6º DOM. AP. PENTECOSTES

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PRÉDICA PARA O 6º DOMIGO APÓS PENTECOSTES | 4 de julho de 2021 | Texto da prédica: Ezequiel 2. 1-5;  3. 1-3 | Harald Malschitzky |

Irmãs e irmãos em Cristo.

O que é um profeta, uma profetisa? Qual o seu papel? Quem o institui? Apesar de nós ouvirmos reiteradamente a definição de profeta, continua muita viva a imagem popular de que profeta é o cara que prediz o futuro. Assim, por exemplo, se fala de “profeta do tempo” para designar o meteorologista.

A Bíblia menciona e conta de muitos profetas. E é interessante que um é diferente do outro, mas todos têm em comum falar em nome e a partir de Deus. Deus dá aos profetas o que dizer. Há uma outra semelhança: Os profetas olham a caminhada e vivência do povo de Deus no passado próximo ou distante, proclamam a vontade de Deus, tantas vezes exatamente contra a vontade e ação do povo, e anunciam o agir de Deus no futuro.

Ezequiel é um desses profetas. Ele foi deportado para a Babilônia com multidões de judeus em 597 A.C. Ele era filho de sacerdote e talvez até ele mesmo sacerdote, portanto pessoa intimamente ligado ao templo. Esse fato o colocou diante de um dilema, pois segundo sua tradição, Deus está vinculado ao templo.  E agora no exílio, onde está Deus? Essa pergunta está por detrás do Salmo 137 que conta da tristeza dos exilados e da saudade do templo de Jerusalém.   Ezequiel é chamado para proclamar a vontade de Deus em terra estranha ao seu povo sem acesso ao templo!

Ouçamos do livro de Ezequiel, o capítulo 2 e os três primeiros versículos do capítulo 3:

O profeta não é chamado para oferecer um consolo barato, para passar a mão na cabeça dos exilados, mas sim para dizer a eles que eles mesmos são corresponsáveis por sua situação, pois viveram como se Deus, preso ao templo, fosse apenas objeto de adoração em cultos e festas. O profeta, que por mais de uma vez é chamado de “filho do homem”,  com isso é lembrado que também ele é só gente, gente de sua gente e que até corre o risco de se aliar ao povo em seus descaminhos. “Tu, ó filho do homem, […] não te insurjas como a casa rebelde” (v. 6a). A coisa é tão séria que Deus dá de comer um rolo com as palavras que ele deverá dizer; ele come o rolo que lhe parece “doce como o mel”. Se lermos adiante veremos também que as palavras se tornaram amargas, duras de digerir e anunciar. A imagem  da visão do rolo descreve uma outra característica dos profetas: Eles estão envolvidos com a mensagem de Deus de corpo e alma e muitas vez sofrem por causa dela. O profeta Jeremias, por exemplo, numa oração, diz que não aguenta mais  e inclusive amaldiçoa o dia de seu nascimento(Jeremias 20. 7ss); o profeta Amós recebe a ordem de se mandar de onde estava pregando porque “a terra não pode sofrer todas as suas palavras” (Amós 7.10b). A palavra de Deus, por assim dizer, fica entranhada no profeta e determina a sua vida.

Se damos um passo seguinte para o Novo Testamento nos deparamos com João Batista  que atraiu multidões, mas foi preso (e decapitado) quando falou dos desmandos da grande família de Herodes, desmandos que prejudicavam a sociedade. E aí temos Jesus, que não só estava entranhado da palavra de Deus, mas era a própria palavra que se fizera carne  que veio habitar entre os seres humanos(João 1.14). Para muitos suas palavras eram intragáveis, pois iam contra as suas convicções que julgavam corretas.

A esta altura provavelmente já nos perguntamos se coisas assim valem até hoje, se existem profetas com a palavra “entranhada”. Sim. Cito,apenas para exemplificar, o bispo anglicano da África do Sul, Desmond Tutu, de grande vitalidade e língua afiada,  e um diplomata luterano sueco, não tão conhecido, Dag  Hammarskjöld, nascido em 1905, foi secretário geral da ONU de 1953 a 1961, quando o avião que o levava ao Congo em missão de paz foi derrubado. Seu lema e sua ação na ONU era em favor da paz, o que nem sempre agradava aos “senhores da guerra”. Depois de sua morte lhe foi concedido o Prêmio Nobel da Paz.  A razão de seu empenho pela paz até a morte  se reflete em uma de suas orações:

