1 Pedro 3.18-22

1 Pedro 3.18-22

PRÉDICA PARA O 1º DOMINGO NA QUARESMA – 21 DE FEVEREIRO 2021 | Texto bíblico: 1 Pedro 3.18-22 | Nilton Giese |

 

Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus nosso Pai – que nos ama e nos cuida com amor de mãe, e a comunhão do Espírito Santo estejam no meio de nós. Amém.

 

Oremos: Senhor Jesus Cristo, agradecemos o teu imenso amor por nós e pedimos-te: vem nos ensinar através da tua palavra. Pela força do Espírito Santo alimenta a nossa fé em ti e fortalece-nos para um testemunho claro através de palavras e ações. Amém

Estimados irmãos e estimadas irmãs:

A primeira leitura que ouvimos hoje veio de Gênesis 9.8-15, e ela falava da „aliança de Deus com Noé“. A aliança mais famosa, a mais importante, é a aliança com Abraão. No entanto, a aliança com Noé garante: Nunca mais haverá dilúvio para destruir a terra! É o que Deus assegura a Noé (Gn 9,11). E esta promessa vai acompanhada de um sinal: o arco-íris é o sinal desse pacto entre Deus e a humanidade.

O texto de Gênesis nos mostra uma arca transformada numa grande casa acolhedora da vida, onde o cuidado com os animais se destaca de uma maneira especial (Gn 9,1-7). Na aliança de Deus com Noé, a vida do ser humano deve estar em comunhão com a terra, com os animais e com toda a natureza.

A segunda leitura veio do Evangelho de Marcos 1,12-15. Jesus foi tentado por Satanás e os anjos o serviam.  O confronto com Satanás, como princípio do mal, está presente na vida de Jesus em sua proclamação do Reino de Deus. Falar e fazer a vontade de Deusmuitas vezes significa confrontar-se com o mal.  O deserto, a dificuldade, é um em lugar de aprendizagem no confronto. O Espírito de Deus leva Jesus até o deserto onde, vencendo a Satanás, a vida se torna fidelidade a Deus e ao humano. Jesus nos mostra aqui que para servir a Deus, precisamos antes nos confrontar com nossos medos e nossos preconceitos.

 

 

A partir dessas duas leituras biblicas, convido agora para ouvir 1 Pedro  

 

Leitura de 1 Pedro 3. 18-22


Prezada Comunidade
Estimados rádio ouvintes:

A Primeira Carta de Pedro foi redigida no final do primeiro século (nos anos 90). Desde o grande incêndio em Roma no ano 64 (armado pelo imperador Nero) as comunidades cristãs foram perseguidas por mais de dois séculos.  A maioria dos textos do Novo Testamento foi escrita durante esse período de perseguição. No caso da carta de 1 Pedro ela foi escrita nos anos 90, durante o governo do Imperador Domiciano. Entre os destinatários da carta estão cristãos da Ásia Menor, (1.1), vindos do judaísmo e também pessoas de outras religiões que foram “eleitas” por Deus (1 Pedro 1.2), isso é, que entraram na Comunidade através do batismo.

As pessoas cristãs a quem a Carta de Pedro se dirige não entendem porque não se pode ser cristão e adorar os deuses romanos ao mesmo tempo. Afinal, seria até bom ficar de bem com as autoridades, livrar-se da perseguição e ainda contar com a proteção de vários deuses contra as ameaças da Natureza..

As religiões pagãs – de onde vieram muitas pessoas que agora eram cristãs –  invocavam seus deuses para proteção individual. As pessoas ofereciam sacrifícios aos deuses para que eles respondessem com proteção. Os judeus que haviam se tornado cristãos lembravam que desde o tempo do dilúvio Deus fez uma aliança com a humanidade. Por isso, sempre que o ser humano tiver comunhão e respeito com a terra e com a natureza não há o que temer. A natureza somente será agressiva se ela for maltratada.

Mas, a comunidade cristã em geral ainda não entendia que na religião de Jesus as pessoas somente conseguem as bênçãos de Deus se elas forem uma bênção para os outros. Por isso, a Carta de Pedro enfatiza que para ser uma pessoa cristã, para ser uma pessoa seguidora de Jesus Cristo e membro de uma comunidade/igreja cristã é preciso ser “assim como Cristo”.

Para ser uma pessoa seguidora de Jesus, o Batismo é o ponto de partida para uma vida cristã. A partir do Batismo as pessoas cristãs se distinguem por sua forma de vida. E três atitudes são fundamentais em toda pessoa e em toda igreja cristã:  as pessoas batizadas (1) se apoiam uns aos outros, (2) partem o pão e (3) praticam a espiritualidade e a oração.  Essas três coisas fazem parte da identidade cristã – elas são sinais de unidade na igreja – e por isso devem estar presentes em todas as igrejas e em todas as pessoas batizadas.

Através do Batismo a pessoa entra no campo de proteção e bênçãos de Deus. O próprio Cristo sofreu uma vez por todas pelos pecados … para levar vocês a Deus (3.18). A Carta de Pedro diz que quando nos mantemos fiéis a Jesus e

 

seus ensinamentos, as pessoas cristãs passam a ter o mesmo cuidado que Jesus teve. As pessoas batizadas podem estar certos da presença, do acompanhamento, do conforto e consolo de Deus e da promessa da ressurreição. Pois, Jesus Cristo – o Filho de Deus –  foi para o céu e está sentado à direita de Deus (3.22), a quem estão submissos os anjos, as autoridades e os poderes do céu. Portanto, não faz nenhum sentido querer sacrificar aos deuses romanos em troca de proteção, pois é Jesus que tem o poder sobre todas as coisas. Todas as situações da vida e da morte, estão sob seu governo.

