
PRÉDICA PARA O 23º DOMINGO APÓS PENTECOSTES
8 de novembro de 2020 |Texto da prédica: Mateus 25.1-13 | Isaías Steinmetz | Leituras: Salmo 70, Amós 5.18-24 e 1 Tessalonicenses 4.13-18|
Introdução
Estamos na proximidade do último domingo do ano eclesiástico. Com ele lembramos de como foi o ano até aqui, especialmente das dificuldades e alegrias que tivemos neste período. No último dia 2 lembramos daquelas pessoas que já partiram para a eternidade. Entre o tempo de finados e Cristo Rei este texto surge como um lembrete: ainda não podemos perder a vigilância.
É possível perceber uma tônica desta expectativa também nas leituras deste domingo. O Salmo reflete o desejo de estar perto da presença do Senhor, já o texto do profeta Amós traz uma palavra de juízo muito forte, onde o Senhor orienta que substituam seus cantos por ações de justiça. A carta do apóstolo Paulo já traz a ênfase na esperança da ressurreição mediante Cristo Jesus.
A temática sugerida reside entre o juízo e a esperança, ou, como o princípio hermenêutico luterano: entre Lei e Evangelho.
- O Reino dos Céus: agora
A imagem inicial desta perícope é Jesus contando sobre o Reino dos céus. Nesta parábola ele usa o exemplo das dez virgens que saíram para o local onde encontrariam o noivo.
Uma festa de casamento é um lugar onde espera-se encontrar alegria. Onde os nubentes estão na expectativa de poderem celebrar, junto a familiares e amigos, sua bênção matrimonial. A festa é um sinal de comemoração, algo grandioso, mesmo que simples. Grandioso pois a alegria em convidar várias pessoas é imensa. Ao mesmo tempo pode ser simples, com poucos elementos de decoração ou ainda um banquete recheado da simplicidade cotidiana daquelas famílias que agora se unem para abençoar o casal.
No contexto judaico as virgens eram responsáveis por acompanhar os noivos até o local da cerimônia. Há uma possível identificação com zelo e com pureza neste ato. O noivo é conduzido, sem contato físico, de uma casa a outra. “Sairá o homem da casa de seus pais e se unirá a sua mulher”. (Gn 2.24, citado por Jesus em Mt 19.5). O gesto de caminhar em direção à noiva é simbólico. Ambos formarão um novo lar, para isto algumas coisas ficarão para trás. Até que esta união se complete, de fato, ambos são acompanhados pelas virgens. De certa forma podemos dizer que este é um recado importante: o novo lar é local de zelo e de pureza.
Nesta imagem construída de cuidado, amor e respeito está, também, a comparação com o Reino dos Céus. O que Jesus tem em mente ao compará-lo com o caminho até o casamento? Num primeiro momento mostra que há um cuidado com o ambiente. As pessoas responsáveis pelo espaço o preparam para que o significado seja completo, íntegro.
Neste ponto poderíamos propor que Deus está preparando o reino dos céus para nós, que aguardamos ansiosamente a sua consolidação. Esta possibilidade, porém, não é mostrada neste texto. Se lermos versículos anteriores e posteriores vemos que há uma menção de quem é mais importante: o Senhor. Na parábola da figueira há a menção do pai de família, o qual tem a missão de vigiar a casa. Na sequência há uma comparação do servo que se manteve fiel ao seu Senhor. Na parábola dos talentos o Senhor confia-os a seus servos. Em todas estas parábolas há a clara referência de que o Senhor virá para manifestar o seu Reino entre nós.
A comparação com o casamento nos coloca não em posição de destaque, mas em posição de atenção. Temos a missão de nos preparar para a chegada do noivo, daquele que vem para consumar o novo reino de paz eterna.
Este preparo é comparado com aquelas virgens que tinham a função de acompanhar o noivo de uma tenda a outra. Será que nosso papel é só acompanhar? Não é preciso ter nenhum preparo para este caminho?
