Filipenses 2. 1-13

Filipenses 2. 1-13

PRÉDICA PARA O 18º DOMINGO APÓS PENTECOSTES | 1º de outubro de 2023 | Filipenses 2. 1-13 | Harald Malschitzky |

Irmãs e irmãos em Cristo.

Muitas pessoas se desculpam por não ir aos cultos, dizendo que as pessoas que lá se reúnem também não são melhores que as outras. E elas estão certas! Lutero, refletindo sobre a comunidade, disse certa vez que a comunidade é um grande hospital. Essa definição está mais próxima das palavras de Jesus quando ele disse que tinha vindo para salvar os pecadores, no sentido amplo, os doentes. Uma pergunta que nos devemos fazer é se nossas comunidades se assemelham a hospitais onde pessoas são tratadas por suas enfermidades! Muitas sim, sem dúvida, outras nem tanto… O apóstolo Paulo já viveu essa experiência nos primeiros passos do cristianismo. Havia comunidades receptivas, em busca de viver o evangelho e outras que, embora quisessem a mesma coisa, viviam com dificuldades e rixas internas. Vejamos o exemplo de Corinto, onde existiam “partidos” de Pedro, de Paulo e de Cristo com a consequente dificuldade de relacionamento. Aliás, Paulo até chegou a perder a paciência, dizendo que tinha vontade de entrar com chicote! Mas nem por isso a comunidade de Corinto deixou de ser um marco nos primórdios da igreja. Em outro lugar, Felipos, a comunidade florescia, tanto que a carta enviada a ela por Paulo  é considerada uma “carta de alegria”. Ouçamos a passagem dessa carta prevista para a nossa reflexão de hoje.

                        Filipenses 2. 1 – 11 [Fazer a leitura]

Por estarem unidos com Cristo, vocês são fortes e o amor dele os anima, e vocês participam do Espírito de Deus. E também são bondosos e misericordiosos uns com os outros (2.1). Continuando na linha de raciocínio de Lutero essa afirmação de Paulo nos diz que a comunidade tem pessoas que foram saradas. Sem dúvida, os filipenses eram gente como toda gente, mas na comunidade eles se deixaram sarar, estavam com Cristo, participando do Espírito de Deus. Esse estar em Cristo e participar do Espírito de Deus se manifestava diretamente no relacionamento entre as pessoas. Por isso o apelo do apóstolo é muito mais um conselho para que continuem assim, com um detalhe importante: Manter a humildade e cuidar também dos interesses dos outros. Para dar uma base firme ao que escreve, Paulo insere um cântico cristológico (v 6-11) que é magistral, pois descreve o filho de Deus e sua atitude humilde em favor dos seres humanos, da criação e da eternidade. Esse Cristo é o centro e o cerne da igreja e da fé cristã. Na medida em que compreendemos e amorizamos essa mensagem nós veremos o rumo que nós e a cristandade precisamos tomar na vida e para a vida. Igreja, comunidade, não pode e não deve ser espaço de ufanismo, de interesses particulares. A igreja não é nem de Pedro, nem de Paulo, nem de determinados grupos ou poderosos de qualquer estirpe.

Se nos espelhamos nessa passagem da carta e olhamos nossas comunidades talvez fiquemos inquietos e desapontados. Será que a comunidade-hospital não está dando conta do recado de proporcionar cura e saúde? Será que o nosso lado pecador é tão forte a ponto de não dar espaço ao espírito de Deus, ao amor incondicional de Cristo?

O Rio Grande do Sul, onde moro, passou por uma enchente e um desastre sem precedentes. No momento em que escrevo chove a cântaros. Ainda há pessoas desaparecidas e o número de mortos beira os 50. Milhares de moradias simplesmente foram destruídas ou levadas pela fúria das águas. Em meio ao caos e à destruição brotou uma outra dimensão: Uma solidariedade impressionante. Grupos de outras cidades vieram para ajudar, carros carregados e até caminhões de roupas e mantimentos chegaram e chegam com muita rapidez. Igrejas e salões não atingidos pela água são colocados à disposição. Chamadas nas redes sociais arrecadam dinheiro… Isso tudo vale também para a igreja luterana e suas comunidades. De norte a sul do Brasil foram feitas e estão sendo feitas campanhas para arrecadar recursos que são encaminhados às áreas atingidas.

Amo a minha igreja, amo o pastorado, mas por vezes a realidade de intrigas e incompreensões em comunidades que conheço ou de quem ouço falar me entristecem muito. No entanto, nessas semanas de grande sofrimento para milhares de pessoas eu tenho que dizer da minha alegria, da minha admiração, do meu respeito pelo que comunidades são capazes de realizar em bondade e misericórdia, dentro do Espírito de Deus, sem ufanismo, sem concorrência para ver quem é melhor, sem diferenças ideológicas que grassam por aí,  e confesso com Paulo: Sempre que eu penso em vocês, eu agradeço ao meu Deus (1.3).

Encerro com algumas palavras do apóstolo que já ouvimos,  com o desejo que elas nos inflamem, desafiem, balizem nosso viver e agir: (…) peço que me dêem a grande satisfação de viverem em harmonia, tendo o mesmo amor e sendo unidos em alma e mente. Não façam nada por interesse pessoal ou por desejos tolos de receber elogios, mas sejam humildes e considerem os outros superiores a vocês mesmos (2. 2-3). Peçamos que Deus nos conceda o seu Espírito para podermos seguir os passos do Cristo. Amém.

P.em. Harald Malschitzky

São Leopoldo – Rio Grande do Sul (Brasilien)

harald.malschitzky@gmail.com

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