14º Domingo após Pentecostes

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14º Domingo após Pentecostes

14º Domingo após Pentecostes – 6/09/2020 | Texto da Prédica: Ezequiel 33.7-11, | Roger Marcel Wanke |

Leituras: Mateus 18.15-20 e Romanos 13.8-14

Nossa comunidade já faz parte da missão de Deus neste mundo? Introdução

Que a graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus, o Pai, e a comunhão do Espírito Santo sejam convosco. Amém!

Você já fez em algum momento de sua vida a pergunta: Que papel tem a torre da nossa igreja? Para que serve uma torre? Seria apenas para colocar o sino? O que isso simboliza? As torres das igrejas, desde a sua origem, apontam para o céu, para Deus. Torres simbolizam a essência e a tarefa da Igreja.

É interessante lembrarmos, que quando nossos antepassados chegaram ao Brasil, eles construíram edificações para os cultos, mas estas não podiam ter torres. Apenas após a Proclamação da República no Brasil, em 1889, foi autorizado às comunidades evangélicas luteranas a construção das torres e não apenas isso, foi também lhes dada autorização de existirem em nosso país como tal. Desde lá podemos ser, existir e atuar como Igreja Evangélica na missão de Deus no Brasil.

Na Bíblia, também encontramos torres. Elas não eram torres de igrejas, pois estas ainda não existiam. Mas toda cidade na época era murada e possuía torres espalhadas ao redor dos muros, como torres de vigia. Também em diversas plantações de vinha e de figos, havia torres, sobre as quais ficavam pessoas como vigias. Tanto as torres dos muros das cidades, quanto das plantações, tinham a função de proteção (Salmo 127). Os vigias, também chamados de sentinelas ou atalaias, eram responsáveis por vigiarem a cidade e as plantações, principalmente à noite, contra exércitos inimigos, ladrões, salteadores, ou animais que poderiam ameaçar e pôr em perigo todos habitantes da cidade. Sua principal tarefa, além de vigiar, era avisar os habitantes da cidade ou o dono da vinha de que o perigo estava se aproximando.

Na época era assim que, se o vigia ou atalaia visse o perigo se aproximando e não avisasse os habitantes da cidade ou o dono da vinha, ele era responsável pelos danos causados pelo exército inimigo, ou ladrões, ou animais, inclusive, se houvesse a morte de alguém. Mas se ele os avisasse e mesmo assim, as pessoas não lhe dessem ouvidos, o atalaia estaria livre desta culpa e condenação. Ou seja, era uma tarefa muito importante e séria, que colocava a própria vida do atalaia em jogo. Ser vigia e atalaia era uma tarefa de vida ou morte.

O texto previsto para a pregação deste domingo fala exatamente desta figura do atalaia e de sua tarefa. O atalaia foi uma imagem usada por Deus para descrever a tarefa do profeta Ezequiel, que atuou como profeta na Babilônia, no período mais crítico da história do Povo de Israel. Ela quer ser usada hoje, no texto da pregação, para nos ajudar a refletir não apenas sobre a nossa tarefa, mas também sobre a nossa identidade como igreja de Jesus Cristo neste mundo.

Qual é a identidade da Igreja de Jesus Cristo? Qual é, a partir deste texto, a tarefa que Deus nos deu como sua Igreja? Até onde vai a visão missionária de nossa comunidade? Ela vai além da sombra da torre da nossa comunidade? Que papel missionário tem a nossa igreja em nossa cidade? Estamos alertas, como atalaias, em favor da salvação das pessoas perdidas de nossa cidade?

Para nos ajudar a encontrarmos respostas a estas perguntas, queremos ler o texto do profeta Ezequiel 33.7-11. Destaco três aspectos importantes deste texto para nós como comunidade:

  1. Deus chamou a nossa comunidade para ouvir o que Ele tem a dizer às pessoas deste mundo

A Igreja de Jesus Cristo vive da Palavra de Deus. Esta Palavra é o seu tesouro mais precioso, como disse certa vez Lutero. Que impacto tem a Palavra de Deus em nossa vida? A Palavra de Deus sempre nos atinge como Lei e Evangelho. Lei que me acusa do meu pecado, que aponta para a minha real situação de perdição, que denuncia o meu afastamento de Deus (Gênesis 3.9) e a minha perversidade contra a pessoa próxima (Gênesis 4.10). Ao mesmo tempo, a Palavra de Deus me atinge como Palavra que me convida ao arrependimento, ao recomeço com Deus, que anuncia para mim a salvação de Deus, imerecida para mim, mas dada por graça e recebida pela fé. Tudo isso é parte fundamental da nossa confessionalidade luterana. Mas antes disso, faz parte da própria intencionalidade missionária de Deus, registrada desde as primeiras páginas da Bíblia. O impacto que a Palavra de Deus tem sobre as pessoas era parte da tarefa e do discurso dos profetas. Eles anunciaram o juízo e a graça de Deus, sem separá-los, sem relativizá-los, sem desprezá-los.

