João 17.1-11

João 17.1-11

Prédica para o 7º Domingo após a Páscoa  | 21-5-2023  | João 17.1-11 | Gottfried Brakemeier |

Prezada comunidade!

O traidor está a caminho, no quartel dos romanos uma tropa de choque se prepara para proceder à prisão de Jesus, ele mesmo sabe que está chegada a hora de seu martírio, neste momento crucial Jesus levanta os olhos em oração a Deus. Ele intercede por seus discípulos. Mas ele não o faz sem um retrospecto à sua atividade. Ele inicia, é verdade, com a prece por sua glorificação. Que significa isto? Ora, Jesus pede a seu Pai celeste que lhe dê participação na natureza divina. Glória é característica de Deus. Nela está embutida singular autoridade. Portanto Jesus enfrenta a crucificação como alguém revestido de majestade divina. Assim o evangelista João descreve a história da paixão.

E, no entanto, o que prevalece nesta oração é a prestação de contas. E não há dúvida: Jesus atuou como Filho de seu Pai no céu. Ele manifestou o nome Deus, revelou a identidade desse do qual tudo provém, chamou para a fé. De sua atividade resultou uma comunidade. João fala em “seus que me deste”, ou seja, no grupo dos discípulos. Eles são testemunhas do que Jesus disse, obedecem a seu mandamento, passaram a ser “conhecedores” de Deus. Pois a maior tragédia do ser humano é o desconhecimento de Deus. Por isto é essencial escutar Jesus e contemplar sua obra. Jesus é o rosto de Deus. Cristãos são aqueles que creem em Jesus.

Por estes Jesus intercede junto a seu Pai. Enquanto ele se despede para voltar de onde ele veio, seus discípulos permanecem no mundo, sem a presença física de seu mestre. Verdade é que os discípulos não acabam como órfãos neste mundo. Jamais estarão realmente sozinhos. Em outra oportunidade Jesus prometeu de estar com eles até o fim dos tempos. Algo semelhante vale para o depoimento de João. Jesus se despede, sim, mas seus seguidores irão receber o Espírito Santo que os acompanhará até onde forem. Ainda assim, eles vão ter que conformar-se com o fato de já não poderem recorrer diretamente a Jesus. Eles vão sentir sua falta no dia a dia.

Pois é! Cristãos creem em Jesus Cristo. E, todavia, eles continuam vivendo imersos neste mundo, afundados em seus problemas, afetados por seus conflitos, confrontados com suas preocupações. Jesus não pede a seu Pai por uma vida fácil para seus discípulos. Cristãos não possuem nenhuma promessa de serem poupados das experiências às vezes amargas desta vida. Ele pede, isto sim, que eles não percam a fé e, assim podemos acrescentar, tenham força para resistir.

E, com efeito! No mundo costumam reinar poderes às vezes diabólicos. Há grupos, e mesmo povos, que disputam hegemonia, empregando para tanto a violência mesmo que isto signifique o sacrifício de vidas humanas. Sabemos de crimes hediondos. Somos testemunhas de horripilantes injustiças, de desajustes revoltantes, crueldades que nos assustam. Claro! Não devemos demonizar o “mundo”. Seria cegueira ignorar as belezas da natureza, esquecer os momentos felizes de nossa biografia, desconsiderar as boas dádivas que provém de Deus. Não sejamos ingratos. E não obstante, o mundo costuma confrontar-nos com realidades difíceis de aceitar. Se Deus é bondoso, como pode permitir tanto sofrimento?

Jesus, pede a seu pai que a comunidade permaneça fiel à fé. Ele quer impedir que seus discípulos se dobrem diante das duras realidades que questionam a bondade de Deus. Ele mesmo dá o exemplo. Vai enfrentar a morte na cruz. Toda sorte de maldade vai precipitar-se sobre ele. Pediu a seu pai que fizesse passar este cálice por ele. Mas logo acrescentou: Não, porém, como eu quero, mas como tu queres. Sim, como tu queres!! Deve ser essa também a prece da comunidade. O sofrimento é um exercício da fé, é o seu mais decidido teste, é a prova de sua autenticidade. Deus, dá-nos força para não fraquejar!

Para tanto importa a união dos membros. Jesus roga ao Pai que todos sejam um. É este o mais enfático imperativo ecumênico. Jesus não se conforma com que haja desunião em seu rebanho. Certamente unidade não impede diversidade. Jesus não nivela nem apaga individualidades. Toda comunhão é assim. Ela não só tolera diferenças, como também sabe usá-las para o proveito coletivo. O que destrói a unidade é a desavença, a briga, o ódio. Guarda-nos, senhor, de tais atitudes perversas. Ajuda-nos a unir em vez de dividir.

Em retrospecto constamos: Esta oração é um sinal extremamente forte da solidariedade de Jesus com a sua comunidade. Queira Deus cumprir as preces de seu Filho.

Amém

Gottfried Brakemeier

Nova Petrópolis, RS

brakemeier@terra.com.br

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