João 3.14-21
Quarto Domingo na Quaresma – 26 de março de 2006
Série Trienal B – João 3.14-21 – José Aragão
Vida na Morte?
Texto:
E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo o que nele crê tenha a vida eterna. Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más. Pois todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de não serem argüidas as suas obras. Quem pratica a verdade aproxima-se da luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque feitas em Deus (Jo 3. 14-21).
Recurso visual necessário: Uma serpente de brinquedo ou foto de serpente e uma cruz.
Eu trouxe comigo esta manhã uma grande amiga que talvez vocês não gostem muito. Acredito que vocês não gostarão dela, mas mesmo assim, apresento a minha amiga!
Ninguém se simpatiza com elas, especialmente se você encontrar uma delas no gramado. Eu a trouxe para mostrar para vocês o que Jesus fez par nos salvar de todos os pecados. Jesus disse: “ do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado ” (Jo 3.14).
Nós sabemos sobre o que Jesus está nos falando. O povo de Deus estava no deserto, e então, começaram a reclamar do alimento e das bênçãos que recebiam de Deus. A reclamação foi tão grande, má e insana que Deus permite que serpentes venenosas mordam o povo. Alguns deles morreram. Outros pediram a Moisés que orassem por eles, então Deus dá a seguinte resposta a Moises: “Faze uma serpente abrasadora, põe-na sobre uma haste, e será que todo mordido que a mirar viverá” (Nm 21.8). Estranho, não? Não foi uma serpente que fez a criação cair em pecado? Como pode um réptil peçonhento que causa sentimento de repulsa salvar vidas? Mas o fato é que isso funcionou. Coisas de Deus e seu evangelho salvador.
Jesus usou esse fato acontecido no tempo de Moisés como um quadro de sua morte sobre a cruz. As pessoas que viveram no tempo de Jesus se sentiam da mesma forma sobre a cruz como nos sentimos hoje sobre as serpentes.
Conforme pensavam, a cruz era a pior maneira para se morrer. Ela era reservada para criminosos e assassinos. Ela trazia dor, morte e desaprovação social para os familiares daqueles que morriam sobre ela. Algo parecido acontece em nossa reação com as serpentes peçonhentas, que se picado por uma, traz dor e até a morte se não for medicado a tempo.
Bem, se você for mordido por uma cobra, o médico lhe dará o antídoto – o soro antiofídico – retirado do próprio veneno da serpente. Hoje se sabe que o veneno das serpentes serve para uma infinidade de coisas, inclusive para colar o corte de uma cirurgia, ao invés de costurar, por ser mais eficiente e menos doloroso. Aqui neste caso, no próprio veneno, está a sua cura.
Algo parecido acontece com a comparação que Jesus fez com sua morte sobre a cruz e a serpente no deserto no tempo de Moisés.
A palavra de Deus afirma que nos tornamos pecadores quando Satanás assumiu a forma de serpente e persuadiu nossos primeiros pais a pecar e conseqüentemente também nós com eles. Desde Adão e Eva, temos sido pecadores e por vezes nos afastamos de Deus.
Aqui talvez esteja a segunda maior verdade da Escritura – A primeira é fato da Salvação existente em Cristo. Não é Deus que nos causa dor, sofrimento e condenação. Somos nós mesmos que nos arruinamos e trazemos dores sobre nós, quando nos afastamos para bem longe de Deus, passando a ser alimento de cobras, que sem dúvida nenhuma nos morde e nos pica, nos envenenando cada vez mais e daí passamos a reclamar de tudo.
Não há como negar isso! Todos sofrem as conseqüências do pecado e da ira de Deus, e sem Cristo, o viver é sem esperança. Por isso Jesus assume a nossa condição e se entrega ao extremo sofrimento e amargura da morte sobre a cruz. Jesus sobe até ela e permite-se levantado sobre lá, ali esmaga a cabeça da serpente e tudo o que ela representa (Gn 3.15), concedendo vida eterna para todos os que crêem.
Cristo nos diz que quando, olhamos para Ele, pregado na cruz, em suas dores e morte, temos o antídoto para o pecado e para a morte. Não é vida pela vida, e sim, vida na morte e pela morte! (Rm. 6.2). O retorno e a recompensa do pecado é a morte e o presente da Graça de Deus é a vida eterna (Rm 6.23). É assim, por que Deus é amor, entrega o que tem de mais valioso, como o sustentáculo da salvação eterna sobre uma morte horrenda e sobre um madeiro em forma de Cruz. Deus transforma o próprio Cristo no que existe de pior, o faz pecado, entrega-o a morte e o faz passar pela condenação que passaríamos, a fim de que tivéssemos vida, e vida a partir da morte sua morte, revelando o seu amor e salvação. Nesse caso, também, obtém-se vida dentro do âmago da morte, pois Cristo morre, mata e destrói a sentença de condenação do pecado sobre a cruz e nos devolve a possibilidade de um novo começo, de uma nova vida.
“P orque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele ” (Jo 3.16,17).
Não gostamos muitos das serpentes, mas é bom saber que os médicos curam com o soro tirado das serpentes. E melhor saber ainda é que a cruz – por mais horripilante que seja – foi o meio que Deus escolheu para nos salvar. Através do olhar da fé para aquele Deus-amor – como fonte amorosa que subsiste em si – suspenso na Cruz a fim de que em sua morte, pudéssemos morrer para o pecado e obter vida, e vida em abundância. Assim, crer que ele morreu por nossos pecados, que cancelou nossa sentença de condenação e dívida pecaminosa para com Deus, concede tanto o perdão como a vida eterna, agora e já. Esse sim é o melhor presente de páscoa que podemos ter.
José Aragão
Brasília, DF – Brasil
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
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