Marcos 1. 4-11

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Marcos 1. 4-11

PRÉDICA PARA O 1º DOMINGO APÓS EPIFANIA | 7 de janeiro de 2024 | Marcos 1. 4-11 | Harald Malschitzky |

Irmãs e irmãos em Cristo.

Água é um dos elementos essenciais e indispensáveis para a vida  não só dos seres humanos. A seca que no momento ainda grassa em boa parte do nosso país fala por si – a ausência da água significa morte!

Aprendemos nos primeiros anos de escola que dois terços do nosso planeta é água. Hora dessas também aprendemos que o nosso corpo é mais líquido do que matéria compacta. Aprendemos também que rios e mares são estradas que estão aí, que não precisam ser construídas. Quem sabe nos lembremos ainda que o Brasil é um país abençoado pela imensidão  de seus rios e a vastidão da costa marítima. Hoje se sabe que além dos rios nos seus leitos, há os grandes rios aéreos que vêm da Amazônia e distribuem chuva em outros lugares. A maior quantidade de mercadorias de toda espécie é transportada pelos rios líquidos em cima de navios descomunais.

Mas não podemos falar da água sem lembrar que já houve e há guerras por causa da água e seus mananciais. Grandes aquedutos foram construídos já na antiguidade. Colonos no presente e no passado buscam terras que tenham água própria para seus animais e para irrigação. Cidades buscam suas águas dos rios mais próximos.

No entanto, água também mata. Principalmente os estados do Sul de nosso país o experimentaram amargamente no último ano. Até hoje há pessoas, familiares desaparecidos, levados pela fúria  das águas…

E falar em água obriga também a lembrar que os seres humanos, criados à imagem de Deus, estão destruindo as águas com lixo, venenos, desmatamento irresponsável…

Com todos esses aspectos e propriedades da água não é de admirar que ela foi desde idos tempos e é usada até hoje em rituais religiosos ou profanos, rituais de purificação, de compromisso, de busca de alguma bênção (pular sete ondinhas no mar, p.ex.). No mundo de João Batista existiam ritos e rituais assim, por exemplo, entre os essênios. João Batista tinha características muito próprias de viver e de pregar; sua pregação apontava para aquele que viria e diante do qual ele mesmo era quase insignificante. Ainda assim, ele batizava para o arrependimento, através do lavar com água do rio, ele simbolizava de forma palpável uma mudança na vida dos batizados, sempre apontando para uma espécie de “provisoriedade” desse batismo, pois viria aquele que batizaria como Espírito Santo. Mesmo este, porém, aceitaria o batismo de João como sinal do começo de sua atuação. Esse rito às margens do Jordão, um rito quase tosco, se tornaria instrumento de revelação na voz do próprio Deus: “Tu és o meu filho amado que me dá muita alegria”. Jesus de Nazaré, o Cristo, marca o início da nova comunidade conhecida até hoje simplesmente como cristandade. Desde os pequenos núcleos iniciais de comunidade dois momentos estão presentes: O Batismo e a Santa Ceia; o Batismo como sinal da graça de Deus que gera arrependimento,  e porta de entrada na comunidade cristã. A Santa Ceia, por sua vez, é o momento de comunhão com Deus e com irmãs e irmãos na comunidade, que gera ânimo e fortalece os laços fraternos e solidários.

Desde o princípio houve também crises nas comunidades. Com o correr dos séculos e o crescimento – natural ou forçado – da igreja, lamentavelmente aconteceram rixas e divisões. Um dos elementos quase sempre presentes era o batismo, ainda que nem sempre tenha sido o motivo primeiro das divisões. As discussões giravam em torno do momento de ser batizado – crianças ou adultos – e o significado, ênfase na graça de Deus ou no arrependimento, na conversão. Também se discutia – e discute! – se a água deve ser corrente, se o batismo deve ser por imersão ou pode ser por aspersão. Com o passar do tempo mais e mais detalhes e costumes foram se somando e muitas vezes absolutizando posições.

Há mais ou menos cem anos começaram movimentos de pessoas cristãs que não se conformavam com as divisões. Houve muitíssimos encontros, diálogos pelo mundo afora. Muitas igrejas se juntariam a esses movimentos que, em 1948 (!) levaram à criação do Conselho Mundial de Igrejas. Não demorou e, a par de muitos diálogos doutrinários, se criou uma grande comissão para estudar três temas que estão interligados: BATISMO, EUCARISTIA, MINISTÉRIO. Depois de muitas idas e vindas se alcançou, ao menos entre as igrejas históricas, consenso sobre o batismo, o que significa que uns reconhecem o batismo dos outros; em outras palavras, se alguém mudar de igreja não há rebatismo, o que em passado ainda recente causou muitos dissabores e até divisões entre famílias.

Uma pergunta é o que restou do batismo primeiro no Jordão. Lutero, no Catecismo Menor, pode nos ajudar. Comecemos com a água: Essa por si só não é batismo, mas se transforma em batismo através da palavra. Isso significa, aliás, que a água do Jordão não é diferente do que qualquer água. Não devemos acreditar nos espertinhos que até vendem suposta água do Jordão. O que dá significado à água é a palavra! Esse batismo gera perdão e liberta de todos os poderes malignos através do Espírito Santo. O próprio Lutero, quando era atormentado e tentado em sua trajetória de reforma da Igreja, escrevia: BAPTISATUS SUM = Sou batizado! Isso tudo nos leva ao arrependimento e à penitência não só uma vez em determinado momento, mas ao arrependimento diário,  pois “a velha pessoa em nós deve ser afogada e morrer com todos os pecados e maus desejos”  para que “vivamos uma vida nova” (Lutero).

Em que consiste essa vida nova? Para muitos é só uma questão muito pessoal e intimista. Para Lutero a nova vida sempre foi nova vida no mundo, olhando o mundo, criação e criaturas, através dos  olhos de Deus e agindo para que todos tenham vida digna e para que o mundo seja cuidado e preservado. Sim, isso gera alguma dor de cabeça e discordância por parte de quem só se utiliza do batismo de forma utilitarista,  ou pior, só festiva.

Somos batizados, ganhamos novidade de vida para viver e partilhá-la para além dos muros paroquiais. Somos batizados para a vida. Aleluia!

P.em. Harald Malschitzky

São Leopoldo – Rio Grande do Sul (Brasilien)

harald.malschitzky@gmail.com

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