Isaías 25. 1-9

Isaías 25. 1-9

PRÉDICA PARA O 20º DOMINGO APÓS PENTECOSTES | 15 de outubro de 2023 | Isaías 25. 1-9 | Kurt Rieck

Prezada comunidade!

            Hoje no Brasil comemora-se o Dia da Professora e do Professor e dia 12 lembramos o Dia das Crianças. De um lado quem ensina e de outro quem está aprendendo. Os ensinamentos dos profetas continuam nos fazendo pensar, nos fazendo alunos que gostam de aprender com a história.

            Nesse 20º Domingo após Pentecostes refletiremos sobre um texto que está inserido no conhecido “Apocalipse de Isaías”, composto dos capítulos 24 a 27 do livro de Isaías. Dando um salto na história, chegamos a 740 anos antes de Cristo, onde inicia a vocação do profeta Isaías, o profeta da fé, que em meio às crises, aponta para Deus, o único caminho de salvação. O capítulo 24 relata uma realidade tremendamente sinistra, decorrente do exílio babilônico. O juízo de Deus está posto. Reina o caos. No capítulo 25 de Isaías brota um hino de esperança do qual leremos os versículos 1 a 9.

            A riqueza literária está em reunir palavras que consigam expressar de forma criativa, profunda e poética pensamentos que têm a força de levar à reflexão, provocando novos caminhos entre os seus ouvintes.

            Os convido para olharmos o texto de três perspectivas.

1° Ponto de partida e chegada –  A confissão de fé. (v. 1 e 9)

2° Realidade – Convivemos com pessoas cruéis, violentas e tiranas. (v. 2 a 5)

3° Nova realidade. O banquete da esperança – O Apocalipse de Isaías (v. 6 a 8)

1° Ponto de partida e chegada –  A confissão de fé. (v. 1 e 9)

            O ponto de partida desse cântico é a confissão de fé. Iahweh, tu és o meu Deus. Elohim aparece acompanhado pelo nome pessoal de Deus, Javé. Na maioria das versões, Javé é traduzido por Senhor. A confissão é monoteísta. “Isaías é o profeta da fé e, nas graves crises que a nação atravessa, pede que confiem só em Deus: é a única oportunidade de salvação” (Bíblia de Jerusalém, p. 1.238).

            O contexto no qual viviam estava dominado por ancestrais tradições mesopotâmicas, acrescentadas de novos deuses e mitos. O povo de Deus encontrava-se contaminado por idolatria e injustiça. Por viver num ambiente cercado de muitos deuses, o profeta faz questão de objetivamente mencionar o nome de Deus, afirmando a fé monoteísta. O profeta precisa lembrar o que é essencial: reconhecimento da existência de Deus. Trata-se de um clamor para que todos olhem para Deus e reconheçam a existência do criador que é único.

            Isaías clama: meu Deus. Eis a sua confissão de fé. Ele não se utiliza da expressão “nosso deus”. É um canto de agradecimento individual, de exaltação e louvor a Deus.

           A história é cíclica. Os fatos acabam se repetindo de tempos em tempos.  Há um movimento de afastamento e de retorno às bases da fé.  O distanciamento de Deus gera uma sociedade doente, na qual se instaura o caos. Conselhos antigos, fiéis e verdadeiros seguem tendo o mesmo valor dos tempos de Isaías. Cada fase da história humana tem os seus “véus”. A secularização é um exemplo disso.

            Aqui estamos prestando culto. Aqui chegamos para adorar e louvar o Trino Deus. Trata-se de uma atitude, de uma postura. A presença em culto é um indicativo de desejar estar adorando e louvando a Deus de forma verdadeira. Podemos indagar: Deus está presente em nossas convicções?

            Tu és meu Deus! Em meio a tantos deuses, o nome de Deus precisa ser mencionado. Hoje brota de nossa confissão deixar muito claro que cremos no Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo e a síntese da nossa fé está claramente dita no Credo Apostólico.

2° Realidade – Convivemos com pessoas cruéis, violentas e tiranas. (v. 2 a 5)

            O povo de Israel, ao longo da sua história, sofreu nas mãos de diferentes impérios, mas também soube ser cruel com outros povos. Todos sofrem quando pessoas agem sem escrúpulos, com crueldade, violência e tirania. Em contraposição encontra-se o “protetor dos pobres, o defensor dos necessitados”. Essa tarefa segue sendo nossa. Nessa realidade existimos.

            Um aguaceiro (v.4), uma chuva torrencial pode ser extremamente desconfortável, especialmente na Palestina. O profeta utiliza uma rica estrutura de linguagem onde a “fúria dos tiranos” é comparada a “tempestade contra o muro” e com o “calor em lugar seco”. No último mês experimentamos em regiões brasileiras, uma bolha de calor, que atingiu mais de 40ºC. Também a força das águas se mostraram, aniquilando cidades do sul do Brasil. O agir da natureza se mostra em todos os continentes, mas quando esses fenômenos batem em nosso quintal, o impacto é outro. Sentimos na pele a fúria das águas. Ouvimos depoimentos de pessoas que se salvaram subindo no telhado da sua casa e de lá viram pessoas sendo levadas pelas águas.