Ó Cristo, como é incrivelmente grande o que recebi e como é insignificante e pequeno o que tenho a sacrificar! Deste-me esta solidão da qual não posso evadir-me para que me fosse mais fácil entregar-te tudo? [Ele não era casado]. Que o teu nome seja santificado, e não o meu. Que o teu reino se estabeleça, e não o meu. Que a tua vontade se faça, e não a minha. Tu que estás acima de tudo, mas que és também um de nós, tu que estás também em nós, que todos possam ver-te em mim também!Possa eu preparar o teu caminho, possa eu agradecer-te por todos os dons, possa eu nunca esquecer as necessidades dos outros…Guarda-me em teu amor, assim como queres que todos sejam conservados em teu amor. – Alegra-te se Deus pôde servir-se de teus esforços para realizar a sua obra. Não eu, mas Deus em mim.

Essas pessoas – como tantas outras – sem dúvida fazem parte da “nuvem de testemunhas que nos rodeia” como o lemos na carta aos Hebreus. Elas são exemplo e desafio, mas antes de tudo temos o Cristo que assumiu o nosso lugar no juízo por nossos pecados, libertando-nos para a vida e a esperança e para vivermos uma vida para os outros. Não é preciso invejar os grandes profetas nem  é necessário desejar ser um profeta ou uma profetisa, talvez até para nos desculparmos: ‘Se não consigo ser tão “forte” prefiro ficar quieto no meu cantinho’. Pois é, não devemos esquecer que fomos batizados e que esse batismo estabelece uma relação especial com Deus e uma responsabilidade especial com meus semelhantes, pois o batismo é também envio que guarda alguma semelhança com o envio de profetas. Somos encarregados de constituir e ser comunidade, povo de Deus e enviados ao mundo não para tirar as pessoas do mundo,  mas para ajudar a tornar o mundo o mais semelhante possível ao projeto do próprio Deus, que tendo-o criado viu que tudo era bom!

Vivemos  uma realidade mundial não imaginada: Um pequeno vírus coloca de joelhos também as grandes potências, causa desordem, milhões de mortes, mais miséria… À revelia de toda a propaganda ufanista, o Brasil está entre os países com mais doenças e mortes tanto em proporção como em números absolutos. Mais de meio milhão de mortos muitas das quais poderiam ter sido evitadas não fossem posições contrárias à vacinação e ao cuidado e não fosse a ideologização dos insumos. O que podemos fazer, nós pequenas profetizas e pequenos profetas?

Vamos começar a tomar todos os cuidados necessários na rua, na  comunidade, onde estivermos.

Sejamos intransigentes  mesmo  que  e justamente por que o mau exemplo que o presidente da república dá semanalmente em suas bombásticas aparições é contrário à vida, assim como é contrário à vida a negação das vacinas. Tomemos todos os cuidados necessários e possíveis para bloquear o vírus. Ouçamos com atenção o que a ciência nos tem a dizer e ensina.

Procuremos, guiados pela palavra de Deus, detectar focos de desumanização ao nosso redor, onde pessoas passam miséria, fome e frio.

Não tenhamos medo de dizer que qualquer negócio lucrativo  feito às custas da vacina é contra Deus. Estão aí os lucros astronômicos  de fabricantes e “atravessadores”com os medicamentos para tratamento da pandemia. Estão aí países ricos que compraram muito mais doses de vacina do que própria população, enquanto países pobres ficam à espera.

Demos atenção  a pessoas idosas e desamparadas, ainda que a distância, mas também com o que necessitam para a sua sobrevivência.

Mas não é só a pandemia que causa problemas e morte. É também a produção de alimentos, visando em primeiro lugar o lucro. Nossas safras enormes são vendidas antecipadamente em câmbio internacional e quem aqui ganha em reais “paga em dólares” no supermercado. Quem sustenta grande parte da alimentação são os pequenos e médios agricultores! Como sanar este desequilíbrio?

Já ouço críticos dizendo que misturo política na prédica. Misturo sim, porque fome  e alimentação são assuntos políticos. Jesus não teve medo de tocar em assuntos assim: A passagem em Lucas 12. 13-21 dá uma pista!

Peçamos a Deus discernimento através de seu Espírito e energia para ajudar na construção de um país e um mundo que seja bom para todos os seres humanos.

Em lugar de um simples amém, cantemos o hino O Profeta (LCI 322).

P.em. Harald Malschitzky

São Leopoldo – Rio Grande do Sul (Brasilien)

harald.malschitzky@gmail.com

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