final das missas é ite missa est , “vão, vocês são enviados” ao mundo para viver o louvor cantado! Erroneamente muitas pessoas pensam que isso é apenas para dizer que a missa terminou. A rigor ela começa agora! No final de nossos cultos também está voltando e envio expresso “vão e sirvam o Senhor com alegria”.
Para não deixar dúvidas é bom lembrar as palavras de Jesus de que nem todos que dizem
Senhor, Senhor serão herdeiros do Reino dos Céus, mas sim, aqueles que praticam a sua vontade.
Louvar é preciso. Faz parte da prática da fé. O louvor faz bem a quem louva, mas a sua finalidade última e louvar a Deus pelo que ele fez e faz desde a criação, inclusive perdoando as nossas pequenas e grandes maldades. E para autenticar o seu perdão ele veio no Cristo encarnado.
E lá no horizonte de Deus está o plano de unir tudo e todos, tanto no céu como na terra, sob a autoridade de Cristo, autoridade que se caracteriza por uma amor incondicional. É uma visão meio doida. O mundo e a humanidade caminham em outra direção, a saber, de destruir um ao outro bem como o mundo criado por Deus. Talvez mais do que nunca os cristãos do mundo precisem deixar de lado suas querelas e caprichos locais e individuais e cantar incessantemente o cântico de Taizé:
Louvemos todos juntos o nome do Senhor, louvemos todos juntos, o nome do Senhor (HPD 81), saindo por aí a praticar esse louvor. Amém.
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Harald Malschitzky, P. em.
São Leopoldo – Rio Grande do Sul (Brasilien)