Marcos 1.29-39

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Marcos 1.29-39

PRÉDICA PARA O 5º DOMINGO APÓS A EPIFANIA | 04 de fevereiro de 2024 | Texto: Marcos 1.29-39 | João Artur Müller da Silva |

Estimadas irmãs e irmãos da comunidade de Jesus Cristo, nosso Senhor!

            A vida é dinâmica e o ritmo é acelerado nos dias de hoje! Não estou dizendo nenhuma novidade, mas apenas constatando de que a vida não pára no tempo! E por isso, assuntos e temas estão conectados com seu tempo. Existem, no entanto, temas que atravessam tempos e não perdem a sua atualidade, pois são norteadores para pessoas em todos os tempos, em todas as época e em todos os períodos que caracterizam a vida de pessoas, de grupos sociais e de países! Entre estes assuntos, podemos mencionar a paz, o amor, o respeito e a justiça! Sai ano e entra ano e estes assuntos estão nas rodas de conversa das autoridades, nos anseios das populações e nos sonhos de mulheres, homens, crianças e jovens que querem vislumbrar dias melhores para suas vidas!

            Outros assuntos emergem em certos momentos históricos e depois são substituídos ou esquecidos com o passar dos tempos. Entre os temas que se destacam nos tempos atuais está a questão da inclusão! Anos atrás este conceito, esta atitude e esta preocupação estavam, quem sabe, subjacentes na reflexão na sociedade e na Igreja. Hoje fala-se muito em inclusão social, inclusão digital, inclusão cultural, inclusão econômica, enfim, inclusão é um tema importante na busca por uma convivência social fraterna e acolhedora. Inclusão aponta para ações que precisam ser assumidas para integrar pessoas e grupos marginalizados tanto na sociedade, como na família, como na Igreja. E nestes grupos podemos mencionar pessoas com deficiência, pessoas negras, pessoas homossexuais, pessoas empobrecidas, enfim, pessoas que não são aceitas no convívio social, familiar e na igreja porque são consideradas cidadãs se segunda catergoria.

            Apenas para nos lembrar que o tema da inclusão está conectado com a Declaração Universal de Direitos Humanos, promulgada em 1948, e recentemente, em nosso país, com a Constituição Federal de 1988. Inclusão não é questão de concessão ou favor que se faz para pessoas à margem da sociedade ou da Igreja, mas inclusão tem a ver com leis para proteger os direitos e o bem-estar de grupos minoritários e que sofrem discriminação e violência gratuitas ao longo da sua vivência social.  Por isso, temos leis em nosso país para proteger crianças e adolescentes, para proteger pessoas idosas, para proteger mulheres e tantos outros grupos que fazem parte da sociedade, da família e da comunidade cristã.

            A nossa Igreja, IECLB, levou algum tempo para, por exemplo, adotar medidas concretas para facilitar o acesso aos templos, aos salões comunitários, às escolas evangélicas, de pessoas com deficiência, pessoas que se locomovem em cadeira de rodas, que caminham apoiadas em muletas ou bengalas… Enfim, hoje a IECLB tem inclusive uma oferta nacional para o trabalho com pessoas com deficiência. E também adotou uma semana em agosto de cada ano para chamar a atenção da necessidade de promover ações que incluam essas pessoas na convivência comunitária e escolar.

            O nosso tempo se difere em muito dos tempos em que Jesus peregrinou pela Galileia e por povoados onde proclamou seus ensinamentos. Mas também hoje, conforme definição do salmista no Salmo 23, nós continuamos a peregrinar “por um vale escuro como a morte” (v. 4). E o evangelista Marcos na passagem bíblica que ouvimos no início desta prédica retrata bem este vale por onde Jesus antou na companhia de seus discípulos e no encontro com pessoas que o buscavam para tratar de suas mazelas, de suas feridas e de suas enfermidades.

            De forma resumida, Jesus entrou na casa de Simão e André e restabeleceu a saúde da sogra de Simão. Mais adiante promoveu a cura de pessoas enfermas que lhe foram levadas e expeliu demônios que infernizavam e atormentavam a vida de algumas pessoas. E depois se retirou para orar e se preparar para sua missão nos povoados daquele tempo: anunciar o evangelho e promover o equilíbrio emocional (expulsar demônios) ou, em outras palavras, promover o bem-estar das pessoas!