Pensando que este caminho era percorrido, em partes, à noite, em local onde havia pouca iluminação, era preciso ter algo que pudesse ajudar a enxergar o percurso. O texto identifica como lâmpadas, não as nossas modernas, mas um modelo em que a chama era alimentada por um tipo de azeite. A função primordial das lâmpadas era iluminar por onde passavam e poder olhar para o noivo, mesmo na escuridão da noite.
Quem assume a tarefa de acompanhar o noivo precisa se preparar, conferir se há azeite o suficiente para uma longa caminhada, ter atenção ao noivo, não perdê-lo de vista. Por isto a mensagem de juízo é tão forte: preparem-se!
Se consideramos os textos paralelos, especialmente o do profeta Amós, a preparação para a chegada do noivo não são cantos de louvores, mas sinais de justiça. Não é recomendável que fiquemos apenas nas palavras, mas que caminhemos em conjunto com outras pessoas buscando a manifestação concreta da misericórdia de Deus no nosso cuidado mútuo.
Nesse ponto da mensagem lembramos da dimensão do agora. O Reino de Deus já está entre nós e em nós. Enquanto vivemos aqui, neste mundo, nos dispomos a servir continuamente a Deus e às pessoas. O Reino de Deus se manifesta agora quando há compaixão e justiça, quando vivemos o arrependimento de nossos pecados diariamente. Estando prontos ou não, o Reino vem.
- O Reino de Deus: Em Breve
Ao mesmo tempo em que pedimos diariamente o perdão dos pecados e nos comprometemos com o Senhor em nossas vidas vivemos na expectativa da chegada do noivo. Nisto reside fortemente um sinal de esperança: nossa esperança está no Cristo ressurreto! E Ele virá para nos levar consigo.
O texto do apóstolo Paulo nos lembra disto. Não temos esperança só no agora. “Aqui no mundo as desilusões são tantas, mas existe uma esperança: é que Ele vai voltar.” (LCI 412, 2) Este hino reforça este desejo de ter diante de nós a presença do Cristo ressurreto.
Se olharmos o mundo ao nosso redor veremos muitas injustiças, destruição e maldade, frutos do pecado que reside em nós. Talvez até por isto a importância de reforçar que há uma esperança na eternidade. Há esperança de vivermos sem medo de doenças o de pragas que ameaçam tanto a nossa vida. Há esperança de vivermos plenamente os sinais de paz e de graça que anunciamos domingo após domingo em nossos púlpitos.
A mensagem do Evangelho nos lembra que a consumação do Reino de Deus virá em um momento que não temos como prever. Mas que virá! E em sua plenitude Cristo espera nos encontrar preparados para caminhar ao seu lado.
Aqui vale mencionar a diferença de postura daquelas virgens. Enquanto metade não se preparou e precisou, de última hora, sair para comprar o azeite para suas lâmpadas a outra metade estava presente na chegada do noivo. As que se preparam tinham em mente o seu objetivo principal: caminhar ao lado do noivo. Para elas isto era tão importante que não poderiam deixar faltar azeite então se prepararam para este caminho.
O Reino de Deus vem em um momento que não podemos identificar, apenas nos preparar previamente. Neste espírito de expectativa e esperança buscamos servir ao Senhor com humildade.
Conclusão
Jesus virá em sua plenitude para levar consigo a Igreja. Esta é a mensagem de esperança em dias de muita angústia, seja por luto, dor ou medo. O Cristo ressurreto, que vivo está, virá para caminhar ao lado de sua igreja em direção à plenitude de seu Reino. Este reino, porém, já tem sinais presentes em nosso cotidiano.
O reino de Deus, agora e em breve, é como uma grande festa de casamento. Uma festa onde tem pessoas se preparando para caminhar ao lado do noivo, e isto exige tempo e dedicação. Uma festa onde tem a presença do noivo, Jesus Cristo, que caminha em direção à sua Igreja, nós. Uma festa onde a alegria será plena e não haverá mais angústia, inseguranças ou qualquer sentimento de culpa.
Cristo vem. Tudo já está preparado para seu retorno. E você?
Cand.P. Isaías Steinmetz
Porto Alegre – Rio Grande do Sul, Brasilien