Mateus 6.1-6, 16-21

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Mateus 6.1-6, 16-21

Quarta-feira de Cinzas | 22/02/2023 | Mateus 6.1-6, 16-21 | Bianca Bartsch |

Prédica: Mateus 6.1-6, 16-21

Leitura: Joel 2.1-2, 12-17

Amados irmãos e amadas irmãs em Cristo,

cinzas (pode-se ter uma porção de cinzas em um recipiente, pegar um punhado a fim de expor para a comunidade). As cinzas nos comunicam que algo que era, já não existe mais. Grandes árvores, grandes construções e até mesmo pessoas podem se resumir a alguns punhados de cinzas. Cinzas não se parecem muito com glória, esplendor, mas bem mais com fim.

Hoje celebramos Quarta-feira de Cinzas. Em nosso país, depois de tanto colorido e excessos do período de Carnaval, voltamos nossos olhos ao cinza das cinzas, que marcam o fim desses dias, mas para a Igreja Cristã também o começo do período de Quaresma.

O texto do Evangelho nos convida a refletirmos sobre finais e começos. Convido a realizarmos a leitura de Mateus 6.1-6, 16-21.

Os primeiros ouvintes de Jesus, do trecho que lemos que integra o “Sermão do Monte” eram familiarizados com as práticas sobre as quais Jesus se refere. Esmola, oração e jejum eram as três formas com as quais os judeus expressavam seu amor e compromisso com Deus. Eram obrigações cultuais judaicas.

A prática da doação de esmolas era muito difundida entre os judeus. O doador era forçado a essa generosidade ao ter de fazer doações em público. Por estar sendo observado, o ofertante sentia-se medido enquanto pessoa religiosa, ou seja, na prática da sua justiça. Era hábito após o encontro na sinagoga as pessoas levantarem e anunciarem qual valor pretendiam ofertar. Se a doação era expressiva, o ofertante poderia sentar próximo ao rabino. O auxiliar da celebração na sinagoga tocava uma trombeta, com o propósito de chamar a atenção dos seres celestiais, porque havia acontecido um ato de beneficência especial.

A condenação de Jesus está justamente voltada para o espetáculo que se tornava a ação de misericórdia. “A mão esquerda não deve saber o que a direita faz”, ou seja, o impulso para a atitude deve ser o fruto do autêntico amor, ou seja, ofertar em benefício do próximo, não na expectativa do mérito próprio.

Também a oração deve estar no âmbito do que é privado. Entre os judeus, a prática da oração era semelhante à concessão de esmolas. Como havia horários determinados para a oração, era comum que a pessoa fizesse sua oração no meio da rua. Desse modo cumpriria pontualmente o horário da oração. Em tais circunstâncias, a oração era um murmúrio, ou ainda, recitada em voz alta, acompanhada de performance corporal.

Na mentalidade de muitos da época, as orações seriam um método mágico para merecer o céu. Pois acabava sendo o mais importante apenas cumprir a regra. Jesus condena veementemente a oração vazia, repleta apenas de vãs repetições, permeada de superstição. Por outro lado, Cristo não pensa de modo algum em interditar uma oração longa, fervorosa e confiante. Apesar disso, continua válido que a oração sem cessar é e permanecerá sendo o ofício da pessoa cristã. Pois orar não significa apenas dedicar de manhã e à noite alguns minutos à oração. Orar significa que a vida toda se tornou um diálogo com Deus. Quem vive nesse diálogo incessante não recebe sem refletir os acontecimentos de sua vida. A pessoa que ora recebe tudo de Deus e relaciona tudo com ele, o acontecimento maior e o menor.

Jesus ainda lança luz para a prática do jejum. Em seu tempo, os judeus observavam dois dias de jejum para todo o povo: o dia da expiação (Lv 16) e o 9º dia do mês abib. Também acontecia o decreto de jejuns coletivos em situações de calamidades. O mais severo era o jejum no dia da expiação. Nesse dia sequer era permitido lavar-se. Também se devia deixar de ungir o corpo. As pessoas se aspergiam com cinzas, andavam descalças e adotavam uma expressão facial triste. Normalmente o jejum durava do nascer ao pôr do sol. Alguns devotos espontaneamente se encarregavam de outros jejuns particulares. Esse jejum espontâneo era tido em altíssima consideração. Acreditava-se que, com o jejum se conquistaria junto de Deus um mérito especial. Por isso se jejuava também pelos pecados do povo, a fim de afastar do povo a ira de Deus. Muitas vezes essa atividade do jejum era feita para chamar a atenção, para concentrar sobre si os olhares das pessoas. Jesus afirma: Um jejum desses é hipocrisia, e por isso condenável! O jejum correto é um pensamento íntimo de arrependimento e um coração curvado diante de Deus.

As palavras de Jesus lançam luz ao que move nossas atitudes diante de Deus. Qualquer esforço por conquistar a salvação, seja cumprindo a Lei de Deus, ou até mesmo dedicando-se aos pobres, longas e repetidas orações, até mesmo se abstendo de algo é inútil e descartável, tal como as cinzas. A Lei só tem valor na medida em que nos mostra o que realmente somos e que não podemos cumpri-la. Por não poder cumprir a Lei, deveríamos ser descartados e jogados fora, tal como as cinzas. Porém a nossa esperança, está na fé em Jesus Cristo, é por meio da cruz que temos possibilidade de novo começo.

Enquanto não for Cristo o nosso mais precioso tesouro, nosso coração estará voltado para as mais variadas e equivocadas tentativas de redenção. A Quarta-feira de Cinzas vem nos convidar para percebermos nossa transitoriedade e nos darmos conta da própria morte. O tempo de Quaresma nos convida por meio da Palavra de Deus a refletir da inutilidade dos próprios esforços para a salvação. Um tempo para criar dentro em nós um espaço de liberdade para acolher o real significado da morte e da ressurreição de Jesus Cristo. A demonstrarmos por ações motivadas por um coração que confia na salvação que está em Jesus Cristo e não em si mesmo, os sinais do Reino de Deus e da Sua justiça.

Por quê e para quê você veio ao culto hoje? O que lhe motiva viver o tempo de quaresma? Que em Cristo, seja tempo do que precisa findar em ti morrer, para pela fé, renascer para nova vida. “Se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos.” (Rm 6.8) Amém.


Pastora Bianca Bartsch

Curitiba – Paraná – Brasil – IECLB

Bartsch_bianca@hotmail.com

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