Deus chama o povo de Israel exatamente com esta função no mundo, anunciar a salvação. Desde Abraão e Sara, o povo foi chamado a ser bênção para todas as famílias da terra (Gênesis 12.1-9). A aliança de Deus com o povo de Israel tinha esta intencionalidade. Eles foram chamados a serem luz entre os povos, para serem reino de sacerdotes, nação santa em favor dos povos, em favor do mundo perdido (Êxodo 19.5-6; Deuteronômio 7.1-11). Essa intencionalidade de Deus para com o seu povo caracteriza a identidade do povo de Deus e a sua tarefa neste mundo. No Novo Testamento essas mesmas características determinam a identidade e a tarefa da sua comunidade, do novo povo de Deus, a Igreja (Mateus 5.13-16; 1 Pedro 2.9-10).

Proclamar o Evangelho, as virtudes daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz é a tarefa principal da igreja neste mundo. É a razão de sua existência. O evangelho é a mensagem bombástica, que impacta a nossa vida, a qual somos chamados e chamadas a anunciar neste mundo. O apóstolo Paulo vai dizer que o Evangelho é o poder de Deus (dinamite de Deus) para a salvação de toda pessoa que crê (Romanos 1.16-17).

A exortação de Paulo em Romanos 13.8-14, texto da segunda leitura bíblica, destaca o fato de não ficarmos devendo nada a ninguém, exceto o amor com o qual nos amamos uns aos outros. Isso só é possível quando entendemos o que Deus fez por nós em Jesus Cristo (Rm 1-11). O atalaia de Deus é aquele que experimentou o amor de Deus, no encontro pessoal com Deus (Rm 1), no arrependimento, na confissão do pecado (Rm 3), na experiência do perdão de Deus (Rm 6-7) e na mudança de vida (Rm 12.1-2), caracterizada pela conversão de seus maus caminhos, tornando-se discípulo e discípula de Jesus Cristo.

Nesse sentido, Deus chama Ezequiel e lhe dá a tarefa de ouvir a sua palavra. No seu chamado para ser atalaia, inclusive, Deus lhe dá a ordem de comer o rolo de sua Palavra (Ezequiel 3.3.1-3). Ezequiel, como atalaia receberá a palavra da boca do próprio Deus para avisar o seu povo (Ezequiel 3.16-27). Para anunciarmos o Evangelho, essa palavra precisa acontecer em nossa vida. Só anuncia o Evangelho quem ouve e vive do Evangelho, quem se alimenta do Evangelho, quem tem no Evangelho o sentido e a razão de sua vida. Quatro vezes aparece no texto da pregação a expressão “e tu”. Ela aponta para essa dimensão bem individual da responsabilidade missionária do atalaia. A salvação do perverso e a sua própria salvação estão sob sua responsabilidade.

A pregação de hoje quer nos levar como comunidade a refletir sobre a nossa identidade e tarefa missionária neste mundo. Mas isso inicia sempre com a reflexão pessoal, tua e minha. Por isso, mais uma vez eu faço a pergunta: Que impacto o Evangelho tem na sua vida?

  1. Deus chamou a nossa comunidade para advertir as pessoas diante do seu juízo

Estamos vivendo dias difíceis, causados pela pandemia do novo Corona-vírus (COVID-19). O mundo inteiro foi atingido. Muitas pessoas já foram infectadas. Embora o número de pessoas que foram curadas seja maior, lidamos diariamente com os números de pessoas mortas por esta enfermidade. A ciência tem corrido contra o tempo para descobrir uma vacina. Imagine a situação: Imagine que você, por alguma razão, tenha descoberto uma vacina eficaz contra a COVID-19. O que você faria com esta notícia? Pode-se dizer que há três opções: A primeira, extremamente egoísta, seria de não informar a ninguém e ficar com esta notícia só para você. Se caso você fosse infectado com esse vírus, você estaria a salvo, pois teria uma vacina só para você. Uma segunda possibilidade seria você vender a vacina e ficar milionário com o dinheiro que ganharia com o patenteamento da vacina. Você iria negociar com as grandes indústrias farmacêuticas, que infelizmente, regulam os preços de remédios e vacinas, causando desigualdade na distribuição de medicamentos, privilegiando apenas os que poderiam pagar por eles. Mas você estaria com sua consciência tranquila, pois pelo menos divulgou a existência da vacina. Porém, o que fazem com ela, você não se importa. A terceira possibilidade, é que você não fica com esta notícia só para si mesmo. Você até pode patentear a vacina, mas você se empenha e se preocupara para que a sua descoberta,possa ajudar milhares de pessoas a serem curadas deste vírus e a receberem o melhor tratamento possível. Pelo fato, de você ter descoberto a vacina e se importar com as pessoas, você faz de tudo para que todas as pessoas tenham o acesso. Afinal de contas, é uma questão de vida ou morte.