            O evangelista Marcos nos apresenta neste relato sobre a atividade de Jesus o rosto de Deus! Quando Deus se revelou no menino Jesus, nascido de Maria e José, ele, o Todo-poderoso, como diz o povo, “deu as caras” para a humanidade, para as suas criaturas! Deus passou a ter um rosto humano! E talvez aqui reside o escândalo e a dificuldade de aceitar o jeito de ser de Deus com as pessoas doentes, possuídas por males, aflitas, desesperadas, desanimadas, atormentadas…

            Jesus revelou em seus gestos de curas, de milagres, de admoestações, o cuidado que Deus nutre por aquelas pessoas que carregam fardos, transtornos e dificuldades em suas vidas. O cuidado de Deus abrange todos os âmbitos da vida humana: o âmbito emocional, espiritual e corpotral! Deus nos cuida em todas as esferas/áreas da nossa vida! E assim, Jesus mostra o caminho para acolher as pessoas que se sentem excluídas, seja por qual motivo for, para se colocar ao lado da cama de pessoas que sofrem alguma enfermidade, para ir ao encontro de quem sofre perseguição (basta lembrar aqui o encontro de Jesus com a mulher considerada adúltera)…

            Por isso, Jesus atraiu sobre si a ira de fariseus, escribas e outros grupos que não entenderam a sua missão em levar cuidado e atenção para quem era de “menor valor” na sociedade judaica, como era o caso de crianças, mulheres e pessoas estrangeiras (aliás, lembrem-se das pessoas samaritanas que Jesus mencionava como exemplo de fé!). Nessas atitudes de Jesus está embutido o conceito de inclusão a que nos referimos no início desta reflexão! O Reino de Deus não se destina apenas às pessoas justas, com fé, com perfeição física, emocional e espiritual! No Reino de Deus há lugar para todas as pessoas, mesmo aquelas que nos incomodam por sua cor de pele, por seu jeito de ser, por sua situação econômica, por sua orientação sexual, por sua cultura diferente da nossa cultura!

            Inclusão faz parte da missão da nossa comunidade e da Igreja! Se queremos testemunhar Jesus Cristo como Senhor, então temos que ir ao encontro das pessoas que sofrem, das desprezadas, daquelas que têm dificuldades para andar e se relacionar, e lhes oferecer o nosso cuidado, o cuidado da nossa comunidade! Muitas são as ações e programas que uma comunidade cristã pode empreender para acolher, promover sanidade mental, para ajudar com cestas básicas, para ir ao encontro de pessoas que sofrem porque são rejeitadas, ignoradas ou até perseguidas.

            Quando Jesus entra na casa de Simão e André ele demonstra empatia, ou seja, ele não ignora a situação de enfermidade da sogra de Simão. E este seu gesto, sua atitude, cria um clima de acolhimento, de amizade e fraternidade na família de Simão e André! E quando a comunidade cristã estabelece um programa de visitação a pessoas doentes, este mesmo clima ajuda e estimula quem está enfermo e necessitando de ajuda, compreensão e carinho. Talvez, nós não nos damos conta do valor e da importância de um tal programa de visitação a pessoas enfermas, a lares para pessoas idosas, a lares para crianças abandonadas por suas famílias!

            Cabe ainda uma breve reflexão sobre a oração que também é mencionada nesta passagem bíblica de Marcos! Jesus sempre fez uso da oração como uma prática espiritual, uma prática de se conectar com seu Pai! Existem outros momentos na vida de Jesus onde ele recorreu à oração para seguir com sua missão! A oração não é um mero “blá-blá” com Deus, mas é um abrir-se para o divino, um momento de silenciar, e também desabafar e buscar alento, orientação, energia (tão em moda nos dias atuais!) e interceder por pessoas e situações da vida cotidiana! Quando abrimos mão da oração, perdemos o contato com Deus e corremos o risco de nos perder nos caminhos da vida! Nos tempos atuais, a oração à mesa, por exemplo, já não é mais praticada porque almoçamos com o celular ligado nas redes socais! A oração no fim do dia está em desuso porque ficamos até tarde da noite lendo ou assistindo a uma série na Netflix! Então, sobra outro momento em nossa vida para praticar a oração? A oração ainda faz sentido para nós que nos sentimos autossuficientes? A oração faz parte da espiritualidade cristã e merece ser reaprendida, revalorizada e retomada por todos nós, hoje, que estamos aqui para ouvir o ensinamento transmitido pelo evangelista Marcos.

            Na vivência cristã, missão e diaconia (entendida como serviço) andam de mãos dadas como nos ensinamento de Jesus lá atrás no passado. Anunciar o evangelho, anunciar a boa nova acontece junto com serviço cristão a pessoas enfermas, rejeitadas, empobrecidas, desempregadas, atormentadas…

            Programas de evangelização ou de missão não podem se restringir a palestras e seminários de formação. É preciso planejar e atuar em situações concretas no entorno da comunidade local! Quando isso se torna realidade e compromisso comunitário, então, sim, missão e diaconia estão sintonizados na mesma causa, seja ela qual for, pois o importante ao lado de palestras evangelísticas e seminários de formação, o agir e o atuar em situações concretas faz da comunidade uma semeadora do Reino de Deus!

            Então, neste Quinto Domingo após a Epifania, damos graças a Deus que ele revelou seu rosto acolhedor, inclusivo e cuidador no rosto de Jesus! E que nossa comunidade possa estampar em nossos serviços sociais, diaconais e missionários o rosto do nosso Deus, aquele que se revelou na criança deitada na manjedoura em Belém!

            Amém.

P. João Artur Müller da Silva

São Leopoldo – RS, (Brasilien)

E-mail: jocadasilva@hotmail.com

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