Mas, a água do batismo não é para lavar a sujeira do corpo, mas é um compromisso com Deus o qual vem de uma consciência limpa (3.21). Quando a carta de Pedro fala em ter um compromisso com Deus e manter a consciência limpa, ela quer enfatizar que a fidelidade e a lealdade das pessoas cristãs não deve ser com governos ou instituições. Desde muito cedo, a  igreja cristã precisou afirmar que a autoridade única é Jesus Cristo.

Esse tema da consciência limpa e da lealdade a Jesus Cristo entrou nas primeiras comunidades cristãs por conta do medo diante dos acontecimentos daquela época. O ambiente político do império romano era um ambiente de conspiração e de traição. A maioria dos imperadores foi assassinada. Por isso, os governantes conviviam com a suspeita de traição.

No Império Romano a religião sempre foi usada politicamente. Por isso, fazer sacrifícios aos deuses romanos e em nome do imperador, era um símbolo de lealdade ao governante de turno. Qualquer pessoa que se opusesse a fazer esses sacrifícios, era considerado um sabotador, um inimigo do imperador. A carta de 1Pedro foi escrita nesse contexto de medo e de perseguição contra as pessoas que não faziam sacrifício aos deuses romanos e por isso foram consideradas inimigos políticos. A primeira perseguição – na qual foram executados também os apóstolos Pedro e Paulo –  foi promovida pelo imperador Nero por volta de 60 d.C. Mas no ano 90 d.C. aconteceu uma perseguição ainda maior, sob o imperador Domiciano.

Portanto, fazer sacrifício aos deuses romanos e ao imperador era uma forma de controle político da população. No império romano os governantes eram divinizados. Quem se negava a dizer que o imperador era o representante divino e o Senhor, esse era considerado inimigo político, portanto era perseguido e se não apostatasse, seria executado.

Desta forma, muitas pessoas cristãs foram presas e obrigadas a apostatar. Esse foi o termo bíblico para se referir àqueles(as) que fraquejaram, que não aguentaram a pressão e abandonaram a fé cristã. Depois de ser presa e torturada, a pessoa cristã era levada até uma praça, onde deveria sacrificar um animal aos deuses romanos, expressar lealdade aos governantes e ao imperador e dizer uma maldição contra Jesus Cristo. Fazendo isso, ela seria libertada. Caso contrário, seria executada. Ou seja: o patriotismo exigia uma

 

escolha de lealdade aos governantes e ao imperador ou a Jesus Cristo. Nessa hora, muitos cristãos apostataram, isto é, abandonaram a fé cristã para salvar suas vidas e de seus familiares.

Mas como renunciar a Jesus Cristo, que está sentado do lado direito de Deus, governando os anjos, as autoridades e os poderes do céu? O que as pessoas sabiam era que Jesus certamente não estava governando as autoridades romanas, porque o governo de Jesus não se impõem sobre ninguém. Para ser governando por Jesus é preciso ter um compromisso com ele.  Esse compromisso com Jesus tem implicações concretas para a vida pessoal, familiar, comunitária e social.

Portanto, as primeiras comunidades cristãs tinham muito claro que não se pode divinizar nenhum ser humano e nem mesmo uma instituição. Os governantes não devem definir a mensagem da igreja e nem podem dizer por quem a igreja deve ou não deve orar.

A igreja não deve gastar suas energias justificando esse ou aquele governante. A atitude da igreja diante dos governantes não é de apoio incondicional e nem de oposição. A atitude da igreja diante dos governantes deve ser a mesma dos profetas: Vigiar os governantes para que realizam um bom governo, principalmente protegendo as pessoas mais vulneráveis.

Mas, como foi possível que as primeiras comunidades cristãs sobrevivessem diante de tamanha perseguição?

Os tempos de perseguição do Império Romano deixaram muitos mártires, muitas crianças órfãs e muitos velhos sem o cuidado dos filhos e filhas. Mas – mesmo assim – os relatos do Novo Testamento nos dizem que na comunidade cristã não havia meninos e meninas de rua ou velhos abandonados nas praças. Entre eles não havia necessitados, diz Atos dos Apóstolos 2.43-47). Diante da necessidade de alguma pessoa, sempre havia alguém disposto a ajudar e dividir o seu dinheiro com a pessoa necessitada.

Por isso, devemos nos lembrar das três coisas que fazem parte da identidade cristã: Pessoas cristãs (1) se apoiam uns aos outros, (2) partem o pão e (3) praticam a espiritualidade e a oração. Sempre que a igreja gastou suas energias com a solidariedade, com o chamado ao cuidado com a Boa Criação de Deus e com o exercício do amor fraternal, ela conseguiu sobreviver as piores crises. Por isso, ouçamos também nós esse chamado que nos vem da Palavra de Deus hoje, reafirmando nossa fé em Jesus, sendo solidário com o sofrimento das pessoas e cuidando da Boa Criação de Deus.

 

Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus nosso Pai – que nos ama e nos cuida com amor de mãe, e a comunhão do Espírito Santo permaneçam no meio de nós. Amém.

Pastor Nilton Giese

Curitiba – Paraná, Brasilien

Giese1959@gmail.com

 

 

 

 

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