Sexta-Feira Santa

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Pregação para a Sexta-Feira Santa – 10 de Abril de 2020 | sobre Mateus 27.33-50 | por Paulo Sérgio Einsfeld |

Desejo que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus Pai e a comunhão do Espírito Santo esteja com todos nós. Amém.

Essa Quaresma está sendo muito diferente das demais. Estamos reclusos em casa. Há um clima de apreensão por causa do novo Coronavírus, mas também temos tempo disponível para meditar na Paixão de Cristo.

Certamente essa mensagem não chegará aos ouvintes reunidos em culto na Sexta Feira Santa de 2020.  Mas, de alguma forma, escrita, por áudio ou vídeo, poderá ser divulgada.

Leitura de Mateus 27.33-50.

Quero destacar os deboches e calúnias dirigidas a Jesus enquanto estava dependurado na cruz.

  1. Observemos o público que passa pelo local, aos pés do Monte Gólgota, que em grego se chama “Lugar da Caveira”, pela semelhança da montanha com o crânio humano.

Junto ao gesto de balançar a cabeça, típico de zombaria, as pessoas acrescentam palavras que um dia estavam na boca de Jesus: “Ei, você que disse que era capaz de destruir o Templo e construí-lo em três dias! Se você é mesmo o Filho de Deus, desça da cruz e salve-se a si mesmo! ”  (v. 40) Sim, Jesus tinha se referido à destruição e reconstrução do templo, fazendo referência à sua morte e ressurreição. Isso pesou contra ele na sua condenação (Mt 26.61).  Em relação à menção de ser Filho de Deus, Jesus a ouviu do Pai por duas vezes: no Batismo por João Batista e no Monte da Transfiguração.

O escárnio vai ao cerne da questão da filiação divina, à mais íntima consciência de ser filho de Deus. E ainda mais, imita a tentação no deserto no início do ministério de Jesus: “Se és Filho de Deus, mande que estas pedras virem pão” ou   “atira-te abaixo … (Mt 4.1-11).  As pessoas que assistiram à crucificação conheciam dados e fatos sobre o Crucificado. E usaram tais conhecimentos para aprofundar o deboche, desafiando-o ao milagre de descer da cruz e salvar-se a si mesmo.

  1. Essa mesma provocação o trio das autoridades religiosas faz. Diante da cruz, unem-se pessoas com posições e opiniões diversas: os chefes dos sacerdotes, os mestres da Lei (escribas) e os líderes judeus (anciãos).

Agora estamos diante dos estudiosos da religião judaica.  Estes juntam o deboche sobre o título “Rei de Israel! ” com o “Filho de Deus”, sobre o que eles acham ter autoridade em falar. A religião judaica não admite alguém se declarar filho do Deus Todo-Poderoso.  Já a política romana não admitia um Rei fora da dinastia dos Césares de Roma.  Jesus é condenado como blasfemo pela Religião e como subversivo pela Política daquele tempo. Religião e Política se unem para condenar um inocente. E isso continua sendo atual. Quantas pessoas inocentes continuam sofrendo mundo afora nas mãos de ferro dos representantes da Religião ou da Política e das duas juntas!

O deboche das autoridades religiosas e do povo simples tem algo em comum: “Salve-se a si mesmo! ”.  Esse é o lema da humanidade: Salve sua pele. Caia fora da responsabilidade. Safe-se dessa!  Quem comete grandes delitos de corrupção, por exemplo, contrata advogados famosos para “provar” inocência. E ninguém admite culpa e responsabilidade. Dizem que o erro foi ser descoberto pela mídia. Os adversários delataram! Assim se justificam os crimes.  Mas assim o é também no dia a dia: quem comete pequenos delitos ou deslizes jura que não foi ele ou ela. Desde crianças, quando algo sai errado colocamos a culpa no irmão, na irmã! Conhecemos isso desde o Paraíso…

Jesus não lutou para salvar sua pele. Não tentou sair fora do caminho da cruz. Jesus, isso sim, assumiu as responsabilidades. Quais? Fidelidade ao Pai, à vontade de Deus. E fidelidade ao ser humano para poder livrá-lo do domínio do mal e da morte.  As autoridades tinham razão em dizer que Jesus “salvou os outros, mas não pode salvar a si mesmo!”  (v.42). Exatamente porque optou em salvar os outros, ele não pode salvar a si, no sentido de livrar-se do sofrimento e morte na cruz.  Jesus cumpre o que ensinara: Quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la. E quem perder a vida por minha causa, vai achá-la! (Mt 16.25)

Jesus foi fiel do começo ao fim. Desde os começos na Galileia quando anunciava o Reino de Deus,  e estendia suas mãos aos doentes, pecadores e empobrecidos. No fim, entra no Reino como um derrotado perante o mundo, um ‘trouxa’ que se negou a salvar sua própria pele. Um fraco e derrotado! Mas é justamente na cruz que está a força que pode salvar os humanos, dando-lhes perdão e ressurreição para a vida eterna.

O exemplo de Jesus foi imitado, em menor ou maior grau, por mártires no decorrer da história.  Muita gente deu sua vida pela causa do Evangelho em tempos de perseguição. Há exemplos ainda em nossos dias. Um mártir de nosso tempo é o médico chinês Li Wenliang, oftalmologista do Hospital Central de Wuhan, que foi um dos primeiros médicos a perceber a existência do novo corona vírus.  No dia 30 de dezembro, ele enviou uma mensagem para colegas médicos em uma conversa em grupo privado alertando sobre o surto e recomendando que eles usassem equipamentos de segurança para evitar a infecção. Ele foi acusado pela Polícia de espalhar fake news,  e intimado a se calar em 03 de janeiro desse ano.

Tratando de uma paciente foi infectado pelo corona vírus.  Morreu no dia 07 de fevereiro desse ano com apenas 34 anos de idade. Casado, tinha uma filha de 5 anos e sua esposa está grávida do segundo filho. Circularam mensagens de que ele era uma pessoa cristã, e estava consciente de que sua luta e vida não foram em vão.    A ciência sabe que a morte do Dr. Li Wenliang não foi em vão. A fé cristã sabe que a morte de Jesus Cristo não foi em vão.

 

Espero que a humanidade daqui a algum tempo dirá: Essa pandemia de COVID 19 não foi em vão. Aprendemos tantas coisas, somos mais solidários, mais humanos. Em meu sonho vejo cada pessoa fazendo do dia de descanso uma quarentena em família, com diálogo, brincadeiras e bom humor. E a crise ensinou a dar graças ao Deus da Vida, e a gratidão passou a ser a marca das comunidades cristãs. Aprendemos a lavar direitinho as mãos, e a lavar do coração egoísmo e avareza. O lavar do Batismo adquiriu novo significado. Desde aquele tempo soam diferentes as palavras: Jesus Cristo morreu na cruz para nos lavar de nossos pecados. Aliás, não foi o Mestre que lavou os pés dos discípulos, insinuando que Ele lhes lavaria também a mente e o coração?

Exatamente essa lição as pessoas cristãs aprenderam desde muito cedo: a morte de Jesus Cristo não foi em vão. Ela é a verdadeira fonte desse banho refrescante de vida, de perdão e de salvação. Amém.

 

Paulo Sérgio Einsfeld

Nova Petrópolis – Rio Grande do Sul, Brasil

peinsfeld76@gmail.com