            Exemplos de violência são cotidianas. Lembro de uma pessoa que cresceu no seio de nossa comunidade cristã, conheceu as bases da fé, no entanto matou mãe, esposa, sogra e filho e por fim suicidou-se, fato ocorrido em 27 de abril de 2022 na cidade de Porto Alegre. Como explicar um fato desses? Cada dia ouvimos relatos de pessoas mortas em decorrência do tráfico de drogas. Sem falar da guerra que está acontecendo na Ucrânia. Vemos prédios, quarteirões, bairros, cidades sendo feito ruínas. Milhares de pessoas são mortas. Milhões de pessoas em fuga, onde idosos, mães e crianças seguem para o exílio. E a guerra em Israel que acaba de iniciar e já custou centenas de vidas, também de brasileiros.

            Assim, com o calor extremos e a chuva torrencial é comparada a fúria dos tiranos. Essa é a triste realidade humana que somente é transformada quando as pessoas se voltam para aquele que tem o poder de salvar.

3° Nova realidade. O banquete da esperança – O Apocalipse de Isaías (v. 6 a 8)

            Vivemos a espera de um novo tempo. O banquete é algo comparável ao novo céu e nova terraanunciado pelo profeta João em Apocalipse 21.

            Eis o cardápio proposto pelo profeta Isaías: as melhores comidas, os vinhos mais finos, ausência da tristeza, sem motivos para chorar, onde a morte não mais existirá e o povo de Deus não mais passará vergonha.

            O maior banquete é aquele servido numa mesa onde há paz. Lá, um suco de uva se torna vinho fino. Lá, um feijão com arroz terá sabor inigualável. Haverá paz na família, na sociedade e entre as nações. Sinais desse estado de graça acontece já agora como prenúncio daquele banquete tão desejado. Olharemos para o nosso trabalho e o faremos com amor e gratidão, e havendo injustiça, buscaremos por justiça.

            O “véu” que separava, já não separa mais. O pano que cobre o entendimento da vontade de Deus deixará de existir. Nos evangelhos (Mt 27.51s., Mc 15.38, Lc 23.45) encontramos a alusão acerca do rompimento do véu do santuário em Jerusalém, no momento da morte de Jesus, testificando que irrompe um novo tempo. Definitivamente a morte será vencida. Em 2 Coríntios 3.16 lemos: Quando, porém, alguém se converte ao Senhor, o véu é tirado.  Tudo é obra do Espírito Santo, mas deve ser acolhido pela vontade voluntária das pessoas.

            Em meio ao caos surge uma voz de esperança. Apesar de existirmos num mundo cercado de trevas, a luz da esperança apocalíptica alimenta a nossa vida. Para esse banquete, onde o mal não terá lugar, todas as nações estão convidadas.

            O anfitrião no banquete real é Javé. A festa da alegria em Sião é uma oferta divina às nações. A refeição não é para Israel ou para a comunidade escatológica dos escolhidos, mas para todos os povos do mundo. Haverá carne e vinho de primeira qualidade. Essa festa começa já agora, onde o Trino Deus é adorado e reconhecido como Senhor. Pessoas, comunidades e povos experimentam novidade de vida, onde a esperança se torna presente. Aperitivos desse banquete querem ser feitos em nossas comunidades.

Considerações finais

           15 de outubro, dia do professor e da professora, data que celebra a importância da profissão de ensinar. Dirijo uma palavra de bênção a esses profissionais para dar as honras que lhe são devidas. No Brasil, esse dia está associado a Lei de 15 de outubro de 1827, assinada por D. Pedro I. Nesse documento ficou estabelecido que em todas as cidades do país seriam construídas escolas primárias de ensino elementar. Na época, elas eram chamadas de “Escolas de Primeiras Letras”. Mas somente em 1947 a data começou a ser comemorada no estado de São Paulo.

            Lembro de palavras ditas pelo professor Salomão Becker, líder na “Comissão Pró-oficialização do Dia do Professor” no estado de São Paulo: “Professor é profissão, educador é vocação”. “Em Educação, não avançar já é retroceder. ”

            No dia 27 de setembro de 2023 faleceu um grande professor que lecionou no período de 1974 a 1983 na Faculdade de Teologia de São Leopoldo, atual EST, auxiliando na formação de muitas pastoras e pastores da IECLB: Wilfrid Buchweitz. Uma pessoa que exalava amor, respeito, compreensão e empatia. Trazia consigo palavras sinceras envoltas de esperança, carinho e respeito. Sua querida esposa Ilse Schütz Buchweitz nos deixou dia 15 de setembro de 2023. Ele partiu apenas 12 dias depois. Ele morreu de amor. Nada mais oportuno do que citar as palavras de Isaías 25.8: “Tragará a morte, e, assim, o Senhor Deus enxugará as lágrimas de todos os rostos…”

            Meditamos a respeito de palavras escritas a tanto tempo e que segue tendo seu valor inquestionável. Assim recebemos conselhos antigos (v.1) que seguem valendo sempre. O ser humano continua sendo o mesmo. Em meio à descrença, afirmamos a nossa fé no Deus Criador. Num mundo repleto de tirania e conflitos, reafirmamos a necessidade de amar como Jesus amou. Ao celebrar o sacramento da Santa Ceia vislumbramos o novo céu e a nova terra que há de vir.

            Que o Trino Deus siga inspirando o caminho de todos nós. Amém.

P.em. Kurt Rieck

Porto Alegre – Rio Grande do Sul (Brasilien)

E-mail: kurtrieck@gmail.com

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