Por que lhes conto esse exemplo? É bem simples. A Bíblia diz categoricamente que todos pecaram e carecem da glória de Deus, que não há uma pessoa que seja justa na face da terra e que todas as pessoas caminham para a morte eterna, perdidas em seus pecados e delitos. E você, que conheceu o Evangelho de Jesus Cristo e que foi impactado pela Palavra de Deus, que descobriu a salvação por graça e fé em Jesus Cristo, você conhece a cura de algo que mata muito mais do que COVID-19 ou qualquer outra enfermidade. O Evangelho é a cura para a situação mais grave do ser humano, o seu pecado, o seu distanciamento de Deus e do próximo. O que você tem feito com esta boa notícia, com a boa nova do Evangelho de Deus em Jesus Cristo? O que nossa comunidade faz com esta notícia? Fica com ela para si, como se somente a igreja tivesse o direito de conhecê-la?

O profeta Ezequiel, recebeu de Deus a tarefa de ser o seu atalaia. Ele ouviu de Deus a notícia do seu juízo contra o povo de Judá. O juízo de Deus é certo, porque o povo não se converte, não volta o seu caminho na direção de Deus. Ezequiel precisa advertir o povo do juízo de Deus. Ele sabe o que isso significa. Mas Ezequiel também ouve de Deus, que o juízo não é a última palavra para o seu povo. Ezequiel ouve que Deus não tem prazer na morte do perverso, que neste caso aqui é também o povo de Judá. Em João 3.16, o famoso resumo do Evangelho, nós lemos: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira, que deu o seu Filho unigênito para que too o que nele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna”. Essa é a intenção missionária de Deus: alcançar o ser humano perdido, encarquilhado pelo seu pecado, destituído da glória de Deus. Deus chama Ezequiel para anunciar a possibilidade de vida e amor de Deus.

A tarefa da igreja neste mundo é anunciar o Evangelho. Esse Evangelho é tanto juízo de Deus quanto graça e misericórdia de Deus. Se o atalaia não avisar a cidade do perigo iminente, as pessoas vão viver como se o perigo não existisse, ou não chegasse contra elas. As pessoas seriam pegas de surpresa e morreriam, sem terem tido a chance de se preparar. Quando a Igreja não anuncia mais o juízo de Deus, as pessoas não têm mais a chance de ouvirem sobre a sua real situação. Elas vivem sua vida como se não houvesse nenhum perigo. Elas vivem de qualquer jeito, seguras em si mesmas, vivem como se Deus não existissem. Vivem como se não tivessem que prestar contas diante de Deus de sua vida. Sem o anúncio do juízo de Deus, a denúncia do pecado do ser humano, não há chance de arrependimento e mudança de vida, conversão dos caminhos. Sem o anúncio do juízo não há salvação, pois as pessoas hoje, em nossa época, não se sentem mais perdidas e carentes de salvação.

O Evangelho é anúncio contra os nossos caminhos. Ele é o convite de Deus para abandonarmos os nossos caminhos, a direção na qual caminhamos, para seguir os passos de Jesus Cristo, no discipulado, que tem como marca central a cruz, o sinal da morte e da vitória de Deus sobre o pecado. Não somos nós que convidados Deus para andar em nossos caminhos. Somos nós que, pelo Evangelho, somos convertidos dos nossos caminhos, para seguir a Jesus Cristo, o caminho, a verdade e a vida, sem o qual ninguém chegará a Deus (João 14.6).

Deus chama a nossa comunidade para anunciar o juízo de Deus, que caiu sobre Jesus Cristo e não sobre as pessoas. Deus mesmo assumiu, em Jesus Cristo, a culpa e o pecado da humanidade. Por isso, o anuncio do juízo nos leva para o anúncio da graça de Deus. Juízo de Deus nos deve levar ao reconhecimento do nosso pecado, da nossa situação de perdição e nos conduzir à misericórdia, à graça e à justiça de Deus, reveladas em Jesus Cristo.

