5° Domingo após Pentecostes

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5° Domingo após Pentecostes

Prédica para o 5º Domingo após Pentecostes – 5 de julho de 2020 | Romanos 7.15-25a | Nilo Christmann |

 

Possivelmente em nenhum outro momento da história da humanidade tantas pessoas,  em tantos lugares diferentes,  falaram sobre doença e morte. Isso tudo tendo uma única causa: a presença da COVID-19 entre nós há cerca de seis ou sete meses. Entre as análises possíveis de serem feitas até aqui, uma é praticamente incontestável: os países que levaram o problema a sério desde o início e tomaram medidas, com base em planejamentos bem feitos, obtiveram êxito no controle da pandemia, preservando muitas vidas. Tal fato pode ser comprovado na Europa, na Ásia e na América. Mais: o êxito alcançado não está, em primeiro lugar, relacionado ao fato de o país ser mais rico ou mais pobre. O ponto chave está em levar o problema a sério.

No comentário ao capítulo 7 de Romanos, Lutero em determinado momento diz que os cristãos são como pessoas doentes sob os cuidados de um médico. Eles não estão curados. Estão, isto sim, em via de serem curados. E o Reformador faz o alerta: a presunção de já estarem sadios é extremamente prejudicial, pois uma recaída pode tornar tudo muito pior! A tentação é a pessoa cristã minimizar a gravidade do problema e achar que pode dar alta a si mesma.

Uma das discussões entre os estudiosos da Bíblia é se alguns textos deveriam ser considerados mais importantes do que os outros. A reflexão é pertinente porque pode ocorrer que Deus use justamente uma passagem que, aos nossos olhos, seja menos relevante para falar conosco em determinado momento. Contudo, não deveríamos deixar de reconhecer que alguns textos são verdadeiras preciosidades. Rm 7.15-25a certamente é um deles. O apóstolo Paulo aprofunda a luta interior da pessoa cristã quando se trata de cumprir a Lei de Deus, simplificadamente, os mandamentos e seus desdobramentos.

O que torna o texto tão precioso? Uma primeira razão é que Paulo foge do que hoje se consideraria correto numa pregação, ao escrever na primeira pessoa. Ele não emite um juízo sobre a comunidade que vai receber a carta, colocando-se de forma arrogante como sendo melhor do que os cristãos de Roma. Ao contrário, não tem receio de olhar para si mesmo e dizer: “nem eu mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto” (v. 15). Trata-se do começo do que poderíamos chamar de um exame de consciência, à luz do mandamento de Deus, mesmo que ele, Paulo, tenha tido uma experiência singular de conversão na estrada de Damasco.

A reflexão segue, constatando que não se trata de ser avesso e de não gostar dos mandamentos. Ao contrário, eles são, como diríamos, tudo de bom. Ocorre, porém, que dentro de nós trava-se uma luta entre aquela parte que quer sinceramente cumprir com a vontade de Deus e a outra parte de nós que pende para o pecado, que quer atender aquilo que é da natureza humana. Dessa luta interior resulta, nas palavras do apóstolo, uma genuína confissão: “não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço” (v. 19). Aparentemente, tudo se encaminha para um beco sem saída, assim formulado: “Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (v. 24).

Na forma como Paulo desenvolve o seu pensamento, não é difícil deduzir a realidade na qual o ser humano se encontra. Se ele quiser se agarrar aos mandamentos, na suposição de que pode cumpri-los, haverá de reconhecer, diante de uma análise sincera, que isso não é possível. Se quiser simplesmente se afastar de Deus, vivendo com se ele não existisse, ainda assim penderá para o mal. E, mesmo que seja pessoa batizada e confesse a Jesus Cristo, ainda assim não estará livre do pecado, pois a luta interior a acompanhará pela vida. Diante do dilema, o que o cristão pode dizer ou responder? “Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor” (v. 25a).

Pode não parecer, mas é muito precioso quando somos ajudados a analisar a nossa vida sem fazer uso de qualquer maquiagem e ilusão. Como já disse alguém, a desilusão conosco mesmos é o começo da fé. O que nos aproxima de Deus não é qualquer mérito que tenhamos para apresentar. Ninguém é melhor do que ninguém. A palavra bíblica permite que levemos a sérioa nossa condição humana de pecadores. Como já dizia Lutero, o pior caminho é o da presunção de que não precisamos mais de médico por já estarmos curados. No sentido inverso, à medida que temos a humildade de reconhecer a nossa fragilidade, somos envolvidos pela graça de Deus, nos sentimos agraciados e, por isso, agradecidos.

Qual o espaço que tal pregação encontra junto às pessoas do nosso tempo? Melhor não alimentar grandes ilusões. Vivemos numa época em que a satisfação das vontades e prazeres individuais se sobrepõe a quase tudo. A palavra bíblica é incômoda ao escancarar o resultado. Enquanto a pessoa olha apenas para si mesma em busca do que lhe convém, continuará andando em círculo, refém do mal que nela habita, refém da sua presunção e arrogância. Refém do pecado. É, contudo, um modo de vida, que torna o ser humano perigoso, não apenas para si mesmo, mas também para aqueles com quem convive ou que estão sob a sua responsabilidade. E aqui o exemplo de como lidar com COVID-19 é oportuno, pertinente e, mesmo, necessário. Levar o problema a sério e cuidar bem de si é também cuidar dos familiares, dos vizinhos, dos membros da comunidade, dos colegas de trabalho… No caso dos governantes, trata-se de cuidar dos cidadãos do seu município, estado ou país.

Somos convidados a olhar para os mandamentos e fazer deles o nosso espelho para reconhecer, assim como fez o apóstolo Paulo e assim como fez Lutero, que somos um potencial perigo neste mundo se apostamos as fichas em nós mesmos. Então podemos nos lançar nos braços de Deus e dizer com alegria: “Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor”. É do pertencer a Cristo e de ser agradecido a ele que vem o impulso que valoriza e que cuida da vida. E isso não é algo que a gente aprende de uma vez para sempre. É verdade preciosa a ser lembrada a cada novo dia. Afinal, enquanto estamos neste mundo, somos tão somente pacientes em via de serem curados! Que Deus nos afaste da tentação de querermos nos dar alta e nos presenteie sempre com a sua graça, revelada em Jesus Cristo.

Amém.

 

P. Nilo Orlando Christmann

Blumenau – Santa Catarina, Brasilien

niloch@uol.com.br

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