1 Coríntios 1.10-18 

1 Coríntios 1.10-18 

PRÉDICA PARA 3º DOMINGO APÓS EPIFANIA | 22 de janeiro de 2023 | 1 Coríntios 1. 10-18 | Harald Malschitzky |

Irmãs e irmãos em Cristo, comunidade aqui reunida.

Em uma pequena comunidade o canto andava muito mal, assim como também a música. Lá pelas tantas duas famílias se juntaram e compraram harmônio. Os cultos se tornaram mais alegres e mais gente se encorajou a cantar ao som do harmônio. Passado um tempo, integrante de uma das famílias foi conversar com o pastor: Pastor, eu acho que não é justo que nós tenhamos pago o harmônio e agora toda a comunidade o ouve e usa!

Talvez a cena nem tenha acontecido, mas ela ilustra muito bem como ciúme ou inveja podem levar  a rupturas dentro da comunidade.  Quem não conhece as frases sobre quem doou o terreno para construir a igrejinha, ou quem doou maior quantidade de material de construção… E no terreno pessoal: Se fulano estiver no culto eu volto pra casa; o pastor de outros tempos, esse sim era pastor de verdade – a igreja sempre estava cheia! Tudo isso são coisas que eu vivi e, por vezes, me fizeram sofrer, quando não perder a paciência! Não se trata de ignorar quaisquer benfeitores da comunidade, também não se trata de fazer de conta que conflitos não existem. É necessário, isso sim, que tudo seja mencionado e avaliado. Na comunidade e na igreja, porém, isso não é suficiente. Faz-se necessário dirigir olhos e corações para o centro, a base da comunidade. E isso não é nem um nem outro, senão o próprio Cristo.

A comunidade de Corinto era jovem, em uma cidade multicultural, num lugar privilegiado para a navegação.  Fruto da missão de Paulo e outros líderes cristãos. Os integrantes, agora membros da comunidade, vinham de países diferentes e diferentes tradições religiosas. Sabe-se que o início a adesão à igreja  nem sempre foi fácil, muito pelo contrário. Afirmar que o Cristo relativiza outras religiosidades, pode dar muita dor de cabeça. Um exemplo  é o tumulto que se faz em Éfeso porque Paulo colocou em dúvida o poder de Diana (Efésios 19. 23s). Outro são cristãos na Galácia que muito depressa de esqueciam dos ensinamentos evangélicos para teimar num legalismo contrário à libertação oferecida pelo Cristo. E Paulo precisa escrever: Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus (Gálatas 3. 28). Paulo seguramente não ignora a diversidade das pessoas, de suas origens, de suas tradições. A tese dele é que todos, diferentes uns dos outros, são um em Cristo. Isso relativiza – não anula – a diversidade.

Isso parece muito difícil de pôr em prática até os nossos dias. Olhemos o universo das igrejas. As assim chamadas igrejas históricas – católicos, ortodoxos, luteranos, anglicanos, calvinistas – há muito se reúnem no Conselho Mundial de Igrejas. Sem dúvida muito se alcançou em termos de aceitação mútua e respeito mútuo. Mas até hoje se é incapaz de ter comunhão de mesa (comunhão eucarística), de aceitar o ministério feminino como tão legítimo como o masculino, de  fazer de celibato uma opção e não uma obrigação. E no CMI se proclama que em Cristo somos um!

Olhemos o nosso panorama de igrejas no Brasil. Pra começo de conversa nem todas as igrejas históricas se aceitam plenamente. Mas pela leitura bíblica desvirtuada e oportunista que se faz por aí, não é possível “ser um” porque o Cristo que se prega nem sempre é o bíblico! Onde, por exemplo, só se prega o bem-estar material como resultado da fé, não há espaço para o sofrimento e os sofridos. O evangelho, entretanto,  nos ensina que Cristo não só veio aos sofredores, mas com eles e em seu lugar sofreu. Isso remete a igreja aos sofridos e sofredores no mundo por uma vida digna que não acontece em um passe de mágica.

E olhemos a IECLB. Temos algumas diferenças internas e rusgas históricas que passo a passo vão perdendo suas arestas cortantes, mas no momento vivemos tensões novas e maiores;  está aí um grupo que se denomina Herdeiros de Worms com o qual há um  tênue diálogo; temos a Aliança Luterana que procura agredir o que a igreja faz e diz, mas sempre no anonimato (não se conhecem os seus integrantes). E no momento estamos vivendo uma tensão muito forte por causa de opções e posicionamentos políticos, que levam à miragem semelhante aos moinhos de vento que D. Quixote reputava por gigantes ameaçadores – agora a alucinação leva à quebradeira do patrimônio público, pensando que assim se criam barreiras contra o fantasma do comunismo.

Será que vamos achar o caminho de volta ao evangelho de Cristo, que engloba evangelho e lei, que mantém a voz do perdão, mas que também exige penitência e reconciliação? Será que podemos ser diferentes,  mas que nossas diferenças sejam relativizadas à luz do Cristo?

O que será que significa hoje Certamente, a palavra  da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus?

Temos que pedir que Deus dê a todos nós o espírito bíblico da reconciliação para que sejamos um em Cristo, apesar de nossas diferenças. Amém.

P.em. Harald Malschitzky

São Leopoldo – Rio Grande do Sul (Brasilien)

harald.malschitzky@gmail.com

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