Gênesis 50.15-21

Gênesis 50.15-21

PRÉDICA PARA O 16º DOMINGO APÓS PENTECOSTES | 17 DE SETEMBRO DE 2023 | Gênesis 50.15-21 | Breno Carlos Willrich |

A Graça de nosso Senhor, Jesus Cristo, o Amor de Deus Pai e a Comunhão do Espírito Santo sejam com todos e todas vocês. Amém

Gênesis 50.15-21

  1. “CASE SE SUCESSO”

O texto de pregação para esse domingo é o desfecho de uma das histórias mais bonitas e mais conhecidas da Bíblia. A história de José, que nos é narrada nos capítulos 37 a 50 do livro de Gênesis. Para utilizarmos um termo atual podemos chamar essa história de um “case de sucesso”. Ouçamos um relato, em primeira pessoa, dessa história.

Meu nome é José, sou filho de Jacó e Raquel. Quando tinha 17 anos eu morava em Canaã, na companhia de meus pais e meus 11 irmãos. Nesse tempo sofri muito bullying por parte de meus irmãos. Me chamavam de puxa-saco, fofoqueiro e queridinho do papai. E de fato eu era o filho preferido. Certo dia meu pai me presenteou uma linda túnica. Vocês precisavam ver o ódio dos meus irmãos quando me viram vestido com ela! O ódio aumentou ainda mais quando narrei a eles dois sonhos que havia tido.  No primeiro, sonhei que colhíamos o trigo e o meu feixe ficou de pé enquanto os feixes deles se inclinaram para o meu. No segundo, vi que o sol, a lua e onze estrelas se inclinavam para mim. Isso já foi demais para eles: “Achas que vais reinar sobre nós?!”, perguntaram com ira. Por isso tramaram um plano pra se verem livres de mim. Me jogaram em um poço e me venderam para mercenários que passavam por aquela região. Soube que disseram para meu pai que uma fera havia me devorado.

Enquanto meu pai chorava minha morte, os mercenários me venderam, como escravo, para um oficial do exército do Faraó do Egito. Trabalhei na casa dele e logo ganhei toda a confiança. Deus estava sempre comigo e por isso passei a cuidar de todos os negócios da família. Mas, a esposa de meu senhor se engraçou por mim e começou a me assediar. Como me neguei a ficar com ela, fui vítima de uma fake news. Ela disse que eu a assediei e tentei agarrá-la à força. Isso me levou para a prisão.

Mas também na prisão Deus estava comigo. Por isso conquistei a confiança dos carcereiros e o respeito dos outros presos e passei a coordenar tudo na prisão. Estavam presos comigo o padeiro e o copeiro do rei. Certo dia eles me narraram sonhos que haviam tido e eu os interpretei. Tudo aconteceu conforme previ, o padeiro foi executado e o copeiro voltou ao trabalho no palácio.

Dois anos se passaram e fui chamado, por recomendação do copeiro, à presença do rei. Queriam que eu interpretasse um sonho do rei que os sábios não sabiam o significado. Ele havia sonhado com sete vacas gordas e seta vacas magras na beira do Nilo. Neste sonho as vacas magras comiam as vacas gordas. Deus meu deu a entender que viriam sete anos de ótimas colheitas e sete anos de fome. Não fiquei só na interpretação, mas também sugeri ao rei que escolhesse uma pessoa inteligente e sábia para dirigir o país e pessoas que recolhessem a quinta parte dos grãos produzidos nos anos de vacas gordas para armazenar a fim de que pudessem sustentar o povo durante os anos de vacas magras. Sem pensar muito o rei olhou pra mim e disse: “Tu serás essa pessoa, pois o Espírito de Deus está contigo”. O rei me colocou como governador de todo o Egito. Só ele estava acima de mim. Também me entregou Asenade como esposa, com quem tive os filhos Manasses e Efraim. Durante os anos de fartura viajei por todo o país e armazenamos muito mantimento para os anos difíceis que viriam.

Quando chegaram os tempos difíceis abrimos os celeiros para vender alimento para o povo do Egito. Também gente de outros países vinham comprar os cereais que armazenamos.

A fome também chegou em Canaã, na terra de meu pai e meus irmãos. Meu pai Jacó, ouvindo que no Egito havia cereais, enviou dez de meus irmãos para cá.  Só Benjamim, meu irmão de pai e mãe, não veio. Logo os reconheci, mas não me revelei a eles. Fui duro com eles, coloquei-os contra a parede, tratei-os como espiões, quis saber tudo sobre sua família e exigi que, da próxima vez, trouxessem o irmão mais novo, Benjamim. Deve ter sido um diálogo bem difícil convencer meu pai de permitir que o filho mais moço os acompanhasse. Depois de um tempo me revelei a eles. Choramos muito e, a convite do rei, consegui que todo o meu povo viesse morar nas melhores terras do Egito. Ali cresceram como povo, e nada lhes faltava. Meu pai ainda viveu durante 70 anos nesse lugar.

