
Marcos 9.30-37
PRÉDICA PARA O 18º DOMINGO APÓS PENTECOSTES | 22 DE SETEMBRO DE 2024 | Marcos 9.30-37 | Harald Malschitzky |
Irmãs e irmãos em Cristo.
Temos um lindo bando de netas/o e bisneta/os. Lá na pontinha temos uma neta (5 anos) e um neto (2 anos), que são irmãos e se gostam muito. Mas eles também competem entre si e às vezes vão para o tapa!
O jeito de os dois brincarem e competirem, mudarem de ideia, me serve de parábola apara o relacionamento humano. A competição e a busca por primeiros lugares é coisa antiga. Isso começa nos ingênuos joguinhos de mesa em nossa casa, isso vai para as ruas, para os estádios, para as olimpíadas. O problema talvez nem seja a competição como tal e me parece que as olimpíadas nos ensinam algo. O problema é que “o pecado mora ao lado”. De repente a busca dos primeiros lugares passa pelo econômico, pela concorrência, pelo poder que pode levar a eliminar o adversário – guerras estão aí para deixá-lo claro…
Há poucos dias assisti a uma entrevista do Professor Dr. Euler Westphal (entre outros professor da Faculdade Luterana de Teologia (FLT)) na qual ele lembra com propriedade que o movimento de Jesus era subversivo, significa, que subverte a ordem estabelecida. A igreja como instituição poderosa – muito poderosa – se deve ao imperador romano Constantino (governou de 337 até sua morte), que transformou o cristianismo em religião oficial.
Ouçamos o texto previsto para esse domingo, registrado em Marcos 9. 30-37.
Jesus fala sobre eternidade em sentido abrangente, sobre presente e futuro (O Reino que virá), sobre sua própria trajetória de dor e sofrimento, sua morte violenta e sua ressurreição. Ao que parece, os discípulos, ainda em silêncio, divisavam outra coisa: A eles já interessavam os primeiros lugares que eram símbolo de poder. Aliás, nos evangelhos esse tema aparece de duas formas narrativas: Uma vez os próprios discípulos falam com Jesus pedindo os primeiros lugares, em outra passagem são as mães que intercedem em favor de seus filhos. Jesus se dá conta de que seus seguidores mais próximos não estavam entendendo que as falas e a trajetória de vida era uma espécie de reviravolta naquilo que se conhecia no mundo do poder, nas relações humanas truncadas que tanto sofrimento causavam. Eles não estavam entendendo que a proposta de Jesus era – também – a discordância do jeito truncado de relacionamento na vida do dia a dia. Mas a crítica de Jesus se dirige também aos próprios discípulos, alguns dos quais parece que estavam de olho em outra coisa. E aí Jesus, na sua didática de exemplos da vida e do cotidiano, faz a pergunta pelo maior no reino de Deus e coloca uma criança na roda para dizer que é preciso receber uma criança no seu jeito de ser e viver que, embora tenha sua vontade própria, ainda é capaz de aprender e modificar o rumo de sua vida. E aí o desfecho: quem receber uma criança como criança, em sua singeleza de fé, estará recebendo o próprio Jesus e o próprio Deus que o enviou. É desconcertante: Os eventuais arroubos de poder são desfeitos; o seguimento a Jesus não é revestido de poder, o que, aliás, a igreja após Constantino esqueceu muito depressa.
Sabemos que para o ser humano conviver em sociedade são necessárias estruturas. Mas também aí “o pecado mora ao lado”. Estruturas e leis podem e são usadas para o exercício do poder como opressão! Também nas igrejas mais “democráticas”. O movimento subversivo de Jesus deveria e deve ser a ferramenta crítica que sempre de novo passa um “pente fino” em nosso agir e ser cristão, quer na individualidade, quer na coletividade. Não é preciso abrir mão daquilo que o ser humano alcançou através da tecnologia e da ciência. Mas justamente aqui é preciso lembrar que o movimento de Jesus é subversivo para não cairmos nas malhas do progresso e da tecnologia que cria privilégios para uns e miséria para outros. Deixemos que a criança em nós brinque, brigue, mude de ideia, mude de rumo tendo como norte o Reino de Deus que já começa aqui e agora. Sejamos subversivos como a criança que, de momento a outro, muda de brincadeira e segue outro rumo. Também isso eu tenho que aprender na parábola dos meus pequenos netos. Sejamos crianças, no mundo em que vivemos, sejamos subversivos. Amém
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Harald Malschitzky, P. em
São Leopoldo – Rio Grande do Sul (Brasilien)