Jesus Cristo mesmo foi o verdadeiro atalaia de Deus. Por isso, a tarefa do atalaia não é converter pessoas, mas adverti-las do juízo e anuncia-las a salvação. Elas devem saber que estão perdidas e devem ser avisadas da condenação e da necessidade do arrependimento. A intenção de Deus é claríssima! Deus quer a conversão do ser humano em sua direção. Por isso, é o próprio Deus que converte o ser humano para viver com ele e segui-lo em seus caminhos. O ser humano não consegue por seu próprio esforço se converter a Deus. Ele precisa ser convertido por Deus. Para seguir os passos de Jesus é necessário haver a conversão, a mudança de direção dos caminhos, a transformação de vida. Isso Deus faz. O que eu faço, o que nós como sua comunidade fazemos, é apenas anunciar às pessoas o que Deus fez na vida delas em Jesus Cristo e o que ele pode fazer na vida delas a partir de Jesus Cristo.

  1. Deus chamou a nossa comunidade para amar as pessoas perdidas e a conduzi-las para Deus

A torre das nossas igrejas apontam para Deus. Elas conduzem os nossos olhos para o céu, para a realidade de Deus, deste Deus, que não ficou preso no céu, mas que veio a este mundo em Jesus Cristo. Deus viu a nossa situação de miséria. Deus viu a aflição das pessoas neste mundo, ouviu do céu o seu clamor, conhece todo o sofrimento humano. Deus desce e vem ao encontro do ser humano. Deus se encarna em Jesus Cristo para livrar o ser humano de tudo aquilo que o aprisiona e o afasta dele, de si mesmo e das pessoas (Êxodo 3.7-9). Essa é a maior prova de amor de Deus pelo ser humano. Quem experimentou esse amor de Deus, revelado em Jesus Cristo, imerecido e incomensurável, recebe de Deus a dignidade de filhos e filhas amados de Deus, que agora, em resposta a esse amor, vão amar as pessoas ao seu redor, anunciando essa boa notícia e conduzindo essas pessoas, outrora perdidas, mas achadas e encontradas por Deus, para Deus. Portanto, nossas comunidades são as torres de vigia, você e eu somos os atalaias que advertem as pessoas do juízo de Deus e as convidamos ao arrependimento e as conduzimos para o colo amoroso de Deus.

Deus, porém, ama as pessoas como elas são, mas não as deixa como estão (Dietrich Bonhoeffer). Por isso, ele chama a nossa comunidade, aqui em nossa cidade, a acolher todas as pessoas para transformá-las, para convertê-las de seus maus caminhos e conduzi-las para uma vida plena e verdadeira não apenas lá no céu, mas já aqui e agora neste mundo. Jesus já assumiu o juízo do perverso sobre si. Mas se o perverso não se converter ao Senhor, a ira de Deus continua sendo real. Por isso, o ser humano deve ser perguntado por sua postura em relação a Deus. Ou ele está aos pés da cruz e diante de Deus, ou ele está em pé diante de si mesmo e distante de Deus.

Que compromissos queremos, como comunidade, assumir hoje em resposta a essa Palavra?

Na IECLB, estamos falando nos últimos anos sobre missão. Esse assunto nunca pode deixar de ser tratado, pois ele é o DNA da comunidade cristã. A igreja de Jesus Cristo deixa de ser Igreja, se não tiver a missão em sua essência. Como vimos, o texto de Ezequiel 33.7-11, previsto para a pregação do 14º Domingo após Pentecostes, tem um forte apelo missionário. E não poderia ser diferente. Deus não chama seus profetas, muito menos sua Igreja para permanecerem em sua zona de conforto. Deus chama a viver a missão que Ele mesmo nos concede. O Deus que amou o mundo e enviou Jesus Cristo para assumir o seu próprio juízo no lugar deste mundo, chama a sua igreja neste mundo, a nossa comunidade, para anunciar essa salvação! Pelo fato de Deus amar os perdidos, os perversos e querer a sua salvação, Ele chama a sua Igreja para anunciar o Evangelho, convidando as pessoas a se converterem de seus maus caminhos, a fim de segui-lo pela fé, em amor e para a esperança. A nossa comunidade já faz parte da missão de Deus neste mundo? O que estamos esperando? Talvez você agora esteja se perguntando: Como podemos fazer parte da missão de Deus em nossa cidade? Comece orando e pedindo para Deus lhe enviar pessoas, sejam do seu contato profissional, do seu círculo de amizade, ou familiares, as quais você pode convidar para o culto, as quais vocês pode ajudar em suas necessidades, em palavra e ação, ouvi-las em suas dores, encaminhá-las para acompanhamento pastoral. Seja atalaia de Deus em sua comunidade, em sua cidade, porque isso é uma questão de vida ou morte e você conhece o caminho que conduz à vida! Que o senhor abençoe. Amém!

 

P.Dr. Roger Marcel Wanke

São Bento do Sul – Santa Catarina, Brasilien

roger.wanke@flt.edu.br

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