Quando Jacó, meu pai, morreu, meus irmãos temeram. Imaginaram que agora eu iria aproveitar para me vingar por todo o mal que me fizeram em minha juventude. Primeiro eles mandaram recado dizendo que o pai, antes de morrer, havia pedido que eu os perdoasse. Depois vieram e se curvaram diante de mim rogando por perdão. Eu,  contrariando o temor de meus irmãos, lhes disse: Não tenham medo, eu não posso me colocar no lugar de Deus. É verdade que vocês planejaram aquela maldade contra mim, mas Deus mudou o mal em bem para fazer o que hoje estamos vendo, isso é, salvar a vida de muita gente. Não tenham medo. Eu cuidarei de vocês e de seus filhos.

  1. O sucesso de Deus.

Mas, de que sucesso fala essa história? Um jovem que sofreu bullyng, foi vítima de ódio, vendido aos mercenários, tornou-se escravo, vítima de mentiras foi preso, mas virou governante e viu seus malfeitores inclinarem-se perante si. Seria esse o sucesso da história? Não! O sucesso desse “case” está contido nas palavras “PARA SALVAR A VIDA DE MUITA GENTE”. Podemos dizer que o objetivo que toda pessoa e o fim de qualquer história deve ser a promoção da vida: vida digna, abundante e justa, bem-estar e salvação. De nada adianta ser vitorioso se não for para promover a vida. O poder que não visa o bem vira dominação. O dinheiro que não está a serviço vira escravidão. A vingança mata e o perdão vivifica.

Esse “case de sucesso”, porém não fala exatamente de José, mas de Deus. É ele que muda o mal em bem para que haja vida e salvação. Podemos chamar esse caso de PLANO DE SALVAÇÃO. Nessa história lemos como Deus vai escrevendo seu plano de salvação apesar do ódio que discrimina, machuca e anula; apesar da objetificação do ser humano; apesar das relações sociais que separam as pessoas em escravos e senhores. Trata do Deus que salva apesar dos poderes que oprimem, do dinheiro que explora e das catástrofes climáticas que promovem fome e morte. Deus vai escrevendo certo através das linhas tortas do mundo.

E, já que o assunto é o plano de salvação divino, podemos facilmente construir um paralelo da história de José com a salvação realizada em Jesus Cristo. Ao ouvir as palavras “PARA SALVAR A VIDA DE MUITA GENTE” ecoam em nossos ouvidos as palavras de Jesus “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” ou “Deus amou o mundo de tal maneira que Deus seu filho Unigênito, para que todo o que nele crer, tenha a vida eterna”. Em meio a pobreza da estrebaria, da perseguição de Herodes, da fuga para o Egito Deus se dá ao mundo. Caminhando pelas estradas empoeiradas, enfrentado tempestade no barco dos discípulos, curando os doentes, ouvindo os sem voz, ensinando por parábolas, Jesus entregou seu ensino de vida. Na incompreensão dos religiosos, na acusação dos poderosos, aos gritos de “crucifica-o”, e na rudeza da cruz Cristo salva a humanidade. E lá na cruz Jesus não esbraveja contra os responsáveis por sua morte, que somos nós, eu e vocês. Pelo contrário de lá ouvimos a voz que acalma nosso coração: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem.” Assim como José, Jesus não optou pela vingança, mas pelo perdão e reconciliação. Quando ressuscitado, Jesus reencontrou Pedro na praia. Poderia ser a hora da vingança pela negação na hora mais cruel. Tu o conheces… tu és um deles… tu andavas com ele… afirmavam as pessoas. Não, Não, Não. Por três vezes Pedro negou Jesus. Era a chance da vingança. Mas aí não seria Jesus. Pedro, tu me amas? Pedro, tu me amas? Pedro, tu me amas? perguntou Jesus. Sim, sim, tu sabes que te amo! Assim Jesus promove reconciliação e novidade de vida.

  1. Deus quer construir histórias de sucesso hoje.

Ainda hoje Deus continua escrevendo sua história da salvação. Não o faz por meio de pessoas especiais ou perfeitas. Não escolhe somente situações bonitas. Ele promove salvação através de cada um de nós, apesar de nossas imperfeições e pecados. A pregação de hoje nos convida a crer que Deus ainda trabalha. Se não crermos mais na possibilidade de o mal ser superado pelo bem, da morte ser superada pela vida e da vingança ser superada pelo perdão, viveremos uma história sem sentido.

Quem enxerga Deus trabalhando nas entrelinhas da história não se desespera diante das dificuldades. Quem entende que Jesus veio para todos se indigna com o mundo dividido. Quem agradece pelo perdão recebido não alimenta o ódio e não fica a espera pela oportunidade de vingança.

Creiam, Deus continua seu “case de sucesso” no mundo de hoje e conta conosco. Que Deus nos coloque a seu serviço, apesar dos pesares.

Amém

  1. Breno Carlos Willrich

 Blumenau – Santa Catarina (Brasilien)

pastorbreno@terra.com.br

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